Batem à Porta

Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge) estão passando as férias com a filha deles, Wen (Kristen Cui), em uma cabana isolada, quando um grupo de pessoas formado por Leonard (Dave Bautista), Redmond (Rupert Grint), Adriane (Abby Quinn) e Sabrina (Nikki Amuka-Bird) invade o local e os fazem de reféns.

Segundo os invasores, o apocalipse está chegando e para que a humanidade possa ser salva, Eric e Andrew precisam decidir que membro da família deles deve morrer. O casal, então, é exposto ao momento mais difícil de suas vidas.

Batem à Porta é inspirado no livro O Chalé no Fim do Mundo, de Paul Tremblay.

A família

Batem à Porta é um filme com poucos personagens, mas o centro da trama é a família composta por Eric, Andrew, e a filha deles, Wen, que está prestes a completar oito anos. Os três estão passando as férias em uma cabana isolada em um lugar aparentemente idílico, quando um estranho, que se apresenta como Leonard, encontra a pequena Wen caçando insetos e lhe diz que irá a invadir a casa onde ela e seus pais estão.

A premissa é, aparentemente, simples e faz a audiência pensar em filmes como Os Estranhos, mas aqui a invasão tem propósitos maiores do que apenas roubar, perturbar ou torturar essa família. Segundo esse grupo de estranhos, o mundo está prestes a acabar e Eric, Andrew e Wen precisam sacrificar um dos membros da família para que toda a humanidade seja salva.

No entanto, antes que a plateia se solidarize com a família, é preciso entender o quão profunda é a ligação desses três personagens, o que o filme faz através de flashbacks. Não existe uma explicação muito clara do porquê essa família especificamente precisa carregar esse fardo tão pesado, mas talvez a resposta esteja nos flashbacks e nos sentimentos intensos que eles deveriam suscitar na plateia.

Os flashbacks nos mostram o começo da relação de Eric e Andrew e o momento em que eles decidiram que iriam adotar Wen, mais tarde, até assistimos a cena em que eles conhecem sua filha. Embora fique muito claro que os dois homens têm uma relação de amor incondicional com a filha, a relação amorosa entre os dois não fica tão estabelecida porque eles não parecem ter muita intimidade e o filme não tem uma cena de beijo, de abraço ou sequer dos dois segurando as mãos. É óbvio que é interessante que os protagonistas sejam um casal LGBTQIA+, mas por outro lado, Batem à Porta peca nessa conexão, que soa um pouco falsa ao longo do filme.

O apocalipse

Embora pareça que os vilões do filme são Leonard, Redmond, Adriane e Sabrina, o grande terror aqui é o apocalipse do qual esse grupo fala. Mas é importante notar que, a princípio, não existem muitos indícios que provem o que eles alegam, e que em muitos momentos, o grupo soa como uma espécie de seita maluca pregando sobre o fim dos tempos.

Esse é um dos pontos mais interessantes do filme. Quando o grupo invade a casa e conta para a família que eles serão obrigados a escolher alguém para sacrificar, uma série de perguntas passa pelas cabeças de Eric e Andrew e, automaticamente, do telespectador. Será que esses invasores estão falando a verdade? Por que aquela família especificamente é a escolhida? Vale a pena matar alguém da minha família para salvar o mundo? E claro, quem a família vai sacrificar se não tiver escolha?

Batem à Porta segura esses mistérios durante bastante tempo, em que deixa a plateia tensa, sem imaginar o que vai acontecer ali. Como acompanhamos um casal gay, o filme ainda consegue fazer um comentário sobre a homofobia, já que, inicialmente, Andrew acredita que aquele é um ataque de um grupo religioso que pretende puni-los ou “muda-los”.

O longa é, de uma maneira geral, muito bem pensado e vai nos deixando pistas ao longo do caminho, algumas mais óbvias, outras nem tanto. Esse também é um filme onde não temos certeza absoluta de que os vilões, que seriam o grupo que invade a casa, sejam mesmo os vilões, já que segundo eles, a invasão e a chantagem só acontecem por forças maiores.

Aspectos técnicos de Batem à Porta

Batem à Porta é um filme cheio de tensão, do começo até o fim, isso porque não tem exatamente uma introdução e porque a família é feita de refém logo no início. Somos apresentados às peculiaridades deles com os flashbacks, que se dão ao longo do filme. O que aumenta mais essa tensão é o fato de que a audiência, que acompanha a trama do ponto de vista de Eric, Andrew e Wen, não sabe mais do que os invasores contam e, assim como os protagonistas, passa o filme todo em dúvida. Podemos embarcar na ideia de que vem mesmo um apocalipse por aí – o que seria o mais lógico, afinal, Batem à Porta é um filme de suspense dirigido por M. Night Shyamalan -, ou questionar tudo como fazem Andrew e Eric.

É interessante que os protagonistas sejam um casal gay e que isso possibilite a utilização do suspense e do terror para fazer um comentário sobre a nossa sociedade. Eric e Andrew sofrem e sofreram homofobia, seja pelos pais de Andrew, seja por um atentado homofóbico em um bar, como vemos nos flashbacks, seja pela invasão da casa, que para eles, parece mais um ataque a quem eles são.

O filme tem também boas atuações, o elenco, em geral, está muito bem entrosado. Dave Bautista está ótimo e consegue misturar muito bem sua aparência, que é intimidadora, com a calma e a gentileza de seu personagem, que chega até a ser exagerada. Abby Quinn, por sua vez, interpreta uma personagem tão excêntrica que se torna assustadora. Jonathan Groff e Ben Aldridge também se saem bem individualmente, mas não convencem muito como casal, já que parece que eles nem tem muita intimidade.

Batem à Porta é um daqueles filmes que deixam a plateia roendo as unhas, e em dúvida sobre quase tudo que é dito em cena, o fato dele fazer pequenos comentários sobre a realidade e sobre questões sociais, ainda que de maneira muito sutil e que possa até passar despercebido por quem está menos atento, é um bônus. O longa funciona como suspense, e também é um prato cheio para quem quer fazer uma análise mais profunda sobre sua trama.

Batem à Porta chega aos cinemas no dia 2 de fevereiro.