Tudo Bem No Natal Que Vem – Netflix
Comédia metaforiza estereótipos natalinos e dedicação familiar em um filme com jeitinho brasileiro
Dá para se dizer que Leandro Hassum é o Adam Sandler brasileiro. Quando fazem comédia, ambos são ridículos com suas caras e bocas, forçados no humor e sempre realizam o mesmo papel no piloto automático. Por outro lado, entregam boas atuações quando se permitem ao drama e a normalidade. E as comparações desse filme com ”Click” (2006) são inevitáveis, ainda que tenham inúmeras particularidades.
No longa gringo, o personagem Michael usa de um atalho (um controle universal) para saltar as partes da vida que ele considera desagradáveis e ir somente os momentos bons, enquanto que no filme brasileiro, o personagem Jorge, ao sofrer um grave acidente no Natal, passa a ter uma condição que faz com que, todo dia 24 de dezembro, véspera de natal (que, por sinal, também é seu aniversário), ele acorde sem se lembrar de tudo o que aconteceu no último ano.
Para ele, o “ontem” representa o dia 24 de dezembro do ano anterior. Enquanto Jorge está preso em um ciclo interminável, a vida ao redor avança. Ou seja, diferentemente de Michael, ele não tem escolha, é como um “castigo para ensinar uma lição” (aqui representado na figura de Levi Ferreira, quase um Papai Noel na moita) – algo que não só ”Click” fez, mas outros filmes de lição de moral costumam recorrer, a exemplo: ”17 Outra Vez” (o zelador), “Sexta-Feira Muito Louca” (a dona do restaurante chinês) etc.
Tudo Bem no Natal que Vem
No filme do Adam Sandler também vemos outros contextos da sua vida, o que dá mais força às suas escolhas (sejam elas boas ou não). Em Tudo Bem no Natal que Vem, fala-se o quanto Jorge cresceu no trabalho, e algumas pinceladas sutis em relação ao seu pai e a sua filha, mas o foco acaba estacionando nas repetitivas noites de Natal (onde os parentes sempre se comportam da mesma maneira e dizem as mesmas coisas – uma ideia brilhante do diretor Roberto Santucci para metaforizar os clichês natalinos, no qual a maioria dos brasileiros está mais do que familiarizado) e também em como o protagonista aprende a lidar com os próximos Natais, seja aceitando a condição de repetição, seja se ausentando, seja criando novas situações (como passando alguns deles em outros países), seja se metendo em uma situação improvável com outra pessoa etc.
No geral, não existe uma escala de gravidade como em ”Click” (onde a cada avanço parece que Michael se afunda mais) e sim algo no sentido de probabilidades perdidas, inclusive algumas boas – até, é claro, culminar na única cena marcante e dramática do longa, envolvendo uma perda significativa, que vai pegar qualquer espectador no contrapé.
Mas Santucci (que elevou a carreira de Hassum nas telonas com outras comédias patéticas), não tem a ambição de fazer com seu filme o mesmo de sua contraparte gringa e realiza aqui mais uma versão amena de ”Um Conto de Natal”, do Dickens (onde o rabugento precisa passar por uma jornada de ver o que lhe espera e então lhe oferecer a escolha), só que com seu jeitinho brasileiro, identificável e divertido, para toda a família. Faz você rir, faz sua mãe chorar e faz o Leandro Hassum revirar os olhos umas trinta vezes e está bom assim.