Scooby-Doo – A adaptação mais fiel da turma
Amoral e alucinante, filme mistura comédia adolescente com suspense infantil
Antes do politicamente correto se assomar sobre as produções hollywoodianas, foi realizado este longa, que vinha sendo planejado desde 1994 e teve nomes como Jim Carrey, Mike Myers e Tim Curry associados ao projeto, antes dele ganhar a luz. Inicialmente pensado para um público PG-13, beijos lésbicos e usuários de crack, Scooby-Doo entrou com o pé direito no começo dos anos 2000 com uma abordagem mais família, mas não menos “errada”, para o bem da produção, filmada nos parques temáticos da Warner Bros. (nada mais justo, já que a história se passa em um parque também).
A Warner colocou Raja Gosnell na direção (figura acostumada a fazer diversas adaptações de animações para live-action com CGi tosco, de ”Smurfs” a ”Vovó…Zona” e ”Nunca Fui Beijada”, entre outros) e um novato James Gunn (de ”Guardiões da Galáxia” e o novo ”Esquadrão Suicida”) nos roteiros, algo que fica evidente por sua abordagem porra-louca e amoral, mas completamente fiel ao material-fonte.
Scooby-Doo
Veja bem, o quinteto protagonista é apresentado no começo do filme tal qual já estávamos acostumados a ver nas animações. Então, é quase como se fosse uma extração de algum episódio. Não só figurinos, como também comportamentos são fielmente replicados, o que contribui para imediata identificação.
E Gunn ainda acrescenta uma pimentinha aqui e ali para deixar a produção com uma característica própria, quase como se nos dissesse: “sim, esses são os personagens retirados diretamente dos desenhos, mas eles cresceram, como vocês, então temos aqui algumas piadinhas infames” (como a sensacional envolvendo Mary Jane, pela qual Salsicha se encanta – não me diga?!; dos closes sensuais nas coxas desnudas da mulherada; ou a cena da van, quando flagramos Salsicha e Scooby chapados; qualquer coisa envolvendo Scooby-Loo… entre outras).
Uma mistureba
Sendo fruto de seu tempo, Scooby-Doo mescla atmosferas de várias obras que o antecederam, como se emprestasse elementos de ”Ace Ventura”, ”Debi & Lóide” e juntasse com qualquer produção que envolvesse bichinhos fofos em 3D. Aliás, o CGi aqui é datado, mesmo para o ano de seu lançamento, ainda mais se comparado a outros filmes da época. Mas dado o escopo em que tudo é apresentado aqui, acaba funcionando no meio da tosquice.
Scobby, inclusive, parece ser o único ingênuo (como sempre foi) e que guarda o lado “mais infantil” do enredo, com suas trapalhadas bobocas para divertir a criançada, enquanto o quarteto humano é responsável pelo perfil mais torpe da trama, o que acaba criando um equilíbrio interessante nos resultados finais.
O elenco de Scooby-Doo
Matthew Lillard está perfeito como Salsicha em todos seus aspectos, enquanto que Linda Cardellini encanta e convence como a versão mais comedida e constrangida de Velma. Freddie Prinze Jr. repete os papéis que fazia no final dos anos 1990 de macho alfa escroto, o que vem a calhar na versão patética de seu Fred.
Sarah Michelle Gellar repete a parceria com Prinze Jr. (com quem contracenou em ”Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado”, de 1997), replicando também personagens passados, da patricinha burra em apuros, que depois se transforma numa versão da Buffy, nesse discurso acertado e adiantado de feminismo, muito antes do tema ser relevante no mercado (e as referências não param por aí, aproveite para rever e caçá-las durante a sessão). O elenco principal ser muito semelhante ao da animação é parte da graça, mas muitos outros rostos dão as caras por ali, como Rowan Atkinson, Pamela Anderson e uma novinha Isla Fisher.
Divertido, fiel e infame, Scooby-Doo é o tipo de adaptação que parece melhorar com o tempo. Mesmo que visualmente envelhecido, sua tosquice narrativa e cinismo escancarado se comunicam mais nos dias de hoje do de quando foi lançado e por isso mesmo é um “clássico” a ser revisitado.