Z: A Cidade Perdida, uma busca solitária
Z: A Cidade Perdida é um filme interessante, até mesmo pelo seu viés histórico e até hoje inconclusivo sobre a jornada sem volta de Percy Fawcett pela Floresta Amazônica. Mas falta algo ali, que é sentido ao longo das duas horas de sessão.
Narrado linearmente ao longo de duas décadas, o drama biográfico (com leves toques de aventura à lá Indiana Jones) foi adaptado do livro de não-ficção de David Grann de mesmo nome, que conta a história do militar Fawcett (Charlie Hunnam, esforçadíssimo), escolhido para cartografar os limites inexplorados da Amazônia entre Bolívia e Brasil, e fica obcecado com os mistérios locais, em particular com uma mítica civilização perdida que teria prosperado no passado, no coração da floresta.
Utilizando a jornada real do arqueólogo e explorador britânico para trabalhar outras analogias (como o machismo, do qual Sienna Miller extrai grandes momentos; e reconquista de honra, com a necessidade de colocar o protagonista em uma co-jornada, buscando imprimir seu rosto num dos quadros pela eternidade e recuperar o nome perdido da família), o diretor cadencia bem os longos períodos que se passam, sem exatamente situar o espectador no tempo e no espaço, até mesmo porque a maquiagem não mostra grande avanço de idade nos personagens, o que é perceptível, mesmo com a bela fotografia, e com os enquadramentos suntuosos.
Nos anos que antecederam e sucederam a Primeira Guerra Mundial, Fawcett fez três expedições na Serra do Roncador, em Barra do Garças, no estado do Mato Grosso (não citado no longa, talvez porque na ocasião nem os personagens soubessem), e os resultados delas serviram de base ao livro, do qual Gray (diretor que eu até então não tinha experimentado) parece conduzir com boa adaptação. Não espere, portanto, grandes cenas de ação ou tensão. Quando elas chegam, são geralmente conduzidas de maneira morosa, quase contemplativa. Z, acima de tudo, é arte.
O problema mesmo reside na falta do espetáculo. Ainda que o material original seja claramente honrado, entregando no filme uma biografia fiel e honesta (inclusive nos comportamentos de Fawcett, personagem de difícil afeição, mesmo em seus minutos finais), a história pisa no freio o tempo todo quando o assunto é justamente… Z. Veja bem, o cinema já casou o formato da “arte” com o “blockbuster” antes e funcionou. Mas ao abrir mão do tom mais pulp que uma obra assim necessita, o filme perde bastante nos poucos momentos em que poderia ter sido desavergonhado de suas próprias premissas.
Eu explico: na primeira ida a Amazônia, Percy ouve um índio narrar sobre uma suposta civilização no coração da floresta, e depois ele encontra porcelanas num trecho da mata, o que o faz acreditar na existência de Z. Mas somente ele. Eu, enquanto espectador, não consegui acreditar em nada. O papo do índio é vago demais e a trilha sonora, esquecível e frágil, jamais colabora pra despertar sentimentos, sejam eles de tensão, emoção ou vibração, por isso todas as cenas acabam tendo o mesmo tom. A mesma coisa acontece com a sequência das porcelanas, que fica jogado e não gera um impacto necessário para acreditarmos no impulso que o explorador passa a ter e depois em sua jornada obsessiva.
Isso se repete outras vezes no filme, em todas quando a história precisava de certo contexto instigante e espetáculo para nos envolver na misteriosa possibilidade sobre Z. Gray é incapaz de tragar o espectador pra dentro da jornada de seu protagonista (deixando-nos apenas como espectadores diante de uma tela), que acaba por curtir toda aquela aventura literalmente sozinho.
Outro problema, é o desfecho. Mesmo que se mantenha inconclusivo, como a própria história de Fawcett é, o diretor opta por jogar diálogos trágicos, que parecem forçar o espectador acreditar nos temores de seus personagens. A cena final também não cativa e acaba por fulminar a última grande oportunidade do filme te envolver. Ele não te envolve e ponto final. Aqui, o que temos, é algo mais próximo de um falso documentário. Teria sido melhor dar um fecho mais aberto, em vez da opção escolhida. Enfim.
Aliás, prestem atenção em Robert Pattinson, o melhor ator do filme. Depois de se desvincular da porcaria de Crepúsculo, o cara só tem crescido a cada filme.