Dom Casmurro, de Machado de Assis
Um clássico da literatura brasileira
Bento de Albuquerque Santiago, também conhecido como Bentinho, é um homem solitário, que depois de maduro, resolve pensar na sua juventude. É assim que Bentinho começa a contar para o leitor sua vida, dando ênfase ao seu relacionamento com Capitu, sua esposa, e com Escobar, seu melhor amigo, no livro Dom Casmurro.
Depois que ele e Capitu se casam e têm um filho, Bentinho começa a notar uma semelhança física entre o menino e Escobar. Assim, a partir daí, ele começa a desconfiar que Capitu e Escobar possam tê-lo traído. Dom Casmurro é, de longe, o livro mais famoso de Machado de Assis e é um clássico da literatura brasileira. A obra, que é primorosamente escrita, também já foi alvo de milhões de teorias e estudos.
É verdade que o livro tem muitas qualidades, mas a que mais chama atenção e que mais faz diferença é a narração e o ponto de vista do narrador. A trama é narrada em primeira pessoa pelo próprio Bentinho que, obviamente, conta sua história do seu ponto de vista. Ele interpreta os fatos a partir do que vê e essa é a questão chave no livro.
Dom Casmurro
Desde o começo sabemos que Bentinho é um homem ligeiramente paranoico, tímido e sisudo. É justamente daí que vem o nome do livro. Sendo assim, ele vê o mundo a partir dessas características. Ele nunca está completamente seguro da sua relação com Capitu e isso chama a atenção. Ao longo dos anos, ele vai notando cada vez mais aspectos que, segundo ele, comprovam a traição de sua esposa.
Bentinho pensa, por exemplo, que Capitu e Escobar são muito próximos, mas é possível argumentar que os dois se dão bem e se conectam através do amor que eles sentem pelo próprio Bentinho, que é o principal ponto que liga os dois. O que faz Bentinho ter quase certeza do suposto caso entre a esposa e o amigo é o nascimento do seu filho, Ezequiel que, para Bentinho, é a cara de Escobar.
Quando se lê Dom Casmurro, toda a argumentação de Bentinho parece muito plausível, mas quando pensamos que estamos escutando a história do ponto de vista dele e vendo o que ele viu e o que ele interpretou, e sabemos que Bentinho é ciumento e paranoico, e, portanto, não é um narrador confiável, fica difícil ter certeza se o que ele diz é a verdade ou que ele entendeu como a verdade e é justamente por isso que Dom Casmurro é um livro incrível.
Ciúmes
O grande tema aqui é o ciúme. O ciúme é o sentimento que movimenta boa parte da história. O narrador, Bentinho, é um homem ciumento, que tende a criar teorias. O leitor lê o livro do seu ponto de vista, portanto, não consegue dizer se o que ele diz é totalmente verdade.
Fica claro logo no começo, quando Bentinho ainda narra a sua adolescência e o começo de seu namoro com Capitu, que ele demonstra esse ciúme desde cedo. Quando Bentinho está no seminário, por exemplo, ele continua pedindo informações sobre Capitu a seu tio e, a partir disso, criando uma série de teorias na sua cabeça.
Mais tarde, depois que se casa com Capitu, Bentinho ainda não é capaz de acreditar no amor da moça, e continua remoendo as informações que tem sobre ela. O auge disso tudo é quando ele começa a desconfiar não só de sua esposa, como também de seu melhor amigo, Escobar. Bentinho então, se sente duplamente traído, primeiro pela esposa, que não respeitou o casamento dos dois, depois pelo amigo, que não respeitou a amizade dos dois.
No entanto, Dom Casmurro também é um livro com a trama em aberto, já que é impossível ter certeza do que o narrador nos diz, e que não temos o ponto de vista de Capitu ou de Escobar.
Dom Casmurro na mídia
Dom Casmurro é um dos livros mais famosos da literatura brasileira, por isso, é natural que existam diversas adaptações da obra, em diversas mídias diferentes. O livro foi a inspiração para a música Capitu, de Luiz Tatit e para uma ópera, em 1992.
A obra também ganhou uma versão em terceira pessoa, no livro Amor de Capitu, de Fernando Sabino e uma versão em quadrinhos. Na televisão, Dom Casmurro foi transformado em Capitu, uma minissérie que misturava elementos da época em que o livro se passa, com elementos modernos, como a trilha sonora composta por músicas atuais. O elenco conta com Eliane Giardini, Maria Fernanda Cândido e Michel Melamed.
Já no cinema, Dom Casmurro ganhou duas adaptações, Capitu, em 1968, com Isabella, Othon Bastos e Raul Cortez, que é uma adaptação bem fiel ao livro e Dom, em 2003, com Marcos Palmeira e Maria Fernanda Cândido, que se passa nos dias de hoje e tem uma abordagem mais moderna do ciúme e da obsessão.
Dom Casmurro é, ainda hoje, tema dos mais diversos debates e é impossível estabelecer com clareza os fatos que são apresentados no livro, mas é justamente por isso que ele é importante e que é debatido atualmente.