Um Ato de Esperança, baseado no livro de Ian McEwan
Em Um Ato de Esperança, Fiona Maye (Emma Thompson) é uma juíza da Alta Corte, que lida todos os dias com casos complicados na vara do direito da família. Ao mesmo tempo em que seu casamento com Jack (Stanley Tucci) desmorona, Fiona recebe aquele que parece ser o caso mais complicado de sua carreira.
Adam (Fionn Whitehead) é um jovem prestes a completar 18 anos que sofre de leucemia e precisa de uma transfusão de sangue. O garoto, no entanto, se recusa a receber a transfusão. Ele é testemunha de Jeová e a religião proíbe esse tipo de procedimento.
Como Adam ainda é menor de idade, cabe ao Estado decidir o que vai acontecer. Fiona então, resolve quebrar o protocolo e conhecer o garoto.
O livro
Um Ato de Esperança é inspirado no romance A Balada de Adam Henry, de Ian McEwan, que também escreveu Reparação.
A ideia para escrever A Balada de Adam Henry surgiu quando McEwan foi a um jantar e se viu rodeado por juízes. Todos eles contavam casos dos quais já tinham participado e, para o escritor, todos soavam como contos. Mais tarde, McEwan ouviu sobre um caso envolvendo uma testemunha de Jeová e achou que isso daria uma boa história.
O autor não queria explorar a vara criminal, que segundo ele era muito baseado em “quem é bom e quem é mau”. Ele queria algo que desse margem para interpretações, por isso escolheu a vara de família.
Fiona e Um Ato de Esperança
Embora o tema seja muito diferente de seus outros livros, o autor consegue ver semelhanças entre A Balada de Adam Henry e suas outras obras. Nas suas próprias palavras, Fiona é “mais uma na longa lista de personagens meus que tentam viver uma existência racional, mas descobrem que isso não é fácil e que a racionalidade nem sempre protege você do impacto que a vida traz”.
Certamente essa descrição cai como uma luva para Fiona. Ela é tão focada no seu trabalho que esqueceu quase completamente do casamento, que está em crise. Fiona é uma personagem extremamente bem escrita, a começar pelo seu nome, que significa “justa” em irlandês arcaico.
O filme é bem fiel ao livro, quase como se as suas páginas tivessem sido filmadas uma por uma. O fato do roteiro do filme ter sido feito pelo próprio McEwan certamente facilita essa aproximação.
O filme
Um Ato de Esperança repete com perfeição todos os temas que estão no livro. Fiona é uma mulher completamente envolvida em seu trabalho, o que nos traz outros aspectos da sua vida. Seu trabalho é extremamente importante e ele define a vida de outras pessoas. Mas ela acaba usando-o para não ter que lidar com sua própria vida.
Quando se depara com o caso de Adam, ela tem que questionar muitas das ideias que tem. A família de Adam é testemunha de Jeová, mas tanto seu pai quanto sua mãe juram que falaram para o filho que ele deveria aceitar a transfusão de sangue, o que faz Fiona concluir que aquela é uma decisão que vem do garoto.
É por isso que Fiona resolve conhecer Adam, para entender o que ele pensa. Quando os dois se conhecem, Fiona fica surpresa com o quanto Adam é maduro e inteligente para a sua idade. E, a partir daí, ela faz sua decisão.
Fiona e Adam
Um Ato de Esperança se foca bastante na relação entre Fiona e Adam. A juíza rompe diversos protocolos quando resolve ir visitar Adam no hospital. Quando chega lá, ela acaba dando novas esperanças para o garoto.
Adam então, acaba se ligando a Fiona, porque ela representa todas as novidades que ele já tinha aberto mão de conhecer. Essa ligação não é tão forte para a juíza, mas ela o vê como o filho que ela não teve e como o interesse romântico que ela perdeu.
A partir do momento que Fiona decide sobre a vida de Adam, a vida dos dois fica automaticamente ligada, já que em um caso em que ela deve decidir sobre a vida ou a morte de uma pessoa, ela tem o poder de um deus.
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O filme mostra que somos diretamente responsáveis pelas vidas que influenciamos. Claro que McEwan faz, a sua maneira, uma crítica às relações extramente pessoais entre um juiz e a pessoa que ele está julgando, mas esse não é o ponto mais importante da obra. A relação de Fiona e Adam é muito mais importante.
Aspectos técnicos de Um Ato de Esperança
A produção do filme é extremamente bem feita. A direção de arte se preocupou em transmitir os dois momentos de Fiona: quando ela está no trabalho, o aspecto de tudo é um pouco mais rigoroso, as cores são mais sóbrias e tudo é bem mais organizado; já quando acompanhamos Fiona em casa, vemos cores mais claras e ambientes um pouco mais bagunçados. Nada mais justo, afinal, Fiona pode ser incrível no trabalho, mas o público logo percebe que ela deixa a desejar em casa.
Muitas das cenas do filme foram filmadas no Great Hall of the Royal Courts of Justice, o mais importante palácio de justiça britânico, o que dá ao longa uma veracidade interessante.
O elenco
Como boa parte do filme se apóia em Fiona, era necessário que a atriz que a interpretasse fosse capaz de carregar o filme nas costas. Para isso, o diretor Richard Eyre logo pensou em Emma Thompson. Não há dúvida que ela consegue fazer isso muito bem. Acompanhamos Fiona do começa até o final e não nos cansamos dela.
É verdade que ela tem ajuda tanto de Tucci, que apesar de não ter tanto destaque tem um papel importante, quanto de Whitehead, que funciona quase como um antagonista.
Um Ato de Esperança não tem muitos personagens, por isso é necessário que os atores tenham capacidade de segurar um longa.
O filme tem como protagonista uma juíza, por isso é natural que muita coisa se passe em um tribunal. A primeira parte do filme é repleta de tribunais, o que pode se tornar um pouco cansativo. Isso muda com o tempo e logo estamos acompanhando Fiona fora do trabalho, mas Um Ato de Esperança é certamente um filme com muito mais diálogos do que ação.
Um Ato de Esperança fala de justiça e questiona o poder de uma pessoa sobre a vida de outra. O filme entra em cartaz no dia 21 de março.