Cerimônias Satânicas, de T. E. D. Klein
Terror gótico
Em Cerimônias Satânicas, Jeremy Freirs é um estudante que está trabalhando na sua tese sobre literatura gótica e que logo vai começar a dar aula. Ele acha que o lugar perfeito para escrever e se preparar para as aulas é uma pequena cidade em New Jersey, chamada Gilead.
Jeremy vai morar na casa de um casal extremamente religioso, mas antes de sair de Nova York, conhece Carol Conklin, uma jovem bibliotecária, por quem ele se interessa. O interesse parece ser recíproco e os dois passam a manter contato, enquanto Jeremy continua com sua pesquisa e Carol com seu trabalho. O que eles não imaginam é que uma trama sinistra está vindo na direção deles e que os dois fazem parte disso.
Cerimônias Satânicas – O terror gótico
O livro, obviamente, se encaixa no gênero do terror gótico. Ele apresenta diversos aspectos que são bem clássicos do gênero, como o personagem que se embrenha em um lugar que não conhece – geralmente uma cidade pequena – onde ele certamente não se encaixa, e que está prestes a enfrentar uma ameaça.
O leitor sabe, desde o começo, que alguma coisa trágica e assustadora vai acontecer com Jeremy ou Carol, mas não sabe dizer exatamente o que. Klein vai jogando pistas durante o livro, mas nunca entrega tudo, o que mantém o suspense até o final. O livro também tem óbvias influências das obras de H.P. Lovecraft e está bem próximo do terror cósmico.
O diferencial
Aqui o protagonista está justamente pesquisando a literatura gótica. É comum que livros, de vários gêneros, tenham escritores como protagonistas e que livros de terror tenham escritores de terror como protagonistas. De certa maneira, isso é metalinguístico, já que em vários momentos é como se aquele personagem estivesse vivendo suas próprias histórias.
Cerimônias Satânicas segue por outro lado, pois Jeremy não fala em momento nenhum que quer escrever ficção, mas ele está completamente embrenhado em sua pesquisa de literatura gótica e isso é um prato cheio para os fãs do gênero.
Cerimônias Satânicas tem uma série de citações de outros livros de terror, que além de fazerem muito sentido dentro da trama, também são uma ótima forma de interessar o leitor em outras obras. Em determinado momento, Jeremy passa a comparar sua própria jornada com a dos personagens dos livros que ele pesquisa, o que é extremamente interessante.
Confronto de mundos
Mas o livro também é sobre o confronto de mundos diferentes. Jeremy é um homem da cidade que vai viver no interior para trabalhar. É óbvio que a vida no interior é muito diferente da vida que ele tem em Nova York e isso fica claro assim que ele começa a conviver com Sarr e Deborah Poroth, o casal dono da casa onde ele está hospedado. O casal é muito religioso e conservador. Assim, conforme Jeremy começa a conversar com Deborah, ele vai entendendo esse estilo de vida diferente da dele.
Mas nem é preciso ir muito longe, porque a própria Carol, que vive na cidade grande e tem ares de mulher moderna, não é exatamente o que parece e tem suas pequenas idiossincrasias. Quando ela começa a se relacionar com Jeremy, percebemos que ele é um homem muito mais vivido que ela, não só porque é alguns anos mais velho, mas também porque tem experiências e ideias diferentes. Carol representa a inocência e a ingenuidade, que estão longe de Jeremy há um tempo.
Jeremy e Carol
O livro é narrado do ponto de vista tanto de Jeremy, quanto de Carol, o que faz com que o leitor possa entrar na mente dos dois e entender como que eles pensam e se relacionam. Também por isso podemos ver como a maneira com que um compreende o outro não é sempre a maneira correta.
E é nesses moldes que Jeremy e Carol estão destinados a encontrar uma força ainda maior e muito antiga, o que mais uma vez faz um contraste com toda a trama. A força é antiga e faz parte de um mundo antigo, mas Jeremy, Carol e os outros personagens são jovens e fazem parte de um novo mundo, que nem parece se relacionar com o antigo. Como Cerimônias Satânicas é um livro de contrastes que estão destinados a se encontrar, é natural que isso também aconteça em todas as esferas da trama.
Considerações finais
O livro é grande (tem 637 páginas), mas sua leitura é fluida e muito rápida. Os personagens são muito carismáticos, é muito fácil se apegar a Jeremy ou Carol. E como a história traz além do terror e do suspense, pequenos toques de romance, ela não se torna cansativa. O livro deixa o seu leitor preso.
A trama não é extremamente inovadora porque, afinal, bebe em várias fontes e usa elementos bem clássicos do gênero, mas Klein faz isso bem e não se torna repetitivo. Ele consegue dar um ar inovador para aspectos que poderiam estar batidos.
O livro também não é especialmente assustador, ele tem um clima de suspense bem interessante e algumas cenas que assustam e impressionam, mas de uma maneira geral é relativamente leve, que vai agradar os fãs do gênero, e não necessariamente assustar os medrosos.
Cerimônias Satânicas apresenta personagens interessantes em uma trama que, mesmo clássica, tem inovações e o seu próprio charme.