Love Death + Robots – Volume III
O terceiro ano recupera a qualidade do primeiro, esquecida no segundo, começando por mais um curta dos simpáticos e irônicos três robôs, que poderiam se fixar na grade da antologia, caminhando por um mundo onde a humanidade já se extinguiu, em um exercício de alerta, não de imaginação. “Viagem Ruim” é um baita conto de terror, envolvendo dilemas sensíveis em uma embarcação, certamente um dos melhores da coleção.
“Noite dos Mini Mortos” é bem engraçadinha, assim como o ultraviolento “Ratos de Mason”. Os curtas da astronauta delirando, do urso com implantes cyber e a do Enxame são o puro suco da ficção científica, ainda que não tragam exatamente nada de novo. O penúltimo, com uma equipe militar descobrindo uma caverna perversa, é um sensacional aceno a Lovecraft.
Mas é em “Jibaro” que tudo muda de figura. FENOMENAL é a única palavra que consigo encontrar para essa animação feita pelo brilhante espanhol Alberto Mielgo (o mesmo cara que fez o incrível “A Testemunha”, no vol.1 dessa antologia), que coloca um grupo de conquistadores e sacerdotes parando sua jornada nas profundezas das selvas de Porto Rico, por conta de uma misteriosa criatura feminina envolta em ouro e joias emergindo do lago.
Uma espécie de sereia, ela deixa todos em frenesi, matando uns aos outros antes de atraí-los para a morte, afogando-se nas águas profundas… menos um dos cavaleiros, que é surdo. Sem uma única linha de diálogo, Mielgo constrói essa narrativa de maneira fácil de interpretar, através de linguagem corporal, dança e ação, gestos e sons, com um design de personagens não só ultrarrealista, que rivaliza em qualidade com “Arcane”. A direção também contribui para a estranheza da situação, colocando a câmera ora próxima demais dos personagens, acelerando alguns movimentos e retardando outros. Fascinante, merece ser visto e revisto mais de uma vez.
E parece que Hollywood já cooptou o animador para futuros projetos. Fiquem de olho nesse nome. Vem mais obras-primas por aí.