Segredos Oficiais, inspirado em uma história real
Katharine Gun (Keira Knightley) é uma jovem mulher que trabalha como tradutora na Agência de Segurança Nacional. Um dia, ela esbarra em um documento americano que pede a ajuda do Reino Unido para convencer a ONU a “autorizar” a guerra no Iraque e resolve divulgar o material. O documento acaba na mão de um jornalista (Matt Smith), que o publica no jornal, causando um alvoroço no mundo todo. Segredos Oficiais é inspirado em uma história real.
As pessoas retratadas no filme de fato existem ou existiram, no entanto, é interessante perceber que o filme escolhe focar a sua atenção, pelo menos na primeira parte, em Katherine.
Segredos Oficiais e o protagonismo feminino
Katherine é uma mulher casada com um imigrante (Adam Bakri), que realiza seu trabalho de tradutora de maneira quase automática. Tudo muda quando ela esbarra no documento que pode, automaticamente, começar uma guerra.
Katherine, que é determinada, idealista e muito certa do que ela quer para o mundo, resolve que todos precisam saber o que está acontecendo de maneira escondida. É assim que ela passa o documento para uma amiga pacifista (MyAnna Buring).
A época atual parece propícia para que possamos ver na tela de cinema personagens como Katherine, que ironicamente, é uma mulher real. É verdade que o filme se desenvolve em outras frentes depois da segunda parte e começa a se focar mais no jornalista e na redação, mas Katherine ainda é o agente responsável para que a trama seja interessante o suficiente para virar um filme.
A guerra
Segredos Oficiais também tem um posicionamento claramente contrário à guerra. Katherine não é a única personagem que é contra a guerra do Iraque (embora ela diga no filme que algumas vezes, a guerra é sim necessária). O filme também apresenta ativistas a favor da paz e os próprios jornalistas que resolvem divulgar o documento também não estão satisfeitos com as decisões do governo. Mais do que isso, a população mundial parece extremamente infeliz com a guerra do Iraque.
É assim que Segredos Oficiais se faz um filme com tons políticos, embora em momento algum fale em voz alta qual é a sua verdadeira opinião. O filme nos dá pontos de vista para que possamos analisar por nós mesmos. O longa não é um filme de guerra, no aspecto mais clássico da palavra. No entanto, a guerra do Iraque é extremamente importante na sua trama e se ela não tivesse acontecido, não existiria filme.
Aspectos técnicos de Segredos Oficiais
O filme se estabelece mais ou menos como um suspense. Em muitos aspectos lembra um pouco alguns filmes noir mais modernos, especialmente quando mostra as cenas de Katherine pegando o documento incriminatório e a investigação que o jornal empenha para descobrir se aquilo é real. O filme é muito competente em instaurar um clima de suspense e tensão, que nos deixa mais ou menos na mesma situação que sua protagonista, com medo de divulgar o documento e ser pega e mais tarde, apavorada de que descubram que foi ela quem divulgou o documento.
Assim, a obra lembra muito alguns filmes de investigação reais, como Spotlight – Segredos Revelados, que também acompanha núcleos diferentes investigando casos de pedofilia na igreja e JFK – A Pergunta que Não quer Calar, que acompanha a investigação do assassinato de John F. Kennedy.
O filme também tem um grande elenco, que nem sempre tem espaço na tela, mas que entrega boas performances. Ralph Fiennes, Matt Smith, Matthew Goode, Rhys Ifans funcionam bem em seus papéis, embora apareçam pouco, mas é Keira Knightley, que rouba a cena do filme. Sua personagem é crível e é muito fácil simpatizar e sofrer por ela.
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O longa também tem uma atmosfera escura, que aumenta o clima de tensão, de segredos e mistérios. Portanto, a fotografia é bem escura, assim como os cenários, que mostram cidadezinhas escuras na Inglaterra. E os figurinos são sempre puxados para os tons pretos, cinzas e marrons.
Segredos Oficiais é um suspense que deixa a plateia tensa, mas mais importante que isso, fala de uma história real, que precisa e merece ser contada e conhecida. O filme está na programação da Mostra e entra em cartaz no dia 31 de outubro.