Fullmetal Alchemist, uma adaptação que respeita a origem

Live-action do mangá mundialmente conhecido

Ainda crianças, Edward e Alphonse Elric perderam sua mãe. Os irmãos, então, decidem usar seus conhecimentos para tentar quebrar o maior tabu da Alquimia: a transmutação humana. Mas a tentativa dá errado e eles perdem parte de seus corpos. Assim começa a saga dos irmãos Elric, em busca de recuperar o que perderam eles partem em busca da lendária Pedra Filosofal, a qual, reza a lenda, amplia os poderes de um Alquimista. O objetivo da dupla é exatamente usar a Pedra Filosofal para recuperar seus corpos, porém, eles não são os únicos interessados no lendário artefato que envolve um segredo tenebroso em sua confecção.

Cinematograficamente competente e bem adaptado, este filme live-action de FullMetal Alchemist jamais será capaz de ficar a altura do mangá ou do anime Brotherhood, mas cumpre seu papel de maneira satisfatória, podendo angariar novos interessados para o original, a medida que não desagrada os fãs das antigas.

Reunindo os principais arcos da primeira fase do anime (e do mangá), o filme consegue conduzir a narrativa de maneira orgânica, com as sequências se amarrando bem, sem forçar a barra. Dessa forma, temos as tramas de Cornello (na apresentação enxuta e funcional), Shou Tucker (que consegue ser tão trágico quando o original), do Dr. Marcoh (curto e grosso, na medida), e até dos soldados artificiais (uma decisão ousada, que adianta elementos da fase final, mas que se encaixam bem aqui). Com menos personagens do que Brotherhood apresenta no início, o longa consegue juntar dois em um e fazer o trem andar da mesma maneira, sem a sensação de desperdício, menos ainda de excessos.

O elenco, à sua maneira, é inspirado. Acostumados a Hollywood ou até mesmo a outras obras fora de circuito, para nós ocidentais fica difícil julgar o cinema japonês que adapta sucessos, pelas suas atuações claramente caricatas, como se um time de cosplayers se juntasse na frente da câmera. É a sensação inevitável que temos aqui — e dessa leva, Tsubasa Honda, a bonitinha que faz Winry Rockbell, é um horror, ainda que se salve perto do final. Por outro lado, Ryosuke Yamada consegue encontrar um equilíbrio ideal entre a melancolia e o bom humor de Edward Elric (de qualquer forma, o casal é incompetente quando precisa demonstrar certa fúria e soa caricato a nível de Chaves). A parte mais velha dos atores se dá bem melhor, com destaque para os que interpretam Roy Mustang, Hughes, Tucker e Marcoh, mas vale ficar de olho também na quieta e assertiva Hawkeye e na blasé e ótima Luxúria. Os demais homúnculos estão incríveis também em suas figurações (assim como a armadura de Alphonse, que tem o peso e o brilho ideal) e a única coisa realmente horrível do filme é a peruca loira de Ed.

Sabemos que a história da mestra Hiromu Arakawa se passa numa versão alemã, mas também não podemos ser radicais ao esperar que uma obra intrinsecamente japonesa, utilizasse atores ocidentais (porém, existirão aqueles que defenderão o whitesplaining reverso ), por isso basta engolir a proposta e comprar a ideia, que lá pela metade da história você já se convence dos figurinos — que aliás, estão ótimos! Dos militares aos vilões, passando pelo sobretudo vermelho do protagonista, que é maior do que ele e passa a sensação correta de assimetria do personagem.

Ainda que junte algumas cenas e personagens para formar um único personagem ou uma única cena, existe muita fidelização a personas aqui, assim como a sequências icônicas, até mesmo pequenos easter-eggs, que vão agradar bastante os fãs, como eu (e olha, me arrisco a dizer que sou um dos maiores fãs do mundo de FMA). Estão ali o Quinto Laboratório, o desentendimento dos irmãos, os pequenos momentos entre Winry e Ed, a linda e terrível sequência inicial da transmutação que deu errado, os ataques de fogo de Mustang, as primeiras mortes impactantes, entre outros pontos-chave, que não se perdem em pouco mais de duas horas.

Compreendendo que é uma adaptação, muitas mudanças feitas são aceitáveis e funcionais, mas existem aquelas também que ficam difíceis de engolir, como o andamento do destino de Shou Tucker. Por outro lado, o tal do Gal. Hakuro (por agora não consigo encontrar seu paralelo no original, mas sei que existe) surpreende e fornece alguns plot-twists bem-vindos no clímax, com vilão sobrepondo vilão e assim por diante, que culmina num desfecho eletrizante, que não deve nada as grandes produções hollywoodianas.

Acima de tudo, Fumihiko Sori soube adaptar mais do que figurinos, gestos e sequências do mangá e do anime. Ele soube traduzir a essência da obra de Arakawa, trazendo as emoções equilibradas com a ação e com o bom senso que seus protagonistas carregam, em uma trama redonda, com começo, meio e fim. E com os devidos ganchos caso esse filme faça dinheiro (e sim, existe uma pequena cena pós-crédito que vale o sorriso de canto).

Fullmetal Alchemist

Fullmetal Alchemist é de longe, a maior série em quadrinhos e de anime de todos os tempos e recebeu um filme, que ainda esteja aquém de sua iconografia, pelo menos respeita suas bases e entrega um entretenimento de primeira.

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