Minha Bela Dama e a ascensão social

Em Minha Bela Dama, Henry Higgins (Rex Harrison) é um culto professor especialista em fonética. Um dia ele conhece Eliza Doolittle (Audrey Hepburn), uma mendiga que vende flores e sonha em trabalhar em uma floricultura.

Higgins analisa a maneira com que Eliza fala e chega à conclusão que ela jamais vai poder fazer outra coisa além de vender flores. No dia seguinte, Eliza vai até a casa do professor pedindo que ele lhe dê aulas.

Higgins aceita a proposta de Eliza e ela passa a morar na casa dele, enquanto ele se concentra em transformá-la em uma dama.

Julie Andrews e Rex Harrison na montagem original da Broadway de Minha Bela Dama
Julie Andrews e Rex Harrison na montagem original da Broadway

Minha Bela Dama – A origem

My Fair Lady é originalmente uma peça musical da Broadway, que por sua vez, foi inspirada na peça Pigmalião, de George Bernard Shaw. A peça, com letras de Alan Jay Lerner e música de Frederick Loewe, estreou em 1956.

O elenco da primeira montagem contava com Rex Harrison, Julie Andrews, Stanley Holloway e Robert Coote. Quando a peça mudou de teatro em 1958, o elenco se manteve. Minha Bela Dama ficou em cartaz por cinco anos.

A montagem original foi apresentada 2717 vezes e bateu o recorde de apresentações na Broadway na época, ganhando também cinco Tonys, inclusive o de melhor musical.

Audrey Hepburn como Eliza Doolittle
Audrey Hepburn como Eliza Doolittle

O filme

Em 1964, Minha Bela Dama chegou aos cinemas pelas mãos do diretor George Cukor. Harrison e Holloway foram mantidos no elenco, mas Andrews foi substituída por Audrey Hepburn, porque o diretor achava a segunda “mais bonita” e porque Hepburn, na época, era mais popular que Andrews.

O filme é relativamente fiel ao musical e também acompanha a saga de Eliza Doolitle, uma jovem pobre que pede a ajuda de Higgins para melhorar sua imagem e que acaba de fato, se tornando uma dama. Também existem muitos aspectos no filme que não são exatamente criativos. Fica claro desde o começo que Eliza tem potencial para se tornar uma dama (mesmo porque a caracterização de Eliza quando pobre é basicamente Audrey Hepburn desarrumada e ligeiramente suja) e a história é bem fácil de se prever.

O filme Minha Bela Dama é fiel à peça
O filme é fiel à peça

No entanto, ele apresenta questões um tanto quanto modernas, como o fato de Eliza simplesmente se mudar para a casa de Higgins, que é moderno tanto para a época em que o filme se passa, quanto para a época em que o filme foi feito. Minha Bela Dama não é um filme que entra em muitos aspectos além da ascensão de Eliza ou dos romances que se propagam daí mas, à sua maneira ele fala sobre classes sociais e suas diferenças, assim como sobre ascensão social e sobre como era a educação de uma mulher na época.

Aspectos técnicos

Minha Bela Dama é uma grande produção e foi um filme caro. A escolha de Hepburn para o papel principal deriva um pouco disso, uma vez que o diretor esperava pagar o filme com o dinheiro da bilheteria e Hepburn era mais popular que Andrews. O filme apresenta uma série de figurinos lindos e muito dentro do contexto apresentado. O mesmo pode-se dizer dos cenários. Minha Bela Dama é um filme bem clássico, tanto na sua fotografia e ângulos, quanto como é no seu roteiro.

Minha Bela Dama fala sobre ascensão social
Minha Bela Dama fala sobre ascensão social

É difícil, no entanto, comprar Hepburn como uma mendiga (assim como é difícil acreditar que ela é uma garota de programa em Bonequinha de Luxo), isso porque ela tem uma tendência a interpretar sempre a mesma personagem, seja ela uma garota de programa, uma mendiga ou uma criada, como em Sabrina. Quando Eliza já se tornou uma dama e se veste, anda e fala como uma mulher rica e da sociedade, é mais fácil acreditar no que o filme apresenta. Quando ela é mendiga, por outro lado, é um pouco mais complicado.

