A Árvore dos Frutos Selvagens, um drama intimista
Com grandes pretensões...
A Árvore dos Frutos Selvagens traz Sinam, um recém-formado aspirante a escritor que volta de Istambul para sua pequena cidade natal sem um prospecto definido para seu futuro. Dono de uma arrogância ingênua que só a juventude pode oferecer, Sinam exibe uma tendência a ofender àqueles ao seu redor sem mesmo se dar conta, inebriado por suas pretensões românticas que serão testadas conforme a vida, com toda a sua aspereza, despedaça sua visão de mundo pouco a pouco.
Que o diretor Nuri Bilge Ceylan tenha escolhido um sujeito tão antipático para nos acompanhar por todas as três horas e oito minutos de seu A Árvore dos Frutos Selvagens não é problema. Mas o fato é que este é interpretado pelo cabisbaixo Doğu Demirkol. O ator não possuiu o carisma que seria necessário para dar dinamismo a seus defeitos de caráter. Assim, isso se torna uma falha fundamental do longa, transformando seu protagonista em apenas uma figura aborrecida.
Sinam possui uma relação complicada com seu pai (Murat Cemcir) viciado em apostas, pendendo ora para o afeto, ora para a intolerância. Ele navega por tentativas frustradas de encontrar um patrocinador para financiar seu romance de estreia, homônimo ao filme.
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Monocórdio, o longa compõe-se de passagens episódicas que consistem em conversas entre o protagonista e seus conhecidos. Estas abrangem os mais diversos temas referentes à sua própria vida, desde arte até religião. Algo que dilata os já extenuantes 188 minutos de duração. Na cena que é, sem dúvida, o ápice, e, talvez, o âmago do filme, Sinam é confrontado por um escritor (Serkan Keskin) a quem admira, seu equivalente oposto em termos de ideais e visão de mundo, dono de uma experiência e um pragmatismo que lhe faltam. Essa é a cena que desnuda o tema principal do filme. A vida, afinal, é frugal e não tem propriamente um sentido.
Nos presenteando com belos quadros de paisagens outonais – meu favorito sendo um que mostra formigas andando sobre um bebê –, A Árvore dos Frutos Selvagens é uma experiência contemplativa que, com uma boa edição, poderia ser condensado de modo a dispensar uma hora inteira de sua duração: como seu protagonista, falta-lhe sabedoria para saber quando moderar suas próprias pretensões.