Tais & Taiane

Dirigido pelo campineiro Augusto Sevá (Fala Sério!), ex-diretor da Ancine e veterano no ramo, Tais & Taiane, segundo palavras do próprio, busca resgatar memórias de sua época de caroneiro, ainda jovem e no auge do movimento hippie. Com isso, o que vemos na tela é um road movie influenciado por filmes do gênero, entre os quais Sem Destino é o mais conhecido.

Os elementos estão todos presentes: uma aura psicodélica em tomadas longas e de natureza exuberante; viagens lisérgicas e seus efeitos em rodovias poeirentas; e inevitavelmente, as visitas por espaços inóspitos de beira de estrada.

A intenção é boa, contudo, o filme não empolga. A partir de interpretações que carecem de uma melhor direção de atores (as duas protagonistas mereciam que lhes fossem dados alguns toques para se soltarem mais – fica a sensação de que foram orientadas a seguirem alguns processos de atuação que as deixaram exageradamente preocupadas com alguns detalhes menos importantes, como olhares perdidos e meneios de cabeça) e sendo incomodados constantemente por dublagens irritantes criadas para compensar a notória dificuldade do cinema nacional em captar ruídos a partir de tomadas externas, ficamos com a atenção focada em algumas deficiências que nos impedem de entrar com mais tranquilidade na trama.

Tais & Taiane

Tais & Taiane

E a trama, por sua vez, soa repetitiva: duas jovens de vidas completamente diferentes se veem juntas durante alguns dias de peregrinação em bibocas, lugares sem higiene ou ao relento, sem comer e beber direito, no batido “ritual de passagem e purificação” que já conhecemos. O encontro entre as duas se dá à beira de uma estrada onde Tais (uma adolescente classe média) desce de um ônibus e se depara com a prostituta Taiane.

Difícil acreditar que as unhas das duas garotas permaneçam impecáveis (em uma cena, as mãos de uma delas ficam tão destacadas que pensei ser proposital perceber essa bizarrice) e que seus cabelos fiquem pouco ou menos que isso maltratados.

A questão do assédio, recorrente ao longo de toda a narrativa, é conduzida de maneira mais superficial do que seria o desejado (afinal, o filme precisa vender) ou que a oportunidade merecia. Apesar do mérito de não explorar exageradamente os corpos expostos (o que tornaria a já comercial proposta em algo do tipo “filmes brasileiros dos anos setenta”), os planos longos e ênfase em pequenos animais sob a luz da manhã nos inclinam a aceitar com naturalidade um final psicodélico sem graça e que coroa uma ação geral que não consegue prender.

As interações entre todos os personagens é blasé e distante, num excesso de contemplação artificial que ficou datado pelas décadas e décadas de longas de estrada desde Woodstock.

Tais & Taiane

Pontos positivos

De bom, ressalto a bela fotografia de algumas cenas de ambientes naturais, e a calma da atuação de Jairo Mattos e André Bankoff, tão tranquila que chega a passar a sensação de que ambos sabiam que iriam desembolsar o cachê mais fácil da vida deles de tão pouco esforço empregado. Em particular, Mattos chega a ficar divertido de tanto que passa essa sensação.

Yasmim Santos e Gabriella Vergani têm ótima oportunidade de mostrar entrosamento e cumplicidade, mas novamente a direção atrapalha: muito preocupadas com trejeitos clichês, não facilitam no convencimento de que estão se transformando ao longo da saga, e não conseguem nos fazer entrar facilmente em suas tempestades de sentimentos. Ainda assim, ambas certamente podem ser melhor aproveitadas em próximos projetos: são promissoras.

O filme teve uma boa carreira lá fora, com premiações em festivais nos EUA e na Índia. Entretanto, Tais & Taiane poderia nos entregar mais em ambos os quesitos, técnico e lírico. Certamente as aventuras juvenis de Sevá poderiam merecer um produto mais bem acabado.

Tais & Taiane

Nome Original: Tais & Taiane
Direção: Augusto Sevá
Elenco: Gabriella Vergani, Yasmim Santos, André Bankoff, Jairo Mattos
Gênero: Aventura, Drama, Família
Produtora: Albatroz Cinematográfica
Distribuidora: Pandora Filmes
Ano de Lançamento: 2018
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