O Mundo Sombrio de Sabrina – 2ª temporada

A segunda temporada de O Mundo Sombrio de Sabrina finalmente entrega tudo o que esperávamos e atinge seu ápice na batalha contra o mal da misoginia.

Depois de uma primeira temporada morna, com potencial desperdiçado em um roteiro instável e um visual mal-acabado (além de um especial de Natal descartável), o novo ano entrega justamente tudo o que os trailers e a campanha de marketing vendiam antes: um material redondo, de enredo surpreendente, que vai a fundo nas questões em que toca e com um visual não só impecável, mas com qualidade flertando com o cinema.

Talvez o ótimo resultado se dê porque a história finalmente abraçou o lado sobrenatural. E toda a bizarrice que a academia de bruxas é capaz de fornecer. Junto de seus integrantes, deixa a “boa mocisse” para trás. Se antes tínhamos uma Sabrina dividida entre as duas espécies as quais pertence, agora temos uma Sabrina não só ciente de quem é, como decidida a mudar as doutrinas antiquadas da instituição que frequenta.

Sabrina

Primeira x Segunda temporada

Se antes tínhamos um namorico agridoce, agora temos uma pegação forte e caliente; o que também condiz com o amadurecimento de sua protagonista. Se tínhamos personagens desperdiçados num roteiro indeciso (e bastante inseguro), agora temos todas as figuras em tela sendo super bem aproveitadas. Um elenco jovem tão à vontade e bem em seus papéis, quanto o adulto.

Portanto, é muito satisfatório acompanhar o crescimento de Ambrose, principalmente quando ele passa a ingressar a academia; ver Prudence e suas questões de sangue e respeito, muito além de uma mera Irmã Estranha; ver Susie com sua natural, delicada e bem realizada passagem pra se assumir como Theo (e tudo o que implica isso, inclusive ao redor); ver como Zelda e Hilda deixam de ser apenas duas tias dicotômicas. Elas ganham mais camadas à medida que assumem as rédeas das situações sem pensar duas vezes; e ver o novo par que vai se formando entre Harvey e Rosalind, sem que isso vire um dramalhão. Porém, contudo, no entanto, é com Michelle Gomez e Kiernan Shipka que a série acerta em cheio.

Sabrina Spellman

Madame Satã, agora se assume como Lilith (figura da mitologia cristã, que particularmente eu adoro). Antes perdida em propósitos sem nexo, finalmente diz a que veio. Com fundamentos tão bem esclarecidos, que cada gesto e passo que dá, não só faz sentido no enredo, como é responsável por movimentar toda a história, do começo ao fim, com reviravoltas satisfatórias e decisões nada simplistas.

Sabrina

A atriz escocesa consegue ir muito além do que o papel pede. Ela fornece uma personagem cativante e poderosa em todos os sentidos. Suas intenções são claras, evidenciadas episódio a episódio. Mas o lado emocional da personagem torna o jogo menos preto no branco. Provando assim que ela só quer seu lugar de direito, relegado por milênios.

O Mundo Sombrio de Sabrina

Sabrina, por sua vez, após todas as naturais indecisões da passagem da puberdade que a definiram no final da temporada anterior, tem aqui uma postura mais decidida, impiedosa e menos “aborrecente rebelde”. Favorece então no carisma natural da atriz. Ela luta contra o sistema de dentro pra fora, com uma motivação convincente e sagaz, a protagonista faz o possível e o impossível para chegar aonde precisa. Erra e aprende pelo caminho, mas jamais desiste.

Ainda que a maior presença de Nick Scratch possa puxá-la para uma romance estranhamente idealizado (já que ele se vende como um rapaz “perfeito”, inclusive no sentido de respeito e igualdade), o personagem continua à margem e serve a outras finalidades na trama. Honestamente, me eram previsíveis (mas tem quem se surpreenda, né?).

Michelle Gomez e Kiernan Shipka
Michelle Gomez e Kiernan Shipka

Reviravoltas

Outro ponto interessante que se resolveu melhor nessa nova temporada, foi o Padre Blackwood. Este não perde tempo se expondo como o maior vilão da série até então, por tudo o que pretende, maquina e realiza. A falta de uma figura assim na primeira temporada também a enfraqueceu. Dessa vez, o grande inimigo é o machismo que ele prega e isso não poderia ser mais coerente em uma premissa envolvendo bruxas. É através de sua abominável figura, que toda a mitologia da produção é melhor trabalhada. Desde o conselho, até o anti-Papa, passando pelo mistério a respeito dos pais de Sabrina, das origens de Lúcifer e Lilith. Passa até mesmo pelos caçadores-anjo (responsáveis não só pelas cenas mais chocantes da série até aqui, como também pelo melhor episódio de todos, o sexto).

Momentos como o da leitora de tarô (com curtas que revelam terríveis possibilidades na encruzilhada das escolhas); o da caverna (com aquele terror raiz) e o da Sabrina se assumindo como uma versão invertida do Nazareno são fantásticos em qualquer sentido de dramaturgia bem realizada.

Sabrina

Considerações finais

Soma-se a isso uma direção de arte apurada, como era esperado desde o princípio. Com toda aquela fotografia saturada, ora escura, ora em penumbra, com os ângulos se entortando aqui e ali, e a lente desfocando ao redor (causando uma vertigem necessária). A série finalmente consegue estabelecer sua atmosfera creepy (onde o humor negro entra, mas mais sutilmente e não predominante como antes) e criar uma ambientação enormemente satisfatória. Elevando assim O Mundo Sombrio de Sabrina ao pódio do seriados sinistros teen.

Ainda que a reviravolta à lá Darth Vader tenha sido interessante, é fato que Lúcifer funciona melhor como um monstro do que como um ator genérico agindo como um bobo. Porém, o desfecho é ousado. Cria inúmeros ganchos para seus personagens ao destruir o confortável cenário estabelecido. Cria um novo contexto para todos e assim permite que a terceira temporada não só seja imprevisível, como também muito esperada.

O Mundo Sombrio de Sabrina - 2ª temporada

Nome Original: Chilling Adventures of Sabrina
Elenco: Kiernan Shipka, Ross Lynch, Lucy Davis, Chance Perdomo, Michelle Gomez
Gênero: Drama, Fantasia, Horror
Produtora: Archie Comics Publications, Warner Bros. Television
Disponível: Netflix

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