The Magicians – Escola de Magia – 1ª temporada
Uma mistura inusitada de Nárnia com Harry Potter e Pretty Little Liars, surpreendente em todos os aspectos
Baseado no best-seller de Lev Grossman, a série The Magicians, de 13 episódios, narra a história de um casal de amigos que está na faculdade e descobre que o mesmo mundo de magia que liam na infância, realmente existe (e nem tudo são unicórnios e arco-íris).
Sem grilhões, a história trabalha a fantasia, a mitologia, o cenário fabulesco, a iniciação de calouros e as intrigas românticas. Tudo isso com o mesmo peso que lida com temas como pedofilia, estupro, assassinato e mutilação, sem jamais ser gratuito, mas evidenciando sua carga de dark-fantasy desde o princípio. Assim, equilibra do começo ao fim tanto os dramas adolescentes, quanto o suspense ao redor de uma entidade maligna e outros tantos segredos.
Tudo que é proposto por aqui impressiona justamente por não seguir qualquer regrinha, seja de obras de fantasia, seja de romances adolescentes. A começar pelos personagens atípicos. Quentin Coldwater é um rapaz tímido e um grande nerd sobre “Fillory” (a Nárnia ou a Terra Média por aqui). Ele se internou por um período numa clínica psiquiátrica, para ter que lidar com um tipo de depressão e com a própria existência.
The Magicians – 1ª temporada
O elenco cativante ainda conta com o divertido Eliot Waugh, veterano da universidade mágica; sua parceira Margo Hanson, que faz a princípio a estereotipada “líder vadia patricinha”, mas parece muito com aquela sua melhor amiga desbocada; William ‘Penny’ Adiyodi, companheiro de quarto de Quentin, deliberadamente intimidante e nervoso, que é capaz de ler mentes e se teleportar; além do ponto fraco entre os magos, Alice Quinn, filha de magos e a mais poderosa do grupo. Ela é retratada, algumas vezes, pelo menos no meu ponto de vista perverso, como uma “atriz pornô disfarçada de geek”.
Mas logo é compensada pela melhor personagem da trama, Julia Wicker, que ao ser rejeitada pela escola de magia de Brakebills, é recrutada por uma sociedade secreta mágica e de lá em diante começa a trilhar caminhos ora sombrios, ora desesperadores. Todos estes, figuras com química natural e interações que geram dinâmicas cativantes durante o enredo.
O vilão é realmente assustador. A Besta é um homem de terno com seis dedos, que caminha de maneira dançante e tem o rosto coberto por um enxame de mariposas. Ele decepa membros, trucida pessoas e parece se divertir com isso. Dessa forma, a série já mostra desde o começo a que veio, com muita violência e sequências dignas dos melhores filmes de terror.
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Professores e outros funcionários de Brakebills, assim como as figuras míticas de Fillory (essa Nárnia distorcida) e do próprio submundo mundano da magia são ricos e bem explorados, trazendo backgrounds que a todo momento contribuem para o andamento da narrativa, que jamais se isenta de cenas de sexo (hétero, gay e até entre criaturas fantásticas) e de brutalidade quase explícita, enquanto expande sua rica mitologia, seja nos gestos inventivos de praticar magia (que investe mais nos movimentos dos dedos do que nas palavras ou em varinhas), poções nojentas e até de rituais pouco ortodoxos.
O enredo também não deixa de rir de si e do seu próprio gênero, como quando um personagem fica mais poderoso ao beber o esperma de um fauno. Harry Potter, Game of Thrones e Crepúsculo são citados, não com desmerecimento, mas como comparativo de consumo dos personagens e de como “as coisas no mundo real não são como na TV” (incluindo aí outras referências sagazes sobre a cultura pop num geral). Tudo tem um preço e geralmente não tem volta.
Fillory
Há também a história dentro da história, pois Fillory é uma das grandes sacadas da trama. Sendo uma espécie de Nárnia (todos os elementos semelhantes estão lá, desde quatro humanos que se tornam reis de um mundo fantástico, até a maneira de se atravessar da Terra para lá), mas subvertida, corrompida não só pela Besta, mas pelo autor das ideias, um mito até mesmo entre os magos, que lida de maneira crua e interessante com a magia, explorando cada clichê de maneira original e, até mesmo, meio escrota.
Dessa maneira, The Magicians não reinventa a roda, mas consegue surpreender justamente por tratar temas reais e fictícios com singular particularidade, enquanto fornece uma dramaturgia rica de suspense, aventura, terror e comédia, em um equilíbrio quase mágico.
Série recomendadíssima para fãs de fantasia e de dramas adolescentes, mas que buscam uma experiência a mais. E depois do gancho final, provavelmente a produção só tende a melhorar (não para seus personagens, é claro).