Seguindo Todos os Protocolos
Sexo seguro na pandemia
Francisco (Fábio Leal) está isolado desde o começo da pandemia, mas depois de dez meses ele quer um encontro sexual e vai fazer de tudo para que o sexo aconteça de maneira segura. Dessa forma, é seguro dizer que a Covid-19 é o grande tema de Seguindo Todos os Protocolos, já que é a doença que desencadeia tudo que se segue na vida de Fábio.
Quando o filme começa, o protagonista já está em quarentena e o filme não se preocupa em explicar por que, o que claro, não se faz necessário, afinal, é tudo muito recente. Mas mais do que isso, Francisco é neurótico, ele não sai de casa de maneira nenhuma e também critica os conhecidos que estão saindo. O longa, no entanto, não julga Francisco, ele só apresenta o personagem e a maneira como ele reage à pandemia.
Enquanto isso, Francisco passa por vários períodos de humor, primeiro ele se distrai assistindo filmes, fazendo ginástica, mudando o cabelo e pesquisando sobre o Covid-19. Somos colocados de frente a momentos envolvendo Atila Iamarino e Natália Pasternak que já conhecemos de cor. Mais tarde, o desejo fala mais alto e Francisco passa a pensar em sexo 24 horas por dia, ele assiste pornografia na internet e até as instruções de suas aulas de Yoga soam como propostas sexuais.
Francisco ainda passa por outra fase, a de depressão, onde ele recorre a um antidepressivo e resolve que não quer mais ouvir falar de política ou do que mais aconteceu no mundo que não envolva uma vacina que possa tirá-lo dessa situação. O caminho é conhecido, uma vez que todas as pessoas que vão assistir ao filme, pelo menos atualmente, viveram a pandemia de Covid-19 e podem se reconhecer com algumas das reações de Francisco.
Problematização na internet
Outro assunto que Seguindo Todos os Protocolos traz à tona é a problematização na internet, já que a pandemia obrigou todo mundo a se comunicar e praticamente viver através das telas de computador e celular, uma questão que já era grande e se tornou ainda maior.
Durante o filme, Francisco se envolve em várias discussões, todas elas tomam caminhos até surreais, porque as duas pessoas envolvidas na briga trazem à tona questões que muitas vezes não dizem respeito ao que está sendo comentado. Não que as questões que são citadas não mereçam ser discutidas, é que o filme exagera tudo, como acontece na internet, como uma espécie de análise para os dias de hoje e mais ainda, para os momentos de pandemia, onde grande parte das pessoas estava em casa, sendo guiada apenas pela internet e pelo que outras pessoas postavam em suas próprias redes sociais.
Embora o sexo e a falta dele seja uma das grandes motivações de Francisco, que depois de dez meses resolve chamar dois homens no seu apartamento para que eles façam sexo completamente dentro dos protocolos de segurança – nem sempre muito bem-sucedido -, o filme é mais um retrato do período mais duro da pandemia e do isolamento, com todas as suas questões.
Aspectos técnicos de Seguindo Todos os Protocolos
Este é um filme que se passa quase que totalmente em um cenário, o apartamento de Francisco, embora em alguns momentos tenhamos alguns vislumbres das ruas. O elenco também é pequeno, sendo é composto basicamente por Fábio Leal e pelos rapazes com quem ele se encontra.
Acompanhamos muito da história de Francisco através de telas, como aconteceu na pandemia de Covid-19, seja nos filmes que ele assiste na televisão, nos vídeos que assiste no computador ou nas conversas que ele tem no Zoom. O longa também é bem natural, seus diálogos são naturais e suas cenas de sexo também, tudo é bem realista. Nesse sentido, muito se deve ao elenco, que faz com que esses diálogos funcionem.
O filme é bem explícito em relação ao sexo e a nudez, afinal, esse é um dos temas do longa, mas não é apelativo, primeiro porque tudo é mostrado de maneira bem natural, segundo porque as cenas são bonitas e diferentes, já que assistimos esses personagens fazendo sexo de máscara e tentando conciliar o desejo com a segurança.
Seguindo Todos os Protocolos é ainda um filme muito próximo de nós, que vivemos a pandemia e que podemos nos reconhecer em muito do que Francisco vive e sente, e consegue recriar a sensação de viver entre medo, expectativa, ansiedade e desejo de maneira bem verdadeira. O filme chega aos cinemas no dia 30 de junho.