Titãs – 2ª temporada, muitas voltas…

Trama continua consistente e intensa, mas começa a dar muitas voltas para chegar onde precisa

Diferentemente das outras séries de super-heróis (da DC/CW: Arrow, Flash, Supergirl etc; ou da Marvel/Netflix: Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage etc), Titãs – 2ª temporada, em parceria entre Netflix e Warner busca um meio termo entre os formatos das outras duas e estabelece uma identidade própria. Se aproxima ainda mais dos quadrinhos publicados nos anos 70 e 80 em toda sua dramaticidade novelesca, mas sem abrir mão da violência contemporânea, e algumas saídas narrativas tradicionais de seriados dos últimos anos. Ou seja, Titãs não se envergonha do que é (desde os trajes coloridos até os diálogos divertidos, como em Flash por exemplo), mas abraça a ultraviolência quase realista de seus primos (como visto em Demolidor).

Retornando para a segunda temporada, os autores Geoff Johns (um dos principais roteiristas contemporâneos da DC), Akiva Goldsman e Greg Berlanti (nomes bem famosos da indústria), seguem fazendo dessa produção um autêntico gibi nas telinhas. Adaptam ao mesmo tempo o famoso arco da equipe “O Contrato de Judas” (de Marv Wolfman e George Pérez), e até das versões modernas da animação Justiça Jovem (pela maneira como introduzem Conner Kent, o Superboy), fazendo ajustes aqui e ali, mais acertando do que errando, ainda que o primeiro episódio se atropele demais e resolva de maneira quase porca a trama da temporada anterior, envolvendo Trigon (com efeitos especiais de segunda mão, que estranhamente evoluem incrivelmente ao passar dos episódios).

Além de Dick Grayson, que mais do que antes precisa enfrentar os próprios demônios e uma grande culpa do passado, praticamente todos os demais personagens são bem desenvolvidos em algum momento. Eles recebem ou enxerto de background, ou novas reviravoltas que corajosamente os tiram de seus status quo, para jogá-los na lama, necessitando assim que voltem a um processo de escalada para superação.

Titãs - 2ª temporada

Titãs – 2ª temporada

Mas, se tem uma palavra-chave que possa definir essa segunda temporada, é “palácio mental”. Existe um número bastante exagerado do uso de palácios da mente em quase todos os 13 episódios, para a maioria dos personagens. O recurso é bem realizado e visa não só dramatizar o contexto, como intensificar mais as questões psicológicas de cada herói. Afinal, eles estão quebrados após alguns eventos (como Dick sendo “assombrado” pelos sermões do Batman, ou Jason vendo-se em quase morte repetidamente, até mesmo Ravena tentando entender seus novos poderes, entre outros).

Entretanto, com mais da metade dos momentos sendo tomados por tal recurso, ele se desgasta e chega a dar uma canseira no espectador. Não há problemas em narrativas não lineares (aqui também incluem flashbacks em períodos distintos de tempo, além de delírios no presente), por outro lado, as voltas parecem muitas e, mesmo depois do grande prólogo que foi a primeira temporada, ainda não se vê de fato a equipe Titãs se formando na continuação (quando isso vai acontecer, afinal?).

O que esperar

A subtrama de Conner Kent (com direito a Krypto e tudo!) é riquíssima e rendeu um ótimo episódio só para o personagem, que depois se liga muito bem ao anterior, que apontava para uma tragédia. Mutano, que passa mais da metade da temporada deixado de lado, conquista primeiramente um espaço bacana de esperança, para logo em seguida ser terrivelmente corrompido por terceiros. Em contrapartida, os dramas de Hank e Dawn começam a parecer forçados.

Titãs - 2ª temporada

A maior participação de Jason Todd e da novata Rose Wilson injeta gás à produção, assim como a trama fofa envolvendo Aqualad e Moça-Maravilha. Porém, Ravena e Estelar, que guardam carisma desde sempre, parecem meio perdidas em tantas histórias paralelas e suas próprias tramas tropeçam aqui e escorregam ali, deixando mais dúvidas do que respostas. Sinceramente, teria sido mais sagaz ter respondido o destino de Trigon agora do que ter deixado para depois. E a maneira como Kory se desloca pelos EUA ficou demasiadamente confusa.

Os furos de roteiro não param por aí

Algumas saídas narrativas ficaram forçadas ou parecem desculpas difíceis de perdoar em uma trama tão redondinha em outros momentos. Assim, perguntas surgem, talvez para serem respondidas na terceira temporada? Depois das sequências na prisão, como ficará a situação de Dick Grayson na sociedade? Mesmo que contra a vontade, Mutano, Superboy e até Ravena mataram inocentes e os efeitos disso não podem ficar só na casa do psicológico. Precisaria ter um efeito real além do midiático mostrado no desfecho.

O que diabos são aqueles poderes novos da Ravena (tanto da gárgula, quanto de “criar” uma pessoa para reunir as pessoas)? E foi muito legal ver Dick finalmente assumindo o manto do Asa Noturna (que ainda não recebeu esse nome… por quê?, se os colegas de cela já haviam dado a letra antes), mas ficou bastante estranho que o traje tenha sido todo arquitetado pelo Batman, sem qualquer poder de sugestão do próprio usuário.

Algumas surpresas

No mais, ter levado os heróis finalmente para a Torre Titã em São Francisco foi um dos presentes certeiros para os fãs. Assim como toda a impactante aparição do Exterminador (Esai Morales está ótimo), um dos mais icônicos vilões da equipe, com toda sua força e inteligência, trazendo um poderoso senso de gravidade aos episódios que não tinha aparecido até então; além da participação do interessantíssimo Jericó, do loucão Doutor Luz e da misteriosa organização CADMUS.

Vale destacar também o quanto Ian Glen certamente se divertiu em sua versão bem mais madura de Bruce Wayne. Isso sem nunca vestir o uniforme do morcego. Sua interpretação mais sarcástica e irônica parece ser uma mescla curiosa da persona do ricaço com a de Alfred, mas agora aqui replicada com seu primeiro filho adotivo.

Assim, dando voltas e voltas, com inúmeras subtramas e delírios íntimos, Titãs – 2ª temporada escorrega pelas beiradas. Mas no fim consegue seguir o roteiro pela estrada adiante, entregando um verdadeiro gibi de super-heróis. Os Titãs ainda não se formaram para valer, mas não tem como negar que essa série é uma legítima adaptação dessa tão querida equipe.

Titãs - 2ª temporada

Nome Original: Titans
Elenco: Brenton Thwaites, Teagan Croft, Anna Diop
Gênero: Ação, Aventura, Crime
Produtora: Berlanti Productions, DC Entertainment, Warner Bros. Television
Disponível: Netflix

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