Terra Selvagem, mais drama do que thriller
Trama sob quilos de neve, aponta feridas sobre os povos indígenas
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Roteirista do ótimo novo cult “A Qualquer Custo” (2016), Taylor Sheridan estreia em Terra Selvagem como cineasta narrando a investigação empreendida por um rastreador profissional e uma agente do FBI para desvendar a morte suspeita de uma adolescente em uma reserva indígena e gelada no Wyoming, o que o laureou como melhor diretor na seção Un Certain Regard em Cannes.
O filme nasceu em decorrência do contínuo extermínio de nativos em aldeias americanas, que não aparecem na mídia. Na trama, o personagem Cory Lambert, é um caçador escalado pelo governo para ajudar os povos indígenas. A notícia de um possível crime abre velhas feridas de seu passado abalado por uma perda familiar semelhante. “É preciso entender como os índios vivem na América e devolver a eles um lugar de fala, de respeito”, disse Sheridan a Croisette.
Dessa maneira, o diretor coloca Jeremy Renner à frente da produção, permitindo que o ator mostre por que já foi mais considerado por Hollywood anos atrás. Ainda que não tenha efetivamente chegado lá. Elizabeth Olsen opera bem e sua dinâmica com Renner, repetindo o que vimos entre Feiticeira Escarlate e Gavião Arqueiro nos longas do MCU, é interessante. Entretanto, sua agente quase não tem serventia ao enredo e, mesmo nos momentos finais, perde o protagonismo assim que o alcança. A exemplo, Gil Birmingham, figura de apoio, tem muito mais relevância do que ela.
Terra Selvagem
O diretor parece se deslumbrar com a vida do homem comum da cidade pequena e dedica tempo demais à rotina desinteressante de Cory Lambert em boa parte do primeiro ato. Compreende-se, é claro, que isso faz parte de quem ele é, pela perda recente e como esse luto ainda não superado se relaciona com a trama principal. Mas um trabalho de edição mais apurado teria transmitido a mesma mensagem em menor tempo. Portanto, os melhores momentos aparecem quando a lei é confrontada por marginais. Assim como a sequência no trailer com os adolescentes drogados e o inesperado desfecho na área da perfuratriz.
É no final que Sheridan muda os pontos de vista, colocando Jon Bernthal de repente ali e explicando (para o público e jamais para os personagens que buscam a resposta) de fato o que aconteceu, o que rende o melhor momento do filme. E mesmo assim não sai isento de problemas, afinal, como Lambert poderia saber que o personagem “X” foi o estuprador, no meio de tantos outros da laia? É um furo que não passa batido.
Mesmo assim, a justiça foi feita e Terra Selvagem funciona muito mais como um drama do que um thriller, abrindo feridas que nunca fecharam e mostrando para o mundo que as vozes das mulheres indígenas desaparecidas nunca foram realmente ouvidas.