Spirou: A Mulher Leopardo, de Olivier Schwartz e Yann

A criação de Rob-Vel já passou pelas mãos de inúmeros autores e artistas desde sua criação em 1938 e nessa minha primeira empreitada no universo de Spirou e Fantasio, escolhi dois álbuns que se relacionam, a começar por este “A Mulher Leopardo“, que pode ser lido de maneira independente, com uma aventura deliciosa e singular. Pode sim atingir o mesmo público de Tintim, ainda que sejam materiais com suas próprias particularidades. Além do tom aventuresco, ambos tem em comum o fato de serem quadrinhos franco-belgas.

O artista Schwartz e o roteirista Yann chegaram nesse universo trabalhando histórias mais fechadas e fora da cronologia. Isso favorece a entrada de leitores de primeira viagem, como eu. A trama situa o leitor no pós-Segunda Guerra, em Bruxelas, com um Spirou decadente e alcoólatra, se deparando com uma mulher leopardo no quarto de um dos hóspedes do hotel em que trabalha.

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Depois disso, uma série de desventuras o faz trazer seu amigo Fantasio pro meio da confusão. Assim como outras figuras, todas bastante carismáticas, diga-se de passagem. Uma história que sabe dosar eventos históricos com uma matinê repleta de mistério e situações inesperadas. Envolve ainda criaturas inumanas, homens do governo e do exército e até um personagem assomando sobre todos por trás, que vai provavelmente repercutir no álbum seguinte: “O Mestre das Hóstias Negras“.

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Yann tem um roteiro sagaz e à vontade com os personagens, sabendo mediar diversão, ação e suspense. Porém, nem todas suas piadas funcionam. Com o esquilinho Spip sim, ele é engraçadíssimo justamente por falar coisas politicamente incorretas e às vezes fora de tom. O excesso de gírias e palavrões em idiomas pode cansar um bocado no decorrer da leitura, mas isso logo é superado pela arte espetacular de Schwartz. Pois além das cores vibrantes, ela ainda carrega uma narrativa que nos prende por longos minutos apreciando cada quadro de uma página e os detalhes dos desenhos. Assim como também agilizam o saltar de uma cena a outra, com uma dinâmica equilibrada, ora nonsense, ora realista. Um trabalho muito autêntico. Um refresco para quem quer sair da mesmice dos super-heróis ou mangás mainstream.

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Na interpretação da dupla de autores, Spirou guarda certa esperteza e inocência como um Mickey, enquanto Fantasio é mais rabugento de um lado e abobalhado de outro, e a química dos dois é funcional no enredo, assim como seus divertidos coadjuvantes. O brilho, porém, pertence completamente a tal Mulher Leopardo, que chega quebrando todos os paradigmas (dos personagens e dos leitores), com discursos acurados de empoderamento feminino e racismo, incluindo aí xenofobia também, sem que soe panfletário, já que tais temas são inerentes a personagem, também uma mulher de ação e outras virtudes apropriadas dentro do enredo – como um conhecimento específico que ela guarda. O gancho no desfecho é sutil, mas foi o suficiente para me fisgar e querer continuar nesse mundo, até a próxima aventura.

A Mulher Leopardo

Nome Original: A Mulher Leopardo
Autor: Olivier Schwartz e Yann
Editora: SESI-SP Editora
Gênero: HQ estrangeira
Ano: 2016
Número de Páginas: 72

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