Santiago, Itália – Documentário de Nanni Moretti
Novo filme do aclamado diretor italiano Nanni Moretti, Santiago, Itália destaca o papel da embaixada italiana durante o golpe militar que derrubou o presidente Allende e instituiu uma violenta ditadura no Chile. Assim, muitos opositores buscaram abrigo e conseguiram asilo na Itália. O filme traz inúmeras cenas de arquivo e Nanni Moretti entrevista diversos personagens desta história, de todos os lados.
O longa foi o vencedor do prêmio Davi de Donatello na categoria Melhor Documentário. Além disso, rendeu a Moretti o prêmio Nastro d’Argento, concedido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas de Cinema Italianos. A estreia nos cinemas brasileiros está prevista para 20 de junho, com distribuição da Pandora Filmes.
Santiago, Itália
Com um estilo particular, o diretor relembra os anos pré-golpe, quando o Chile de Allende era próspero e contava com o apoio popular. Portanto, através de depoimentos de muitas personalidades que viveram à época, o filme retrata o fatídico 11 de setembro de 1973, quando Allende foi pressionado a renunciar. O Palácio de La Moneda – sede do governo chileno – estava sendo bombardeado pelas forças armadas nacionais. Então, o presidente é morto, e ainda hoje não está comprovado se foi suicídio ou assassinato.
Com a instauração da ditadura militar no país, sob o comando do general Augusto Pinochet, teve início o estado de exceção. Os opositores ao regime instaurado passaram assim a ser perseguidos pela polícia, presos e torturados. Neste momento, a embaixada da Itália na capital chilena teve papel importante ao acolher essas pessoas.
Um doc muito necessário
De forma um tanto quanto apressada, afinal são muitos entrevistados e pouco tempo de filme, assistimos aos depoimentos impressionantes daqueles que viveram os horrores de uma ditadura militar. Professores, jornalistas, cineastas, todos eles nos contam com detalhes tudo o que acontecia. Torturas, prisões, desaparecimentos, tudo isso era normal.
Piero De Masi e Roberto Toscano eram os embaixadores italianos em Santiago. Eles contam que começaram a receber pessoas aos poucos, mas que rapidamente já eram centenas de refugiados políticos morando na embaixada, muitos com suas famílias, inclusive crianças. “Não tínhamos mais controle, as pessoas pulavam o muro da embaixada para entrar”, lembra De Masi. Quando um incidente coloca a vida dos exilados e a reputação da embaixada em risco, os diplomatas percebem que chegou a hora de conceder asilo a essas famílias na Itália.
Assim como ainda ocorre hoje através do globo, cada ação dos militares era um golpe baixo para atingir aqueles que lutavam por igualdade, empregos e educação. Inclusive a mídia era direitista. Que coisa, não? Ao mesmo tempo que ficamos revoltados, conseguimos ter uma ponta de esperança na humanidade ao ver casos como este. A embaixada “abriu suas portas” (os cidadãos tinham que pular os muros escondidos pois havia vigilância militar ao redor) e conseguiu asilo a mais de 250 refugiados na Itália.
Vale a pena assistir
Santiago, Itália é um documentário crítico que dialoga com o espectador e seus entrevistados. Há um momento sensacional onde Moretti entrevista um militar preso da época que se diz uma vítima. Nanni muda de posição, fica em frente à câmera para dizer ao infeliz militar “Eu não sou imparcial”. Maravilhoso. Esse e outros momentos, como o da cineasta que conta suas torturas no Estádio Nacional do Chile, fazem valer a sessão.
A Folha de São Paulo fará no dia 18 de junho, terça-feira, às 20h, uma pré estreia deste documentário seguida de debate. A sessão ocorrerá no Petra Belas Artes, de forma gratuita, onde os ingressos serão distribuídos 1 hora antes. O debate será mediado por Daigo Oliva, editor do caderno Mundo do jornal, e contará com a presença de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e o advogado José Carlos Dias, conhecido por sua atuação em defesa de presos políticos durante a ditadura militar brasileira. Ou seja, um debate promissor, hein?
https://www.italia.org.br/l/santiago-italia-de-nanni-moretti-estreia-nos-cinemas-brasileiros-em-20-de-junho-mas/ Teve um cara que disse que a história é o colecionador do tempo. Todos são obviamente livres para dar a leitura que eles acreditam melhor, mas para reconstruir um período histórico específico, todos os fatos que o compõem devem ser contados.