Sem Amor

Boris (Alexey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak) estão se divorciando. Depois de anos juntos, os dois se preparam para suas novas vidas: ele com sua nova namorada, que está grávida, e ela com seu parceiro rico. Com tantas preocupações eles acabam não dando atenção ao filho Alyosha (Matvey Novikov), que acaba desaparecendo misteriosamente.

Nem Zhenya, que é uma mulher fútil e que parece mais preocupada com as redes sociais do que qualquer outra coisa, nem Boris, que além de estar ocupado com a nova namorada, só se preocupa com o trabalho querem a guarda de Alyosha e nenhum dos dois consegue perceber que o menino está extremamente solitário, triste e assustado. Até o dia que Alyosha desaparece sem deixar qualquer vestígio.

Essa é a premissa de Sem Amor, filme Russo, indicado ao Oscar de Melhor filme estrangeiro.

O roteiro acompanha uma situação corriqueira: um casamento, onde os participantes, outrora felizes, não conseguem encontrar no parceiro o que antes eles amavam. No meio disso, está uma criança de 12 anos, que é tímida e que aparentemente, não é amada. Se por um lado, um divorcio não é uma novidade no cinema, por outro, a maneira como os pais deliberadamente falam que não querem ficar com o menino é diferente e também, absolutamente assustador, principalmente quando o telespectador percebe que Alyosha sabe que os pais não o querem mais, e se coloca no lugar dele.

O longa retrata personagens extremamente egoístas e também contraditórios, já que tanto Zhenya, que aceita sem qualquer problemas a filha de seu atual namorado, quanto Boris, que inclusive parece feliz com a possibilidade de ter mais um filho, mas nenhum dos dois parece nutrir nem uma pequena afeição pelo filho que tem juntos. O único personagem que parece ter sentimentos é Alyosha. Ao longo do filme, vamos conhecendo melhor os pais e percebendo que eles são mais profundos do que o que vimos no começo e isso também nós da a chance de ver o lado de cada personagem.

O filme também fala de hipocrisia, os pais estão tão preocupados em parecerem certos nos seus empregos, entre os amigos e nas redes sociais, mas não se importam tanto assim em de fato serem corretos.

A atuação de Matvey Novikov, que interpreta Alyosha, é incrível e de partir o coração.

Em poucas cenas, ele é capaz de fazer o telespectador não só gostar e se compadecer dele, mas também ficar preso na história até o final.

Outra coisa que chama bastante atenção no filme são os planos, que são completamente diferentes do que estamos acostumados. Em uma das cenas especificamente, a câmera acompanha Zhenya e Boris do banco de trás do carro, quando os dois descem, a câmera continua aonde está, filmando os dois do mesmo lugar e nós passamos a vê-los de longe.

A fotografia do filme é composta de paisagens geladas, mas vários frames chamam a atenção: A primeira cena do filme mostra uma árvore, retorcida e com uma fenda embaixo, essa árvore vai aparecer depois, dessa vez com uma facha de impedimento usada e que foi parar bem na fenda, em outra cena, vemos a chuva que cai, mas através de algum filtro, o céu todo parece vermelho.

O filme é um pouco longo (em torno de duas horas), e isso pode ficar um pouco cansativo, especialmente para quem está acostumado com os cortes rápidos do cinema Americano, mas a duração do filme deixa o telespectador cada vez mais vidrado e mais aflito com a história e nós dá a mesma sensação que os personagens do filme estão sentindo, como se nós também estivéssemos participando do filme.

Com um roteiro primoroso e personagens complexos e interessantes, Sem Amor pode ser um dos melhores filmes que estão na corrida para o Oscar nesse ano.