Canário Negro: Combustão, de Meg Cabot
Uma ótima porta de entrada para jovens leitoras
Mesmo compilado em quase 140 páginas, Canário Negro: Combustão é de leitura rápida e dinâmica (não me tomou nem 20 minutos), que não só apresenta bem sua icônica super-heroína, como consegue desenvolver bem e redondamente a história, de maneira completamente eficiente para seu público-alvo: meninas ou garotas adolescentes que estão buscando entrar no mundo dos quadrinhos além do que o mercado costumeiramente oferece (mas nada impede que um homem “idoso” como eu tenha apreciado o material também).
Menos clichê do que vimos na ”Ravena” de Kami Garcia, Canário Negro coloca Dinah Lance como uma adolescente pré-colegial, que tem uma banda de garagem com suas duas amigas e precisa lidar com segredos de seus pais, enquanto descobre o que sua voz é capaz de fazer. Existe uma vilã chamada Fogueira (que eu nunca ouvi falar, mas o velho nerd da DC pode brilhar os olhos agora) e algumas outras participações, como do Pantera, da primeira Canário, citações ao Coringa, Mulher-Maravilha e Arqueiro Verde (que confesso ter estranhado não ter aparecido como colega de escola por aqui) e até ao Comissário Gordon, no qual o pai da protagonista, Detetive Lance, se assemelha bastante no traço da artista, não escapa nem o bigode (no entanto, quando ambos se encontram, ela consegue uma solução visual distinta para cada um, mas a estranha semelhança deles permanece).
Aliás, o único ponto fraco da HQ, ao meu ver, são os pais da menina mesmo. Num primeiro momento parecem guardar preconceitos com supers, a ponto de serem terrivelmente escrotos com a diretora do colégio e saindo impunes por isso (como muitos casos de pais com filhos mimados por aí), para depois se provarem orgulhosos da filha revelar seus poderes. Contradizente, para dizer no mínimo.
Canário Negro: Combustão
Mas relevando o ponto fraco dessas duas figuras, todo o resto funciona dentro de sua simplicidade mais ou menos formulaica, do professor boa praça até a diretora que não larga do pé, passando pelas duas amigas carismáticas. Meg Cabot é uma escritora bastante famosa (são muitos best-sellers, mas o mais conhecido certamente é ”Diário de Princesa”), que consegue desenvolver diálogos naturais na boca dos seus adolescentes, uma pequena jornada de autodescoberta – que consegue ser em sua maior parte mais divertida e menos dramática (porque de drama já basta o ano de 2020), com pequenas revelações aqui e ali, com direito até um festival do colégio como ponto do clímax. Nada que qualquer um já não tenha visto em uma HQ, um filme e até em uma série teen por aí, mas é bem feitinho dentro de sua premissa.
E o traço de Cara McGee, que mistura mangá shoujo tipo ”Sailor Moon” (que alguns closes entregam a influência) com aquele cartum mais moderninho a maneira de ”Lumberjanes” e especialmente ”As Três Espiãs Demais!” super funciona por aqui. Um estilo solto, leve e com cores quentes e agradáveis, a DC não poderia ter escolhido artista melhor para tal material, que aliado ao nome da autora, acaba sendo um poderoso anzol para fisgar novas leitoras – algo que a edição simples da Panini também contribui bastante.
Apesar do “graphic novel” constar na capa, a própria capa é cartonada, o formato é de um gibi da Mônica e a edição não traz nenhuma firula de luxo que pode espantar quem quer apenas ler uma boa história. E aqui vai encontrar, na medida certa.