A caracterização de Eliza pobre também não ajuda o filme, uma vez que, como em filmes adolescentes em que as meninas consideradas “feias” só usam o cabelo preso, uma roupa ultrapassada e óculos, Minha Bela Dama apresenta Eliza no começo com o cabelo preso e ligeiramente bagunçado, uma roupa escura e o rosto um pouco sujo. No entanto, embaixo de tudo isso, ainda está Audrey Hepburn e podemos até prever como ela vai ficar depois de arrumada. Independentemente disso, ainda é um clássico que tem muitos fãs.

O longa é uma grande produção
O longa é uma grande produção

As músicas

A trilha sonora é composta de músicas escritas especialmente para o musical, que mais tarde foram usadas no longa. Os números musicais do filme estão, inclusive, na mesma ordem em que estão na peça, com exceção de With a Little Bit of Luck, que no teatro é o terceiro número musical, mas no cinema é o quarto. Busker Sequence, uma música instrumental, foi excluída do filme, embora trechos dela ainda apareçam em alguns momentos do longa.

Hepburn também não canta as músicas de sua personagem porque o diretor considerou que a voz da atriz era “inadequada”, o que reacende mais uma vez a polêmica envolvendo ela e Andrews, uma vez que Andrews cantava na versão de Minha Bela Dama para o teatro e cantou em Mary Poppins, A Noviça Rebelde e Victor e Victoria, musicais que em que ela atuou depois. Hepburn foi dublada por Marni Nixon, o que faz com que a produção de Minha Bela Dama seja, ironicamente, bem parecida com a trama de Cantando na Chuva.

Eliza antes da sua transformação
Eliza antes da sua transformação

Jeremy Brett, que faz um papel menor no filme, também foi dublado, só que dessa vez por Bill Shirley.

Entre as músicas que fazem parte da trilha sonora estão Why Can’t the English Learn to Speak?, Wouldn’t It Be Loverly?, With a Little Bit of Luck, The Rain in Spain, I Could Have Danced All Night e On the Street Where You Live.

Karen Gillan em Selfie
Karen Gillan em Selfie
O legado de Minha Bela Dama

My Fair Lady é até hoje considerada uma das melhores comédias musicais de todos os tempos, e continua sendo atuada no teatro. Aqui no Brasil, o musical chegou a primeira vez em 1962, com o nome de Minha Querida Lady, e foi estrelado por Bibi Ferreira, Jayme Costa e Paulo Autran; e depois em 2007, estrelada por Amanda Acosta e Daniel Boaventura; e mais recentemente em 2016, com Daniele Nastri e Paulo Szot.

O musical também inspirou a série Selfie, que acompanhava Eliza Dooley (Karen Gillan), uma viciada em redes sociais, que pede ajuda de Henry Higgs (John Cho) para melhorar a sua imagem. Selfie no entanto, foi cancelada antes da primeira temporada acabar, em 2014.

Cena da montagem brasileira de 2017 de Minha Bela Dama
Cena da montagem brasileira de 2017 de Minha Bela Dama

A novela Totalmente Demais, da Rede Globo, exibida em 2016, embora não seja assumidamente inspirada em Minha Bela Dama, tem uma grande influência, já que conta a história de Eliza (Marina Ruy Barbosa), uma menina de 19 anos, que foge de sua casa no interior e acaba na capital, vendendo flores, quando é descoberta por Arthur (Fábio Assunção), dono de uma agência de modelo, que naturalmente, vê potencial na menina. Uma vez que a novela foi produzida depois da série Selfie, pode-se interpretar que ela teve uma inspiração da produção de 2014, afinal, Gillan e Ruy Barbosa tem até biotipos parecidos.

É impossível negar a importância e influência de Minha Bela Dama. Mesmo que o roteiro, um tanto quanto simples, não faça mais tanto sentido nos dias de hoje, ele ainda é material para diversas adaptações, além de apresentar ao telespectador ótimas músicas e bons números musicais.

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