Um Lindo Dia na Vizinhança, uma cinebiografia diferente
O ano é 1998, e o cínico repórter Lloyd Vogel (Matthew Rhys) recebe a tarefa de entrevistar Fred Rogers (Tom Hanks), criador e apresentador de Mister Rogers’ Neighborhood, programa infantil muito popular nos Estados Unidos. Vogel não acredita em nada do Rogers diz, mas ao longo do tempo, acaba se aproximando do homem e a entrevista acaba mudando a vida do jornalista. Embora alguns nomes tenham sido modificados, Um Lindo Dia na Vizinhança é baseado em fatos reais.
Lloyd Vogel é um jornalista investigativo, que acabou de se tornar pai, mas que ainda é profundamente infeliz. Ele é rabugento, mal-humorado, cínico e irascível. Ele também tem sérios problemas com seu próprio pai (Chris Cooper), que abandonou a família quando sua esposa ficou doente e quando Vogel e a irmã (Tammy Blanchard) eram apenas crianças. Embora ele despreze as atitudes do pai, ele acaba as repetindo em proporções menores com seu próprio filho, já que deixa boa parte do trabalho na mão de sua esposa, Andrea (Susan Kelechi Watson).
Quando Vogel recebe a tarefa de entrevistar Fred Rogers para um perfil da Esquire, a princípio ele não quer ir, deixando claro para sua chefe (Christine Lahti) que não faz esse tipo de matéria. Entretanto, ele não tem muita escolha e acaba indo fazer a entrevista.
Um Lindo Dia na Vizinhança
O jornalista tenta fazer a entrevista de maneira rápida e prática, sempre fazendo perguntas que extrapolam o programa e o que Vogel considera “o personagem” de Rogers, mas o entrevistado parece sempre dificultar o trabalho de Vogel, muda de assunto, se esquiva de perguntas, questiona a vida pessoal de Vogel e nunca sai do tal personagem. Não demora muito para que Vogel esteja se abrindo com Rogers e ouvindo os conselhos que ele tem para dar.
Rogers é o exato oposto de Vogel. Ele é um senhor que apresenta e administra um programa infantil, é bem-humorado, otimista e sempre cheio de conselhos. Rogers parece nunca ficar triste, bravo ou decepcionado. Na concepção de Vogel, Rogers está interpretando um personagem o tempo todo. No entanto, durante a entrevista, Vogel tenta ultrapassar esse personagem para entender quem é o homem por trás daquilo, mas Rogers se mantém sempre da mesma maneira, levando Vogel a crer que ele é inacessível.
Demora um tempo para Vogel entender que Rogers não está interpretando um papel e que aquilo que ele mostra na televisão é exatamente quem ele é. Depois de um tempo, o jornalista começa a apreciar Rogers e aceitar os seus conselhos. Pouco a pouco, a vida de Vogel vai mudando, porque ele começa a ver tudo com outros olhos. A relação inexistente que Vogel tinha com seu pai começa a ser remendada e, automaticamente, a relação entre ele e seu filho também melhora.
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Um Lindo Dia na Vizinhança não mergulha a fundo na vida de Rogers, conhecemos um pouco da sua rotina e nos é dada uma leve pista de como ele se tornou o homem que é hoje, mas pouco sabemos do seu passado ou de sua vida pessoal, tudo fica muito mais sugerido do que claro.
Aspectos técnicos de Um Lindo Dia na Vizinhança
Fred Rogers, de fato, existiu, assim como seu programa. E ele foi entrevistado por um jornalista, de quem mais tarde, virou amigo. O filme muda o nome do jornalista (o nome real é Tom Junod), mas ele aprovou Um Lindo Dia na Vizinhança.
A tendência natural é classificar o filme como uma cinebiografia, mas não é bem o caso, já que acompanhamos apenas um período da vida de Rogers (e de Vogel) e que quase não nos conta nada sobre o homem. A trama é mais focada em Vogel, nas suas relações e em como sua entrevista com Rogers mudou sua vida.
O filme usa de diversos recursos para contar a sua história. No começo, somos apresentados a Vogel através da abertura do programa Mister Rogers’ Neighborhood. Hanks, na pele de Rogers, fala com a câmera e explica para o telespectador quem é o jornalista e em que momento da sua vida ele está. Mais tarde, o próprio Vogel se vê dentro de um dos programas, conversando com os fantoches que faziam parte da atração. De uma certa maneira, Um Lindo Dia na Vizinhança é um filme muito metalinguístico e completamente fora da ideia que se faz de uma cinebiografia.
O que esperar
Durante boa parte do filme a sensação que se tem é que estamos assistindo a dois filmes diferentes, um sobre Rogers, que é animado e alto-astral, e um sobre Vogel, que é depressivo e só mostra o que de pior pode acontecer a alguém. Isso não é uma coisa ruim e no caso de Um Lindo Dia na Vizinhança, faz muito sentido. Rogers e Vogel são personalidades completamente opostas, por isso que enquanto os dois não se encontram, suas vidas são completamente diferentes uma da outra.
Hanks apresenta uma boa atuação, embora não seja extremamente parecido fisicamente com Rogers. Rhys também se sai bem no seu personagem cético e mal-humorado. O filme é muito cuidadoso em recriar os cenários e os personagens do programa de Rogers, o que acaba colocando a audiência dentro daquele mundo.
Repercussão no Brasil
A grande questão de Um Lindo Dia na Vizinhança é que ele faz muito mais sentido para quem conhece Fred Rogers e o programa, já que sendo assim, a pessoa pode ter mais noção do que o filme mostra. Mister Rogers’ Neighborhood nunca foi exibido no Brasil, por isso o público brasileiro não tem a menor ideia de quem foi Fred Rogers e não tem como comparar o que vê na tela de cinema com a realidade.
Embora fique mais do que claro no filme que Rogers e seu programa são extremamente populares nos Estados Unidos, pode ser que Um Lindo Dia na Vizinhança não tenha tanto apelo em outros países. Isso não faz dele um filme ruim, é um bom filme, que narra uma história interessante, com boas mensagens e boas atuações. O filme entra em cartaz no dia 23 de janeiro.