A Maratona de Brittany, uma voz diferente em Hollywood

A Maratona de Brittany conta a história dessa jovem de 28 anos (Jillian Bell) que se sente frustrada e infeliz. Em uma consulta médica, ela descobre que não está saudável e resolve começar a caminhar. É então que Brittany decide correr na maratona de Nova York, como uma maneira de tomar as rédeas da própria vida.

A primeira coisa que chama atenção em A Maratona de Brittany é a sua protagonista. Brittany é o oposto da maioria das protagonistas de filmes, especialmente de comédias românticas. Ela tem 28 anos, é infeliz no seu trabalho, insatisfeita na sua vida amorosa e tem dificuldade de se relacionar. Desde o começo, é um pouco difícil simpatizar com ela, como geralmente acontece quando acompanhamos as mulheres de filmes desse gênero, porque ela tem uma atitude negativa em relação a vida e porque ela parece estar sempre mal-humorada, embora contorne a vida com piadas.

Mas, além de tudo isso, Brittany está completamente fora dos padrões estéticos de Hollywood. Ela é retratada como uma mulher acima do peso, que tem problemas de saúde e, por isso, precisa emagrecer.

A Maratona de Brittany

O interessante é que embora o filme comece com um discurso ligeiramente gordofóbico, partindo principalmente do médico (Patch Darragh) que atende Brittany, esse não é um discurso que permanece até o fim. Conforme a protagonista se dedica a se tornar saudável, mudando seus hábitos alimentares e praticando atividades físicas, a vida dela vai se modificando, mas não porque ela perde peso (o que também acontece, mas não parece ser o ponto principal do filme) e sim porque Brittany começa a tomar as rédeas da própria vida e procurar, pela primeira vez, o que é melhor para ela.

Também é importante ressaltar que embora o filme possa se encaixar no gênero da comédia romântica, o longa não está interessado em falar dos relacionamentos amorosos de Brittany e nem usa disso para valorizá-la. Brittany descobre o seu valor por si mesma, independentemente de com quem ela se relaciona, o que é muito importante.

A vida perfeita

A Maratona de Brittany também fala sobre as falsas impressões que criamos sobre as pessoas e suas vidas. Brittany acredita que sua vida é terrível, mas que a de sua amiga Gretchen (Alice Lee) é perfeita. Entretanto, depois de um tempo, Brittany descobre que Gretchen também tem seus problemas e suas inseguranças.

O mesmo acontece com Catherine (Michaela Watkins), vizinha de Brittany, que ela acredita ser metida e dona de uma vida mais que resolvida, mas que depois, Brittany descobre não ser tão perfeita assim.

O filme nos dá diversos exemplos parecidos com esse que mostram que todos têm problemas e inseguranças, pelos mais variados motivos, mas que eles só são superados quando estamos dispostos a resolver nossas questões.

Aspectos técnicos de A Maratona de Brittany

O filme começa como um filme simples, que não promete muito, mas se desenvolve de maneira bem interessante. O fato de apostar em uma personagem fora dos padrões, que é interpretada por uma atriz que combina com a personagem, é certamente um ponto positivo. Assim como o fato dele não se pautar em relações românticas para valorizar essa mulher e de apresentar personagens gays que fogem do estereótipo.

O longa também é divertido, provando que é possível fazer um filme engraçado e sensível que não usa piadas ofensivas ou que tiram sarro de minorias. Boa parte da graça do filme se deve a Jillian Bell, que interpreta Brittany e é muito engraçada. Além dela, outros atores também se saem bem como Utkarsh Ambudkar e Micah Stock.

A Maratona de Brittany tem um roteiro relativamente clássico, que começa com essa personagem que parece completamente perdida na vida e que certamente precisa de ajustes. A trama dá a entender que, como em boa parte das comédias adolescentes dos anos 90, a transformação de Brittany está diretamente ligada à sua aparência, mas ele mesmo quebra essa expectativa quando nos mostra que, na verdade, ela precisa se aceitar e se respeitar, sem se importar com a sua aparência. Brittany de fato passa por um processo de transformação, que a torna uma pessoa melhor, mas isso não está ligado à sua aparência.

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Em muitos aspectos, o filme lembra um pouco O Diário de Bridget Jones, que é um filme relativamente moderno para a época em que foi lançado, e filmes mais recentes, que já fazem parte de uma outra onda, que tenta dar voz a personagens que antes serviam apenas de piada ou de alivio cômico, como Sierra Burgess é uma Loser e Megarrromântico.

O longa também aposta em cores vibrantes e coloridas. O figurino de Brittany, por exemplo, usa muitos tons de amarelo e roxo, tudo em tonalidades bem fortes, que aumentam ainda mais o ar de humor da trama.

A Maratona de Brittany começa como uma comédia romântica padrão, mas evolui para um filme que repensa padrões de beleza e o que de fato é se sentir bem consigo mesmo. O filme entra em cartaz no dia 24 de outubro.