Burlesque, uma homenagem ao burlesco
Ali (Christina Aguilera) é uma jovem do interior que sonha em ser cantora. Ela vai para Los Angeles em busca de uma carreira e acaba chegando ao The Burlesque Lounge, um bar decadente que apresenta performances burlescas. Ela é contratada como garçonete, mas um dia, devido à sua voz, chama a atenção de Tess (Cher), a dona do bar que a contrata para dançar e cantar. Então vira a maior atração do The Burlesque Lounge e decide tentar reerguer o lugar.
Burlesco
O burlesco em sua origem é uma peça com intuito de fazer piada ou caricaturas, passando muitas vezes pelo grotesco. A palavra deriva de “burla”, que significa “piada”, “zombaria” ou “ridículo”.
Mais tarde, o termo Burlesco passou a ser usado para descrever um show de variedades, que já era diferente do apresentado originalmente. O burlesco começou a ser interpretado em cabarés, teatros e clubes e era uma mistura de comédia erótica e strip-tease.
O estilo burlesco usa elementos da comédia, do grotesco, da sátira, da sensualidade e do erotismo. Ele também é característico das décadas de 1860 a 1940, mas é popular até hoje. Burlesque se passa nos dias de hoje e o tipo de burlesco que vemos no filme é mais ligado a sensualidade e ao erótico.
Um Cabaret dos anos 2010
É impossível não relacionar Burlesque com Cabaret, porque as duas tramas são muito parecidas e tem elementos bem similares. Para começo de conversa, as duas histórias tem como centro, pelo menos no sentido espacial, um clube. Em Burlesque é o The Burlesque Lounge e em Cabaret é o Kit Kat Club. É verdade que em Cabaret, o Kit Kat Club funciona mais como uma maneira de centralizar seus personagens. Já em Burlesque, o The Burlesque Lounge tem uma importância maior, já que os personagens querem resgatá-lo.
No entanto, nos dois filmes acompanhamos performances, relativamente parecidas ou pelo menos espelhadas, no palco dos bares em questão. O enredo também não fica atrás: se em Cabaret, acompanhamos Brian (Michael York), um jovem e inocente aspirante a escritor que chega a Berlim para dar aulas de inglês, em Burlesque, acompanhamos Ali, uma jovem e inocente moça que chega a Los Angeles em busca de seus sonhos.
Tanto Brian, quanto Ali parecem chocados com o que encontram dentro dos seus respectivos bares.
Mas se o choque de Brian, um homem inglês dos anos 30, diante de uma Berlim cheia de fetiches, sensualidade e ambiguidades sexuais soa extremamente plausível, o de Ali, uma garota do interior dos anos 2010, parece um tanto quanto exagerado.
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A partir dai a história se desenrola de maneira relativamente parecida. Ali se apaixona por um dos garçons do bar, Jack (Cam Gigandet), e se torna uma grande estrela do The Burlesque Lounge, mesmo que antes ela tenha refutado todo aquele mundo e Brian, em Cabaret, se apaixona (ou tenta se apaixonar) por Sally (Liza Minnelli), a maior atração do Kit Kat Club.
Até algumas cenas dos dois filmes são extremamente parecidas, como a cena em que Sally arruma sua meia na frente de Brian, em Cabaret, e pergunta “você gosta do que vê?”, que é repetida quase nos mínimos detalhes e mesmos ângulos em Burlesque. A produção ainda conta com Alan Cumming como o mestre de cerimônias do The Burlesque Lounge. Ele é visto em uma apresentação com duas garotas. Não por acaso, Cumming interpretou o Emcee na versão do West End e da Broadway de Cabaret por anos e em Cabaret também interpreta um número com duas garotas.
Diferenças
Claro que é possível dizer que Burlesque não tem nada de inovador, uma vez que sua trama é muito parecida com a de Cabaret. No entanto, essa é uma questão que pode passar batida para quem não conhece o filme de 1972 ou até para quem não assistiu ao segundo filme muitas vezes. Na pior das hipóteses, pode chamar a atenção de novos fãs para o filme antigo, o que é muito bom.
Mas, naturalmente, é impossível dizer que Burlesque é melhor ou sequer se compara com Cabaret. Embora seja um filme divertido e prenda o espectador, ele não tem as nuances e nem trata de temas tão profundos quanto Cabaret. Cabaret é um filme que usa do bar para falar da situação de Berlim no entre guerras. O filme se passa um pouco antes da ascensão do nazismo e isso é de extrema importância na trama. Além disso, o filme fala sobre homossexualidade, bissexualidade e é, de uma maneira geral, de uma enorme ambiguidade sexual, como era a Berlim dos anos 30.
Enquanto isso, Burlesque não tem nenhuma outra trama por trás além da revitalização do bar. O filme só toca no tema da sexualidade quando mostra as performances ligeiramente andróginas do personagem de Cumming e quando Ali desconfia, a principio, que Jack é gay. Burlesque deve ser encarado então como uma grande homenagem a Cabaret e ao estilo burlesco.
Aspectos técnicos de Burlesque
Talvez a trama de Burlesque não seja extremamente bem pensada, mas a sua produção é bem feita. O filme apresenta cenários muito bonitos, e o The Burlesque Lounge é um bar que parece realista. Qualquer pessoa teria vontade de conhecer.
As cenas que mostram os números musicais então, são muito elaboradas e os cenários e figurinos no palco são lindos. Nesse aspecto, completamente diferente de Cabaret, que tem a mesma atmosfera sensual, mas que apela mais para os tons escuros, Burlesque é um filme muito colorido, o que chama a atenção do público.
Burlesque também se destaca pelo seu elenco e por suas atuações. A cantora Christina Aguilera interpreta a protagonista no seu primeiro papel no cinema e funciona muito bem. O fato de que ela canta e também dança, ajuda muito na sua atuação. Além de Aguilera, o filme também tem no seu elenco Julianne Hough (de Footloose – Ritmo Contagiante e Rock Of Ages: O Filme), Kristen Bell no papel de uma dançarina invejosa, Stanley Tucci, Alan Cumming, Dianna Agron (De Glee), Peter Gallagher e Cam Gigandet.
No entanto, o nome que mais chama atenção é o de Cher, longe do cinema desde de Chá Com Mussollini, em 1999, ela aparece como a dona do The Burlesque Lounge. Talvez Burlesque não seja a sua melhor atuação, mas é interessante ver a veterana de novo em ação.
As músicas
A trilha sonora é composta por músicas originais interpretadas pelos atores do filme. Nada mais natural, uma vez que as duas protagonistas também são cantoras.
Entre as músicas presentes estão Something’s Got a Hold on Me, Welcome to Burlesque, But I Am a Good Girl, Guy What Takes His Time, Express e Show Me How You Burlesque. Elas são interpretadas no palco, mas em muitos momentos, extrapolam e continuam na vida de seus personagens e muitas vezes, uma situação demonstrada no palco, reflete o que acontece na trama do filme, mais ou menos como -mais uma vez- Cabaret e Chicago, que também abusa da estética burlesca.
O filme também apresenta boas cenas de dança, interpretadas pelo elenco, que claramente se esforçou em seus papéis. Burlesque está longe de ser um dos melhores musicais de todos os tempos, mas é um bom entretenimento. Espere boas coreografias e músicas bem escritas.