Descendentes, um autêntico filme Disney
Fala com a voz da molecada e um toque perverso...
No reino de Auradon, Ben, o bondoso filho adolescente do Rei Fera e da Rainha Bela, assume o trono e passa a permitir que descendentes dos vilões entrem no reino pela primeira vez, para frequentarem a escola, ao lado dos filhos adolescentes da Fada Madrinha, Cinderela, Bela Adormecida e Mulan. À medida que os filhos do mal conhecem os filhos do bem, suas histórias começam a incorporar temas encorajadores relacionados à autoconfiança, beleza interior, responsabilidade e justiça.
Numa mistura inusitada de High School Musical e Harry Potter, Kenny Ortega realiza em Descendentes um filme honesto, divertido e colorido, que sabe tratar de questões pertinentes sem cair na panfletagem ou no didatismo. Consegue atingir crianças e adolescentes com a mesma força, já que seus carismáticos protagonistas falam a mesma voz dos jovens. Ou seja, com todos os cacoetes esperados na linguagem facial e corporal. Eles se envolvem em romancezinhos (sem nunca se permitirem a um beijo, no entanto) e em rivalidades típicas de ambientes escolares. Assim, o bullying toma novas formas, bem menos cruéis por aqui.
Descendentes
O maior barato desse tipo de história, porém, é revisitar os clássicos Disney, com representações bastante fiéis da Rainha Má de Branca de Neve, de Malevóla de A Bela Adormecida, do Jafar de Aladdin e até da Cruela DeVil de 101 Dálmatas (que fazem pontas engraçadinhas) e suas contrapartes, na forma dos filhos, que mantém os atributos dos pais, mas com personalidade própria. A maior questão da trama, é claro, se trata da sombra que os progenitores exercem sobre seus herdeiros. Portanto, um tema bastante pertinente quando se fala de adolescência, de relacionamentos tóxicos e de expectativas absurdas criadas pela família. O famoso “você vai virar médico quando crescer” e de como cada um pode assumir as rédeas da própria vida. Se não pela rebeldia, mas por um gesto diferente, que muda tudo.
Leia aqui sobre Kim Possible
Assim, Dove Cameron (uma versão norte-americana de Larissa Manoela) segura bem as pontas em uma hora e meia de filme, com sua protagonista Mal, uma moça sensata e dura na queda, que carrega o maior legado da história, considerando também que Malévola é a maior vilã da Disney (aqui encarnada na medida por Kristin Chenoweth). É claro que seu romance com o Príncipe Ben (Mitchell Hope, típico loirinho playboy) é clichê, mas traz a doçura e a pureza que se espera nesse tipo de produção. Portanto, atinge em cheio o público-alvo.
A lindíssima Sofia Carson está mais do que a vontade como Evie, tão vaidosa quanto a Rainha Má. Ela carrega o estigma de ser “a mulher do lar”, mas subverte isso à medida que o enredo avança. Menos destacados e funcionando mais em subtramas pontuais, temos Carlos DeVil (interpretado pelo estranhíssimo Cameron Boyce) e Jay (Booboo Stewart, que se assemelha mais a um indígena do que a um árabe). Enquanto o primeiro precisa lidar com um medo besta de cães, o segundo precisa aprender a trabalhar em equipe.
Diversão garantida
Somando-se a isso, pequenas quests pelo reino vão homenageando outras obras da Casa do Mickey. Elementos-chave que são coerentes com o andar da carruagem (de abóboras?, desculpe o trocadilho). Vemos ainda outras figuras curiosas, como a Fada Madrinha, sua filha repleta de freios, incluindo aí a família da Bela Adormecida – a herdeira Audrey (Sarah Jeffery) e a avó, Rainha Leila (Judith Maxie), numa escolha acertada de casting ao colocá-las como negras, em um ambiente predominantemente europeu-caucasiano.
No mais, Descendentes tem muito musical, entre uma cena e outra (o que é mais do que esperado de uma produção da Casa do Mickey para jovens) – somado a piruetas bem elaboradas –, uma reverência a todas as obras mais famosas da Disney e personagens de índole duvidosa, que é algo até “incomum” dentro de todo o escoteirismo intrínseco desse cenário. Sendo um filme de baixo orçamento para TV, figurinos e efeitos especiais são os mesmos de qualquer série barata, então não se apegue a isso. Coloque seu filho ou irmão mais novo no sofá e aproveite o entretenimento descompromissado.