Algum Lugar Especial (Nowhere Special)
Como aceitar a morte tendo que romper um elo fraterno?
Inspirado em uma história real, Algum Lugar Especial narra a história de John (James Norton), um limpador de vidros de 34 anos que dedicou sua vida a criar seu filho sozinho, após o abandono da mãe da criança logo após o parto. Sofrendo de uma doença que lhe condenou a poucos meses de vida, John tenta encontrar uma nova família que seja perfeita para seu filho de três anos, capaz de suprir esse momento da perda.
Minha intenção não é estragar a experiência de cada espectador ao assistir ao filme, então vou tentar ao máximo apenas descrever a receita do bolo sem revelar o toque do chefe.
Para um fã de filmes dramáticos como eu, esse drama é um prato cheio. Além do fato de retratar uma história real, o que deixa tudo com muito mais afinidade ao emocional, o longa tem um enredo muito terno para tratar de um assunto muito sentimental, a morte.
E a morte aqui não é definida simplesmente pelo fato da passagem, do final de uma vida, mas traz consigo a percepção e absorção do processo tanto por parte do pai, cujo destino está sentenciado, quanto por seu filho que ainda não desenvolveu uma maturidade para assimilar essa perda.
Algum Lugar Especial
John é um pai muito dedicado ao cuidar de seu filho de 3 anos, Michael, e, apesar da meia idade de John, ele demonstra ter uma sabedoria para conduzir a sua condição, como responsável pela criação do pequeno. A mãe do menino abandonou John e a criança logo após o parto, sem deixar paradeiro. Ele se vê agora com o dever de cuidar de seu filho sozinho. E como se não bastasse essa tarefa, sua saúde o condenou a ter uma vida com um curto tempo determinado, pois ele sofre de uma doença terminal.
Agora precisa lidar com essa realidade e ter a missão de destinar o futuro do seu filho para alguma família que possa o confortar e acolher.
No decorrer da história, John busca com o auxílio de um instituto de adoções, entrevistar e conhecer algumas famílias interessadas na adoção de Michael. Nessas visitas é possível notar as diferentes formas como as pessoas lidam com o fato da adoção, da sensibilidade para com John e das próprias condições de cada família.
Aliás, o filme demonstra diferentes formas de perspectivas e analogias de locuções e tempos, em relação a perda, em relação ao elo fraterno, e em relação a constituição familiar. Traz uma reflexão sobre como lidar com um momento tão delicado e a influência desse processo em uma criança de tão pouca idade.
Memória infantil
Falando nisso, dificilmente lembramos de algo anterior ao período de 3 a 4 anos de idade, a imaturidade dos sistemas neurais envolvidos na formação da memória, como o hipocampo, é insuficiente para o armazenamento a longo prazo.
As crianças vivem em um mundo pré-linguístico e, sem a linguagem, há dificuldade de representatividade das memórias. Por isso, aqui fica outra reflexão: como abordar esse tema com uma criança? Como seria a memória afetiva do seu filho em relação à sua perda? Como uma criança concebe a ideia da morte?
Luto infantil
Não existe uma definição para os estágios do processo da morte na concepção das crianças, a idade delas afeta as maneiras pelas quais ela provavelmente irá expressar seus sentimentos e o tipo de apoio que irá necessitar dos adultos que a circundam. Geralmente, a absorção do processo de luto fica condicionada às referências imagináveis como: ”uma estrelinha no céu”. E, na trama, todo esse processo é narrado com muita sensibilidade, com mensagens simbólicas e cenas interpretativas ao público.
Esse foi o modo mais singelo que pude descrever a história do filme. Como havia dito no começo, é uma experiência muito válida e inspira reflexões e assuntos para dividir com os amigos e familiares. Vale muito a pena conferir e compartilhar essa imersão de sentimentos, então fica aqui o convite. Algum Lugar Especial entra em cartaz hoje, dia 17 de junho.