O Mundo Sombrio de Sabrina – 3ª temporada

Produção expande a mitologia, subverte os próprios elementos e abraça a profanidade com muito tesão

Depois de trancar Lúcifer no corpo de Nick Scratch e coroar Lilith como Rainha do Inferno, o mundo sombrio demoníaco se viu desestabilizado. Com isso, a força da Igreja da Noite se esgota sem as bênçãos do Senhor das Trevas. Sabrina se vê então dividida em três direções diferentes. Derrotar o príncipe Caliban do trono infernal; rejuvenescer os poderes de seu coven; e tentar proteger seus amigos mortais de criaturas pagãs que chegam em Greendale, com planos de ressuscitar um velho deus chamado Homem Verde e deixar a vida vegetal retomar o mundo.

Com muitas portas abertas na segunda temporada e suas carismáticas figuras bem estabelecidas, em um enredo divertido, repleto de humor negro e aventura, o showrunner Roberto Aguirre-Sacasa se vê livre de grilhões, ousando mais na trama, que distribui vários núcleos de personagens em quests distintas, que contribuem a todo momento para uma maior movimentação narrativa, conseguindo contar tudo o que pretende em 8 episódios de 50 minutos cada, sem jamais entrar em uma zona de conforto.

Dessa maneira, vemos Sabrina e seus amigos mortais vivendo romances colegiais, sendo líderes de torcida e realizando musicais. Enquanto isso, caçam assassinos de crianças, realizam tarefas do Inferno, participam de conspirações, vivem dramas particulares e precisam enfrentar um mal em comum.

O Mundo Sombrio

O Mundo Sombrio de Sabrina – 3ª temporada

Além do antagonismo galante representado na figura do jovem Caliban, ainda existe a ameaça de Lúcifer (aprisionado, mas nem tanto) e o perigo pontual de outros seres no decorrer da história (um sorveteiro, o Rei Herodes, Pôncio Pilatos e até Vlad, o Empalador). Enquanto de um lado Sabrina abraça mais sua dualidade (em ser uma mundana e se divertir, ao mesmo tempo que também pode viver uma verdadeira guerra dos tronos pelo poder do Inferno), Nick se torna vítima de um evento pós-traumático; Ambrose e Prudence começam a temporada caçando Blackwood pelo mundo; Zelda assume novas responsabilidades como Diretora da Igreja da Noite; e Hilda ganha dois contornos, um romântico e outro monstruoso.

Do lado mundano de Greendale, temos Harvey e Theo vivendo o drama adolescente da virgindade, em um cenário onde praticamente todos os personagens tem um arco próprio, até mesmo aqueles que não nos lembrávamos mais.

Elementos inéditos inseridos na trama do mundo sombrio também dão gás para a série. Entre eles o essencial Ovo do Tempo pego no Lago Ness; os saltimbancos circenses representando o novo inimigo; as interessantes Regalias Profanas; as bruxas solitárias que guardam habilidades singulares; a renovação do sistema de crença e muito mais.

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E o que mais?

Tudo isso aliado a novos rostos e inovações narrativas, como um passeio pela História do Cristianismo, mais referências à literatura clássica (de Dante, Baudelaire a Ambrose Bierce), passando pela mitologia grega (com Pã e o fauno, Medusa, Circe, Selene e principalmente Hecate), indo até a viagem no tempo – o conceito mais poderoso já utilizado na produção e responsável por dois dos melhores episódios da temporada (o 7 e o 8, é de explodir cabeças), a medida que fortalece o discurso de empoderamento feminino sem panfletagem gratuita.

Com tantas subtramas e ousadias, certamente os furos aumentam no enredo, inclusive sendo perceptíveis até mesmo para o mais desatento espectador. Problemas estes que jamais oneram a qualidade da série, que se mantém em alta com um legítimo entretenimento profano, maior e melhor, se estabelecendo como um clássico pop tal qual Buffy foi para a geração noventista. E o que pode vir agora, senão Cthulhu? Assim esperamos.

O Mundo Sombrio de Sabrina - 3ª temporada

Nome Original: Chilling Adventures of Sabrina
Elenco: Kiernan Shipka, Ross Lynch, Lucy Davis
Gênero: Drama, Fantasia, Horror
Produtora: Archie Comics Publications, Warner Bros. Television
Disponível: Netflix

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