Cantando na Chuva, um musical sobre a indústria

Em Cantando na Chuva, Don Lockwood (Gene Kelly) é um grande astro do cinema mudo. Sua parceira mais comum é Lina Lamont (Jean Hagen), que ele não suporta, mas tolera porque o estúdio insiste no marketing de que os dois são um casal, chamando mais atenção para os filmes. No entanto, uma grande mudança ameaça a posição dos dois: a chegada do cinema falado. Don, que começou sua carreira como cantor e dançarino, se vira bem. Lina, por sua vez, tem uma voz péssima. É então que Don conhece Kathy (Debbie Reynolds), uma jovem atriz e cantora, por quem ele acaba se apaixonando.

Um musical sobre cinema

Cantando na Chuva é um filme de 1952 que retrata o final dos anos 20. O filme é, obviamente, ficcional, mas contém elementos da realidade. O motivo pelo qual o estúdio de Don quer fazer um filme falado é porque o estúdio concorrente acabou de lançar O Cantor de Jazz, o primeiro filme falado a ser produzido, que também é um musical.

Também é verdade que depois do lançamento de O Cantor de Jazz, a maioria dos estúdios saiu em disparada para produzir seus próprios filmes falados. Cantando na Chuva também acerta quando usa como protagonistas dois atores do cinema mudo que precisam evoluir para o cinema falado. Diversas estrelas do cinema mudo tiveram enormes dificuldades em fazer essa transição. Ou eles não estavam acostumados a falar ou não tinham vozes consideradas muito boas.

Essa ideia é extremamente interessante, já que o filme consegue passar uma informação sobre a história do cinema de maneira divertida e sem que o filme pareça uma aula. O longa inclusive retrata um período do cinema que para nós, dos dias de hoje, soa quase absurdo e pré-histórico e que é abordado à exaustão nos cursos de cinema.

Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O'Connor em cena do filme
Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O’Connor em cena do filme

A indústria do entretenimento

É interessante assistir ao filme e notar que algo que hoje em dia é tão comum e quase não é mais suficiente (já que temos o adendo de filmes em 3D e de salas onde o público pode se sentir literalmente dentro do filme) soava como uma coisa quase absurda nos anos 20. Inclusive, acreditava-se que o cinema falado seria apenas uma moda passageira.

Outro assunto que é tratado em Cantando na Chuva é a indústria do entretenimento. Nosso protagonista é o maior ator do cinema mudo. E nossa antagonista, de certa maneira, é a atriz com quem ele faz par romântico com mais frequência. Isso acontece porque Don não gosta muito de Lina, mas o estúdio força um suposto romance entre os dois. A relação que existe entre Don e Lina é muito comum na indústria cinematográfica, onde as pessoas envolvidas estão dispostas a muita coisa em troca de fama e dinheiro.

O trio de protagonistas em um número musical
O trio de protagonistas em um número musical

Outra coisa que o filme mostra é que Lina, embora seja linda e muito famosa, é uma péssima cantora. Mas devido a sua popularidade, o estúdio decide mantê-la no elenco do filme falado. Para isso, resolve contratar alguém que duble Lina. As cenas em que vemos a dublagem acontecer são cômicas, mas que mostram uma situação que é realista. De certa maneira, Cantando na Chuva é um filme que fala sobre si mesmo e a indústria em que ele esta inserido. É até corajoso que o filme faça isso em plenos anos 50, o que o torna ainda mais interessante.

Aspectos técnicos

Embora tenha seus pontos de discussão, Cantando na Chuva é basicamente uma comédia feita para entreter o público. É só mais uma vantagem o fato de que ele trate de tantos temas interessantes. A produção é muito bem feita. Retrata com perfeição os cenários e as fantasias que eram usadas nos filmes dos anos 20. O público em muitos momentos se vê dentro dos estúdios que eram tão comuns na época. No entanto, embora o filme tenha intenção de retratar os figurinos dos anos 20, de certa maneira, ele também retrata a moda da época em que ele próprio foi gravado, quase como se ele não conseguisse se desligar dos anos 50.

Don e Lina
Don e Lina

O elenco é composto por grande nomes. Mas o destaque é todo de Gene Kelly, incrível em todas as cenas. Seja de atuação, dança ou canto e especialmente bem na cena mais famosa do filme. E também de Debbie Reynolds, perfeita no papel da jovem e adorável Kathy.

Boa parte das músicas de Cantando na Chuva foram escritas por Arthur Freed e Nacio Herb Brown, mas nem todas tinham sido escritas especificamente para o filme. Algumas faziam parte de um catálogo para musicais criado pelos dois. Para o longa, foram escritas Make ‘Em Laugh e Moses Supposes, por Betty Comden e Adolph Green, os roteiristas do filme. Algumas das músicas que estão na trilha sonora, inclusive a que dá título ao filme, já tinham sido usadas em outros musicais. Entre as músicas do filme estão All I Do Is Dream of You, You Were Meant for Me, You Are My Lucky Star e Good Morning, além das clássicas Singin’ in the Rain e Make ‘Em Laugh.

Cena de uma montagem de Cantando na Chuva no teatro
Cena de uma montagem de Cantando na Chuva no teatro
Cantando na Chuva no teatro

O filme foi indicado a dois Oscars. Melhor atriz coadjuvante (Jean Hagen) e melhor música original. Acabou não ganhando nenhum, mas entrou em milhares de listas de melhores filmes de todos os tempos. Até hoje é um dos musicais mais lembrados.

Cantando na Chuva é um daqueles casos de musicais que chegaram ao teatro depois do filme. Em 1985 a história chegou a Broadway, e no mesmo ano, no West End. Em 2000, o musical ganhou seu primeiro revival, em Londres, feito que foi repetido em 2012. Cantando na Chuva também foi encenado em Paris, Melbourne, Warsaw, Tokyo, Moscou, Manila e Oslo. Aqui no Brasil, Cantando na Chuva ganhou uma montagem em 2017. No elenco estavam Jarbas Homem de Mello (Cabaret e Chaplin – O Musical) e Claudia Raia (Cabaret e Sweet Charity).

Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello na montagem brasileira
Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello na montagem brasileira

A produção original da Broadway foi indicada a dois Tonys. Melhor livro de um musical (dedicado a quem faz os diálogos não cantados da peça) e melhor ator para Don Correia. Mas não ganhou nenhum. Cantando na Chuva é um musical que retrata um período importante da história do cinema, sem que isso se torne chato ou didático.

3 Comentários

  1. Maravilhoso! Além de descrever um filme famoso que nunca tinha visto ainda mostra suas adaptações e sua conexão com a indústria do cinema. Valeu!

  2. Você não assistiu Cantando na Chuva Luan? Caraca! Assiste meu, é o filme mais feliz do mundo! Recomendo demais!

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