The Boys – 2ª temporada – Diminui ritmo e ação

Em prol de maior desenvolvimento de personagens e história

Depois de ser uma das maiores estreias do ano passado, a série que adapta os quadrinhos de Garth Ennis e Darick Robertson e segue a trama de um grupo de pessoas comuns que buscam confrontar os superseres, que existem nesse mundo e agem de maneira bastante escrota por trás dos panos, amadurece e se torna mais relevante com discursos contemporâneos, como a influência midiática xenofóbica que os norte-americanos sofrem, além de falar sobre racismo, manipulação de grandes marcas e vendas distorcidas de imagens de figuras públicas, tudo isso sem perder o valor de entretenimento, que fisgou de primeira espectadores pelo mundo, nessa que é a melhor produção realizada pela Amazon Prime Video.

Com Eric Kripke a frente do projeto, The Boys – 2ª temporada ganha muito. O criador de ”Supernatural” não só tem liberdade criativa para transformar a série e ir muito além do que se leu nas páginas das HQs, como também compreende como poucos a escrotidão necessária nas cenas mais alucinantes (desde atravessar uma baleia com uma lancha, até um super-herói se masturbar no alto de uma torre só porque pode, entre outras bizarrices extremamente coerentes aqui), o cinismo nos diálogos e o humor negro nas sequências, que sempre tem algo a dizer, sem jamais precisar panfletar de maneira gratuita ou aleatória. Vide o embate somente entre mulheres no clímax, totalmente coeso com a narrativa e não forçado como um mesmo momento em “Vingadores: Ultimato”. Aqui o girlpower se justifica e é valoroso em tela!

The Boys – 2ª temporada

A violência segue brutal como antes, mas nunca gratuita e agora mais comedida, assim como todas as demais cenas de ação. Buscando desenvolver melhor cada um dos seus caras, a série entra fundo nos backgrounds, como maiores momentos de diálogo e tranquilidade, para que possamos desvendar melhor suas histórias particulares – não só Billy Bruto recebe todo um elenco familiar e mais humanização em suas interações, como Leitinho, Francês e Kimiko também tem seus passados desvendados (o dela em especial é responsável pelos três primeiros episódios mais eletrizantes, envolvendo o irmão “super terrorista”), à medida que os já bem estabelecidos Hughie e Luz-Estrela sustentam o bom senso e equilibram o jogo, e o arco envolvendo o líder dos Boys com sua esposa Becca recebe uma conclusão.

É claro que os Sete continuam brilhando, seja nos discursos falsos em público, seja no comportamento tóxico nos bastidores. Os vemos dessa vez mais separados do que em equipe e muito mais abalados, tanto quanto seus adversários comuns. Entre a realização de um longa e alguns vazamentos perigosos para suas imagens, os superseres ganham dois reforços no elenco: de um lado, Giancarlo Esposito, fazendo o novo chefão da Vought (que ainda não se justificou), e Aya Cash como Tempesta, uma das melhores figuras do novo ano e que guarda terríveis segredos em seu passado, além de ser uma das únicas a parear o próprio Capitão Pátria (que se mantém como o mais poderoso de todos, apesar de tudo).

The Boys - 2ª temporada

Personagens

É interessante notar como, ao se quebrarem, esses supers se expõem tanto e acabam surpreendendo em pequenas reviravoltas, com destaque para Rainha Maeve e a revelação de sua sexualidade, Trem-Bala completamente perdido no rolê, e até Shawn Ashmore fazendo o Facho de Luz (uma brincadeira sagaz, já que na franquia X-Men ele era o Homem de Gelo). Nem Black Noir escapa de ao menos dois momentos significativos. Fiquem de olho ainda em Claudia Doumit como Victoria Neuman, uma jovem congressista, que pode ser uma promessa interessante para o terceiro ano.

Aliás, promessas é o que não faltam em The Boys – 2ª temporada. Apesar da sensacional referência (e sacanagem) a Cientologia que é feita aqui com a Igreja do Coletivo, essa subtrama tem pouco a oferecer, a não ser algumas situações constrangedoras envolvendo o Profundo e algumas coisas que caem nas mãos do Trem-Bala, deixando uma sensação de gratuidade (a não ser que ela realmente seja relevante na próxima vez).

The Boys - 2ª temporada

E o que mais?

Os vazamentos para mídia, que ocorrem em diferentes momentos da história, também parecem novelescos, porque nunca de fato surtem efeito. Tão pouco as chantagens que Bruto faz diante da morte iminente, que são quase inacreditáveis de tão forçados (beira ao deus ex machina, já que nenhum super cairia naquela conversinha e isso tudo destoa bastante da rica narrativa). Por outro lado, o filho do Capitão Pátria e super puro-sangue se desenvolve bem e também abre possibilidades futuras, tal qual os “mutantes” apresentados num divertido e eletrizante episódio (que parecem ter sido incluídos aqui mais para fins de uma série spinoff, já confirmada).

Entre muitas cabeças explodindo, super-terroristas sendo fatiados violentamente, pequenas referências nerds e discursos de puro cinismo, a segunda temporada de The Boys voltou mais tranquila, como realmente são as produções “do meio”, quase que arrumando a casa para a destruição que chegará no próximo ano.

The Boys - 2ª temporada

Nome Original: The Boys
Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr
Gênero: Ação, Comédia, Crime
Produtora: Amazon Studios
Disponível: Amazon Prime Video

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