Mr. Robot – 1ª temporada, revolucionária, sem trocadilhos
Narrando uma história envolvente e inusitada, a série apresenta o hacker conhecido como Mr. Robot convocando Elliot Alderson, um jovem expert em programação de computadores, para dar início a um plano para acabar com a E Corp, que na história é o maior conglomerado empresarial norte-americano, com o objetivo de apagar dos computadores todas as dívidas que a população americana tem com a empresa. A trama vai além e serve inclusive como crítica ao consumismo e aos grandes ícones do capitalismo, como a Starbucks, entre outros.
O autor Sam Esmail consegue misturar elementos de outras produções para conceber uma série repleta de personalidade. Bastante enervante e com uma dramaturgia riquíssima, sua identidade visual é mais próxima do cinema, e ousa utilizar uma narrativa pouco convencional. Repare, por exemplo, nos enquadramentos incomuns, que rompem regras ao deixar um personagem muito no canto de um plano ou com o rosto na parte de baixo da tela.
Essa linguagem diferente tem uma razão de ser. Dentro de um diálogo, se um dos personagens da conversa está em uma posição subalterna, ele é mostrado de baixo para cima. No caso, aquele em uma situação superior é enquadrado de cima para baixo. Assim, esse macete fica perceptível ao longo dos 10 episódios. Mas causa o efeito desejado: desconforto, tensão, sensação de delírio etc.
As referências…
Esmail soube de onde emprestar os recursos para sua história. Ainda que o gatilho nos remeta a Neo e Morpheus, de Matrix, Mr. Robot dá passos além, mas mantém o pé no chão, e traz a perturbadora paranoia de conspiração oriunda de O Operário e até de filmes mais recentes, como o Homem Duplicado.
Mas é claro que a grande inspiração por aqui vem de Clube da Luta, tanto do discurso contra o capitalismo intrínseco à obra, quanto das revelações de dupla-personalidade e memórias guardadas devido a um trauma, pontuado na série de maneira singular, que é igual e ao mesmo tempo diferente do longa de 1999, sendo um primo de respeito dentro desse conceito. Repare ainda que o seriado se inspira não só na narrativa dos longas citados, como também na identidade visual, o que justifica as escolhas inventivas de enquadramento, fotografia e roteiro num geral.
As estrelas de Mr. Robot
O elenco é igualmente brilhante. Rami Malek é estranho o suficiente para assumir o protagonismo da produção, com seu olhar vago e perdido. Além do aspecto naturalmente doente, ele realiza aqui uma entrega muito além da conta. Christian Slater, que acabou se dando melhor em seriados, fica à vontade em seu papel fanático e sagaz. Enquanto isso, Portia Doubleday é responsável pelo coração da obra. Carla Chaikin vai demonstrando novas camadas à medida que a trama avança; e Martin Wallström assume uma figura complexa, obsessiva e perigosa, dentro de uma medida bastante crível em meios corporativos.
Mas há outras personas ali que você deve se atentar, como um dos CEO da corporação, o chefe da All-Safe, o namoradinho da amiga, entre outros. Figuras perversas e ingênuas que caminham à margem em subtramas que se coligam de maneira engenhosa. Com um roteiro redondo e eficaz, que costura todos os elementos da narrativa, fornecendo resultados impressionantes durante e até depois do fim da primeira temporada. Além, é claro, das revelações responsáveis por dar alguns nós na cabeça.
Original e única, Mr. Robot não conquistou uma legião de fãs à toa. Mas isso é só o começo.