MANIAC, um mergulho cerebral experimental
Você toparia ser uma cobaia?
MANIAC experimenta diferentes linguagens narrativas, para entregar um produto supostamente ousado, mas que conta uma história universal.
A trama gira basicamente em torno da ideia da criação de um medicamento que cure os maiores traumas das pessoas, supostamente resolvendo seus problemas e tornando-as psicologicamente mais funcionais. Embalado por uma estética inesperada de retro-futurismo improvável, misturando Black Mirror com Stranger Things, MANIAC mira seus holofotes em Owen, um homem com esquizofrenia paranoide; e Annie, diagnosticada com transtorno da personalidade borderline. Através das experiências, eles viajam para mundos de máfia, de fantasia com elfos e até de cultos secretos, o que ajuda a tornar o conteúdo mais palatável para o grande público, que não exatamente é o alvo do enredo.
Um ótimo elenco, mas com ressalvas
Com delicadeza e respeito aos seus protagonistas, MANIAC se revela tão lúdica quanto melancólica, entregando alguns dos melhores papéis nas carreiras de Jonah Hill e Emma Stone. Enquanto ele vai gradualmente abrindo o perfil de seu bizarro personagem, de maneira intimista e contida, ela chuta o balde com uma figura perturbada e lutuosa. Ambos são cheios de nuances e complexos o suficiente para sustentar a história, que pode parecer complicada a primeira vista, pelo menos finca-se melhor no chão graças aos seus personagens.
Algo oposto acontece com o restante do elenco, construído de maneira propositalmente absurdista, neste drama que também é uma comédia de erros. Dessa maneira, Sally Field e Sonoya Mizuno caracterizam duas figuras um tanto quanto pitorescas, que ornam bastante dentro do contexto, principalmente no que se refere ao laboratório. O mesmo não pode ser dito a respeito de Justin Theroux, que exagera na interpretação e perde a mão com seu Dr. James Mantleray, algo digno de Chaves, mas que nunca funciona na minissérie.
Entre os trunfos da produção, está a direção valorosa de Cary Fukunaga (que brilhou em True Detective e logo assumirá o novo Bond), a fotografia simétrica e delicada de Darren Lew, além do roteiro do criador Patrick Somerville, inspirado em uma série norueguesa, aqui também pontuada por um fortíssimo humor negro, que funciona do começo ao fim.
Maniac é uma experiência inusitada
Abrindo oportunidades para o diretor trabalhar diferentes narrativas, quase como mini-curtas dentro de algo maior, MANIAC é um mosaico aparentemente inacessível, que ao avançar dos 10 episódios, vai se revelando mais compreensível ao tratar não exatamente dos problemas ou das soluções, mas focando-se na sensibilidade crível de suas figuras e a maneira como elas podem lidar com a vida imutável, no poder da escolha e da superação. Nisso, a série muito se assemelha a Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças, de Michel Gondry, por isso acredito que o público seja praticamente o mesmo. Não qualquer um, apesar de tudo.
MANIAC é uma experiência curiosa, que mostra o quão plural a Netflix tem sido com suas produções, e vale uma conferida. Mas consuma com moderação.
MANIAC
Nome original: MANIAC
Elenco: Emma Stone, Jonah Hill, Sonoya Mizuno, Justin Theroux, Sally Field
Gênero: Comédia, Drama, Sci-Fi
Produtora: Anonymous Content, Paramount Television
Disponível: Netflix