Ms. Marvel – minissérie
A verdadeira amigona da vizinhança
Com uma identidade forte e repleta de personalidade, essa série Ms. Marvel vai muito além de um produto meramente juvenil, para apresentar uma boa construção de universo, com personagens extremamente cativantes. Direção e edição fazem opções inventivas, que remetem ao filme de Scott Pilgrim, com informações visuais saltando pela tela e complementando a narrativa, que sim, segue uma jornada da heroína, mas usando seu diferencial cultural em favor da trama.
Iman Vellani é uma das melhores adesões do MCU recentemente, cativante e simpática, a menina abraça a persona de Kamala Khan com uma desenvoltura sem igual e consegue ser uma figura jovem e heróica muito melhor do que o Homem-Aranha desse universo tentou – e jamais conseguiu.
A progressão de aprendizado de seus super-poderes, com o receio de ser descoberta, a maneira desastrada como luta (e que logo encontra um meio de fazer funcionar), e a preocupação com o próximo, ajudando e salvando todos pelo caminho (que para mim, é a base mínima de qualquer super), fazem de Ms. Marvel uma super-heroína adolescente muito mais efetiva que o teioso.
Ms. Marvel
O elenco de apoio também é fortíssimo e envolvente, mas nada supera o núcleo familiar, coração dessa série, onde residem os melhores momentos. Sim, as sequências de ação são bacanas (mesmo aquela embalada por Bon Jovi, ainda que no geral não sejam nada demais e nem precisam), mas são as trocas com os pais e irmão, conflitos e momentos humanamente críveis entre eles, que fortalecem o enredo.
É quase como se estivéssemos vendo “Eu, a Patroa e as Crianças” ou “Todo Mundo Odeia o Chris” em um universo fantástico. É extremamente significativo que a mãe de Kamala seja responsável por fazer seu uniforme final, enquanto é o pai que lhe dá o codinome, imbuído de significados. Por outro lado, o arco dos “vilões” (no caso, um deles, o djins), é pobre, mal executado e completamente atropelado, com momentos vergonhosos, que quase tiram a produção dos trilhos. Quase.
Vale a pena assistir?
A compensação, além do que já foi apontado, vem também através do uso histórico dos muçulmanos e palestinos, o evento da Partição e outros momentos que reforçam as origens de sua protagonista. A Marvel ainda precisa calibrar os poderes da Kamala, é bem verdade, afinal temos três bases aqui: pulseira que potencializa o poder (provavelmente Kree), a descendência djinn e a mutação (me parece muito para um personagem só e pode confundir no futuro; seria bom simplificar o quanto antes).
Claro que a revelação ali próxima do desfecho é empolgante e ajuda a consagrar essa interessantíssima personagem como uma das mais importantes para o futuro do MCU, mas a série não é boa só por causa do que vem depois, mas sim por tudo o que apresentou até aqui. Família, amigos e gente como a gente. Fazia tempo que a fantasia e a ficção científica não acertavam tanto.
Com diálogos afiados e bem escritos, uma edição dinâmica, abertura e encerramento criativos, humor bem dosado e pequenas doses de drama, Ms. Marvel é divertido e colorido, sim, mas vai além. E promete muito mais.