Isabel (Marina Ruy Barbosa) acabou de sair de um bar, aonde estava com amigos, quando esbarra em Matheus (Sidney Santiago) no caminho para seu carro. O que parece um encontro ao acaso, se mostra um acontecimento quase planejado. Já que Matheus segura Isabel e a obriga a entrar no seu carro. Logo Japonês (Daniel Rocha) aparece e os dois anunciam que aquilo é um sequestro relâmpago. Eles levam Isabel para sacar dinheiro em um caixa eletrônico. Só que o caixa está quebrado. Como já são 22h, Matheus e Japonês resolvem ficar com Isabel como refém até o dia seguinte. Assim os caixas eletrônicos estarão abertos.

Sequestro Relâmpago retrata uma situação extremamente realista e cada vez mais comum. Tanto que o filme é inspirado em uma história de sequestro real.

Desigualdade social

Para além disso, o filme faz uma crítica social maior do que a crítica a violência. Logo no começo, acompanhamos Isabel presa no trânsito, no seu próprio carro, enquanto Matheus espera o trem, que chega lotado.

Já em outra cena, Isabel diz que ela e os sequestradores são humanos, portanto, todos iguais. Mas Matheus deixa claro que Isabel não só fez faculdade, como tem carro, e já fez viagens internacionais. Enquanto ele não tem dinheiro nem para comprar coisas básicas para a casa.

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No entanto, o filme não justifica, nem naturaliza o sequestro. Para Matheus, no começo, o sequestro de Isabel é uma necessidade. Tanto que a primeira coisa que ele faz, quando eles encontram o caixa eletrônico quebrado, é passar na farmácia e comprar dois pacotes de fralda para a filha. Já para Japonês, o sequestro é mais que isso. Ele quer dinheiro também, mas ele também quer se divertir. Enquanto Matheus está focado em conseguir o máximo possível de dinheiro, Japonês está pensando em possivelmente abusar de Isabel. Esses papéis se invertem durante o filme. Inclusive o papel de Isabel, que começa como uma patricinha assustada, mas que se mostra disposta a tudo para sobreviver, ou talvez por adrenalina.

A humilhação é uma constante durante o filme. Isabel se sente humilhada pela violência que sofreu e pelas coisas que ela tem que aguentar durante a noite. Enquanto Matheus e Japonês se sentem constantemente humilhados pela sociedade. No momento do sequestro, Isabel é a representação da sociedade. Esta que sempre desconfia deles e que não oferece oportunidade de crescimento. O sequestro acontece devido à necessidade de dinheiro dos dois, mas acaba representando a necessidade de poder, sobre a própria vida e o próprio destino, que eles gostariam de ter.

Sequestro Relâmpago toca em outros pontos, como o racismo, uma vez que Matheus, que é negro, é olhado com suspeita todas as vezes que sai do carro. O que não acontece com Isabel ou Japonês. E também o  machismo, já que em certo momento do filme, Isabel consegue falar com um policial sobre o sequestro, mas ele acredita em Matheus, quando ele diz que Isabel é sua namorada e que ela está bêbada. O filme também questiona o quanto podemos confiar nas autoridades, uma vez que o grupo se encontra com a polícia em diversas ocasiões e nenhum deles é capaz de libertar Isabel. A maioria deles, nem desconfia que tem algo errado acontecendo.

Aspectos técnicos de Sequestro Relâmpago

O longa segue a linha de que nada é ruim o suficiente que não possa piorar. Então, ele começa com uma situação terrível que é o sequestro de Isabel, mas isso se desenvolve em uma escalada onde cada vez mais dificuldades vão aparecendo. Tanto para os sequestradores, quanto para Isabel, de modo que os três protagonistas vão reagindo e cada vez ficando mais presos uns aos outros. A sensação de tensão é enorme, o espectador passa o filme inteiro na expectativa do que vai acontecer com Isabel e se ela vai conseguir escapar.

Sequestro Relâmpago se passa durante apenas algumas horas e tem basicamente três personagens, que conseguem segurar o filme até o final.

O elenco está muito bem, em especial os três protagonistas, que passam mais tempo em cena e cujas personalidades mudam com o tempo. As atuações são muito críveis e é muito simples entrar na história. Principalmente porque é muito fácil se ver na situação que o filme retrata.

Usando uma situação real, Sequestro Relâmpago fala de desigualdade social, racismo e machismo. O filme estréia no dia 22 de novembro, mas faz parte da programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema.