Cascavel, suspense curto e grosso
É ao mesmo tempo uma metáfora para balança moral e um debate sobre belicismo americano
Uma mulher atravessa a estrada com sua filha pequena, até a garotinha ser mordida por uma cascavel, entrar em risco de vida e então levar sua mãe a fazer um acordo com uma figura misteriosa, que a obriga a pagar a dívida tirando a vida de algum estranho.
Com essa premissa simples, Zak Hilditch (o mesmo diretor de 1922, muito superior a este) constrói um suspense tenso e angustiante, com senso de urgência, deixando Carmen Ejogo (de Animais Fantásticos e True Detective 3ª temporada) brilhar sozinha no papel de uma mãe desesperada. Repare no olhar da atriz, mesmo em um papel que não exige tanto, ela entrega muito.
Cascavel
Com curta duração, o filme segue um roteiro redondinho entre a apresentação, a picada, o pacto (e tudo o que precisa vir em seguida disso, como aceitar o absurdo), as pequenas enrolações (indo atrás de uma arma, conhecendo a vizinhança da cidade aleatória para escolher sua vítima), até o desfecho, que para o bem da narrativa, jamais busca uma reviravolta mirabolante, portanto não estraga o resultado final, ainda que também não surpreenda.
O grande trunfo de Cascavel é sua atmosfera. O tempo todo o clima de que há algo de errado se estabelece sobre a protagonista, sobre a cidade, sobre as pessoas. Desde a mulher misteriosa que mora num trailer (que bem pode ser uma representação da Morte, ainda que a trama acertadamente não dê respostas), até o vendedor de armas que vive isolado, tudo é levemente desconfortável, desolado e surreal, mesmo mantendo os pés no chão.
As bandeiras norte-americanas espalhadas pela cidadezinha do Texas querem dizer algo, quase um grito de apelo. Assim, as silhuetas que surgem após o clímax contribuem para essa construção do realismo fantástico, terrível e triste, e provam aquilo que Neo já dizia: “escolha, o problema é a escolha”. Sempre é. Mas a vida segue adiante mesmo assim e é melhor não olhar para trás.