Por Um Punhado de Dólares, um clássico
A ganância tem nome. Ou não.
Inspiradíssimo por ”Yojimbo” (de Akira Kurosawa, 1961) e saturado do western que vinha sendo realizado até o final dos anos 1950, Sergio Leone resolveu fazer um filme de faroeste à sua maneira. Mas não foi fácil chegar na figura do Homem sem Nome, já que ao menos dez atores recusaram ou fizeram desfeita para o papel principal de Por Um Punhado de Dólares, entre eles Henry Fonda e Charles Bronson (que mais tarde trabalhariam em outro filme do diretor, ”Era uma vez no Oeste”, de 1968).
Clint Eastwood, indicado por um dos escalados que recusaram protagonizar a obra, Richard Harrison, abraçou com prazer a ideia de realizar um anti-herói e sair da antiga caracterização de cowboy bonzinho que vinha realizando no seriado ”Rawhide”.
Por Um Punhado de Dólares
O Homem sem Nome, assim como o ronin de Kurosawa, chega a um cenário condenado e desolado, onde começa a extorquir duas gangues rivais. Eastwood faz um tipo tranquilo, cínico e seguro, que se torna mortal quando leva o punho ao coldre e conquista o público de imediato. Mesmo não pensando duas vezes antes de atirar (mas somente quando é atacado), o protagonista guarda um bom coração. Assim como quando ajuda Marisol em sua condição de refém (e consequentemente o pequeno filho); além de apoiar e receber apoio do velho dono da taverna, Silvanito (e também do coveiro Piripero).
No meio do fogo cruzado entre a família Rojo e Baxter, o pistoleiro ianque ainda tem de lidar com o terrível Ramón, que o rivaliza quase em pé de igualdade. A história ainda oferece pequenas doses de humor negro, construções fortes de suspense antes do próximo tiro e até de reviravoltas de lealdade. Tudo isso entre um disparo e outro, limpinho, sem litros de sangue voando pela tela.
Particularidades
Por um Punhado de Dólares foi uma coprodução Italiana/ Alemã/ Espanhola, por isso houve uma barreira linguística significativa no set. Leone não falava inglês, Eastwood não falava italiano e por isso contavam com dublês e outros da equipe técnica para se comunicarem. O primeiro filme, do que ficou conhecido como “Trilogia dos Dólares”, também revolucionou a maneira de fazer western, pelas escolhas do diretor.
Influenciado pelo paisagismo cinematográfico de John Ford e pelo método japonês de direção aperfeiçoado por Akira Kurosawa, Leone queria uma sensação de ópera para o seu oeste, e por isso há muitos exemplos de closes extremos nos rostos de diferentes personagens, funcionando como arias em uma ópera tradicional. O ritmo, a emoção e a comunicação dentro das cenas podem ser atribuídos ao enquadramento meticuloso do cineasta sobre seus closes, que remetem mais a retratos, muitas vezes enquadrados com efeitos de iluminação do estilo renascentista.
Assim, aliando uma trilha sonora imersiva de Ennio Morricone (creditado como Leo Nichols) e a performance única de Clint Eastwood (que foi compondo os adereços de seu personagem em lojas aleatórias nos EUA e Espanha), com a direção inspirada de um realizado apaixonado pelo gênero, Por Um Punhado de Dólares se catapulta em forma e estilo, fazendo muito, com pouco, bem pouco.