Supernatural – 13ª temporada, galhofa com farofa
Multiverso expande as possibilidades da trama
Algo comum e batido nas histórias em quadrinhos, principalmente as de super-heróis, o conceito de multiverso vem ganhando mais espaço nos enredos contemporâneos, como pode ser visto em Stranger Things, Aranhaverso, o MCU (após Vingadores: Ultimato), o novo Fronteiras do Universo (da BBC/ HBO, oriundo de uma trilogia de fantasia dos anos 90, aliás minha primeira incursão nesse tema), The Umbrella Academy, Ricky and Morty, Black Mirror: Bandersnatch, e principalmente Dark, que vem explorando tão bem tal território. Com cada vez mais escassez de ideias e monstros, era hora de Supernatural mexer com esse vespeiro também. Supernatural – 13ª temporada faz isso de maneira bem interessante e orgânica.
No final do 12º ano, o anticristo nefelim, filho de Lúcifer com uma humana, finalmente nasce (já como um adolescente, mas calma, isso é rapidamente bem justificado) e entre seus vastos poderes, tem o de conseguir abrir fendas entre dimensões – algo que já tinha sido feito no final da temporada anterior, o que culminou com o sacrifício de Crowley e o aprisionamento do Diabo em outro universo.
Agora, com todos esses elementos estabelecidos, novas possibilidades narrativas são abertas, algo que espertamente os roteiristas por aqui souberam explorar, tornando esse ano muito melhor que o outro. Com raras aparições de Mary Winchester (uma personagem sem graça, com uma atriz limitada) e a adesão de Alexander Calvert como Jack, o filho do demo, surge uma curiosa dinâmica à lá “três solteirões e um bebê”. Dean, Sam e Castiel, ressuscitado pela enésima vez. O que poderia cair no ostracismo, rende divertidos momentos. Alguns são até emocionantes, sobre o ponto de que você é pelo o que faz, não pela nascença.
Supernatural – 13ª temporada
A história segue adiante, com um elenco em boa parte mais enxuto. Pelo menos até o terço final, quando se duplica em participações especiais, como de Gabriel, Bobby, Charlie e Kevin, por exemplo. Tendo agora o multiverso explorado de maneira a princípio cadenciada. Entre os bons momentos, tem um mundo jurássico, que deixa um gancho poderoso para temporada seguinte, com uma versão tribal de uma personagem subaproveitada. Aliás, as personagens femininas ganham ainda mais destaque por aqui. Há inclusive uma sugestão de grupo de mulheres, que tinha grande potencial, mas é apenas explorado em dois episódios.
A volta de Arthur Ketch pareceu forçada, mal explicada e quase inútil, mas pelo menos serve para somar a ação, principalmente no Mundo do Apocalipse, onde uma versão de Miguel se apresenta com um perigoso inimigo. O que não tira o brilho de Lúcifer, é claro, que agora ganha ainda mais destaque do que na temporada anterior. Ele se torna em boa parte tão ou mais carismático que os protagonistas, com vários momentos de comédia ou humildade. Mas nós já aprendemos que tal personagem, complexo e dúbio, nunca deixaria de ser vilão. Por outro lado, a conclusão que ele encontra nesse 13º ano, soou bastante satisfatória, depois de tanto vaivém.
O que mais esperar
Jensen Ackles e Jared Padalecki continuam segurando as pontas como sempre, aqui mais sóbrios e conscientes do fim da jornada, mas ainda fornecendo momentos divertidíssimos, e vale destacar o melhor episódio da temporada: o do crossover com Scooby-Doo, em que os irmãos Winchester são sugados pra dentro da TV, transformados em personagens bidimensionais e vivendo uma aventura típica da turma da Máquina do Mistério, com direito a mansão assombrada e vários suspeitos… com a adesão de um assassino real, matando pra valer ali e corrompendo qualquer inocência oriunda da animação clássica, numa mistura inteligente e sagaz, que também presta um baita tributo a um dos maiores desenhos animados de todos os tempos, que Supernatural – e especialmente Dean – nunca negou a inspiração e o respeito.
Entre vários clichês que a própria série criou para si, se tornando um pastiche de si mesma, Supernatural – 13ª temporada se reinventa com ideias interessantes de outros mundos, novos e velhos personagens em contextos improváveis, fazendo o que sempre soube fazer: matar monstros, com ou sem clichês, deixando ainda um gancho com ares de repetição, mas que já aponta para o futuro e esperado desfecho.