Um Homem Fiel, Nouvelle Vague moderna de Garrel
Depois da morte de seu marido, Marianne (Laetitia Casta) volta para o seu ex-namorado Abel (Louis Garrell). Abel então tem que lidar com o filho de Marianne, Joseph (Joseph Engel) e com as atenções de Eve (Lily-Rose Depp), a cunhada de Marianne. Um Homem Fiel é dirigido por Louis Garrell, que também dirigiu Dois Amigos.
Relações
Um Homem Fiel é um filme sobre relações e como elas se intercalam de maneira estranha. Abel e Marianne moram juntos quando ela engravida de Paul, um amigo do casal, e acaba se casando com Paul. Abel segue com sua vida, mas continua pensando em Marianne. Dez anos depois, quando Paul subitamente morre, Abel retoma o contato com Marianne e os dois voltam a se apaixonar.
No entanto, ao mesmo tempo em que ele se reconecta com Marianne, ele também se reconecta com Eve, a irmã bem mais nova de Paul, que agora é uma mulher adulta. Abel não sai impune de nenhuma das relações.
O filme até introduz outros assuntos, como a obsessão de Joseph por crimes e a sua suspeita em relação à morte do pai, mas não desenvolve. Estes ficam mais como momentos engraçados em um filme que se foca basicamente em falar das relações humanas e como elas são complicadas.
Nouvelle Vague moderna
Um Homem Fiel não tem um tema especialmente extraordinário e nem muitos pontos de virada. Mas isso é uma constante no cinema francês. O filme de Garrell tem uma linguagem que nos remete diretamente aos filmes de Christophe Honoré, os quais Garrell costumava protagonizar há uns dez anos. E, à sua maneira, também lembram muito os filmes da Nouvelle Vague.
O filme dá bastante destaque a Paris, enquanto acompanhamos seus personagens andando pela cidade. Passa aquela sensação de que a localidade é muito importante no contexto. Mas mesmo assim, aquela história poderia acontecer em qualquer outra grande capital do mundo.
Outra coisa comum entre Um Homem Fiel e os filmes da Nouvelle Vague (e consequentemente os filmes de Honoré) são os triângulos amorosos, que estão presentes em diversos filmes de François Truffaut e Jean-Luc Godard. Esse é o centro da trama de Um Homem Fiel.
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Um Homem Fiel parece dar até um passo a mais. Se o filme começa com um triângulo entre Abel, Marianne e Paul, no meio do caminho Eve acaba envolvida na história.
É importante lembrar que não é que este seja um filme parado e que não tem história. Ele só não é um filme repleto de reviravoltas como é comum em produções hollywoodianas. O longa, afinal, trata de temas importantes.
Aspectos técnicos de Um Homem Fiel
O filme parece uma obra relativamente simples de ser realizada, uma vez que não tem efeitos especiais ou uso de computação. No entanto, fica claro que houve muito cuidado por trás das escolhas do diretor.
A fotografia é muito bonita e bastante focada em Paris, dando muita ênfase à cidade. E também existe muito cuidado em retratar a passagem do tempo. Abel e Marianne mudam de penteados e roupas nas duas fases em que são retratados, enquanto Eve, que é muito mais nova que os outros personagens é interpretada por duas atrizes diferentes. Isso faz diferença na compreensão do filme, afinal, se nada mudasse, jamais acreditaríamos que se passaram dez anos.
O filme também tem boas atuações, como a do próprio Garrell, que embora não interprete personagens muito diferentes entre si, sempre desempenha um bom papel e de Lily-Rose Depp, que surpreende no papel da jovem e determinada Eve.
O filme também é narrado, mais ou menos como acontece em um livro. Assim, todos os personagens parecem ter sua vez de falar, o que nos dá o ponto de vista de Abel, Marianne e Eve. Essa técnica nos faz entender as ações de cada um deles e rende momentos divertidos, como o que Eve explica sua paixão por Abel.
Um Homem Fiel trata de relações humanas, que é um tema complexo e vasto, mas consegue ser eficiente e divertir a plateia. O filme entra em cartaz no dia 4 de julho.