O Rei do Show – Inspirado na vida de P.T. Barnum
O Rei do Show é inspirado na história real de P. T. Barnum, o homem que criou o Barnum’s American Museum. P.T. Barnum (Hugh Jackman) é um sonhador que deseja abrir um museu de curiosidades. Entretanto, sua empreitada dá errado, mas sua esposa Charity (Michelle Williams) e suas filhas (Austyn Johnson e Cameron Seely) se mantém ao seu lado. Barnum então, tem a ideia de criar um freak show, repleto de atrações.
Phineas Taylor Barnum nasceu em 1810, e se tornou um pequeno empresário aos 20 anos, quando criou um jornal. Logo ele abriu o seu primeiro show de variedades chamado Barnum’s Grand Scientific and Musical Theater, que ele expandiu quando comprou o Scudder’s American Museum, que batizou com seu nome mais tarde.
O museu funcionava como uma forma de popularizar as suas atrações, que eram em sua maioria, fraudes, mas o lugar também foi o primeiro a ter um aquário e ele expandiu o departamento do museu de cera. O que fez Barnum famoso, no entanto, foi o circo P. T. Barnum Grande Museu, Zoológico e Hipódromo Itinerante, que era uma mistura do circo como conhecemos hoje, com museu de freaks e zoológico.
O Rei do Show
Quando colocado no contexto dos dias de hoje, as atrações de Barnum podem soar um pouco problemáticas, uma vez que o que ele chamava de freaks (ou aberrações) eram, muitas vezes, pessoas com mutações genéticas, mulheres barbadas e anões. Quando se vê com os olhos da época, no entanto, percebe-se que embora rotulasse seus empregados, ele lhe dava condições decentes de vida e empregos, o que não era comum. Também é importante ressaltar que antigamente o circo estava muito ligado aos freak shows. Esse tipo de emprego era o que restava às pessoas que eram consideradas aberrações.
Barnum também era abolicionista, o que faz dele uma figura relativamente progressista para a sua época. Ele morreu em 1891, deixando quatro filhas e sua segunda esposa. O seu circo foi vendido para os irmãos Ringling e virou o Ringling Bros. and Barnum & Bailey Circus e existe um museu, em Bridgeport, com muitas das curiosidades de Barnum.
Freak Show
A carreira de Barnum foi de fato diversa, mas O Rei do Show prefere se focar na sua relação com o circo. Então, acompanhamos todos seus esforços para se tornar um empresário do ramo do entretenimento. Embora o telespectador acompanhe os diversos shows do empresário, O Rei do Show fala muito mais dos famosos freak shows. O filme apresenta uma série de pessoas que eram consideradas freaks na época, que aceitam trabalhar no show de Barnum. Entre eles estão uma mulher barbada (Keala Settle), um anão (Sam Humphrey), um homem tatuado e até dois irmãos que são negros (Zendaya e Yahya Abdul-Mateen II).
Existem diversas obras audiovisuais que representam freak shows, como Monstros e American Horror Story: Freak Show, e geralmente de maneira negativa ou em narrativas de terror. Não é o que acontece em O Rei do Show que, embora mostre as dificuldades e os preconceitos que seus personagens enfrentam, também mostra como eles são acolhidos pelo homem, diferenciando seu protagonista das outras pessoas que viviam na época.
Viva a diferença
O Rei do Show bate muito na tecla das diferenças. Mesmo apresentando pessoas que hoje em dia não seriam consideradas diferentes, elas ainda são parte de minorias. Mas o filme destaca que mesmo pessoas que não seriam consideradas freaks, ainda são diferentes, e que devemos abraçar essa diferença. Ele só usa de personagens com aparências físicas, antes consideradas estranhas ou bizarras, para que isso fique mais claro.
O longa também clama para que todas as pessoas parem de se esconder, e essa é uma mensagem que se reflete nos dias de hoje, quando pensamos, por exemplo, que ela pode bater diretamente em uma pessoa que tem dificuldade para se aceitar como é, seja por sua aparência, identidade sexual ou por suas opções. A música This is Me, que faz parte da trilha sonora do filme e que tem um número musical bem poderoso, fala sobre isso de maneira muito bonita.
Boas mensagens
O Rei do Show também tem uma pequena tentativa de falar sobre racismo, embora não se aprofunde no tema. A trama presenta um romance entre Anne, a personagem de Zendaya, que é uma mulher negra, que trabalha no show de Barnum e Phillip (Zac Efron), um homem branco e rico. Anne não parecer ter nenhuma vergonha de quem é e compreende que o preconceito que sofre é errado e absurdo, enquanto Phillip tenta lutar contra si mesmo e aceitar o que sente por Anne.
Certamente o filme apresenta uma mensagem bonita e válida, especialmente para os dias de hoje, em que o mundo se torna cada vez mais intolerante, e que em muitos sentidos, conversa com os pensamentos de Barnum, mas fica claro que o longa tenta melhorar um pouco mais a imagem de um homem, que embora fosse moderno para a sua época e de certa maneira, muito mais humano que os demais, ainda usava pessoas como atrações de circo.
Aspectos técnicos
Diferentemente de muitos musicais, O Rei do Show foi pensado diretamente para o cinema, e por isso, ele não teve que encarar diversos problemas que aparecem quando se adaptada uma peça para as telas. O filme é repleto de efeitos visuais e de cenários grandiosos, que são muito bonitos e bem representados. Seus cortes são rápidos e sua montagem é quase frenética, característica de um filme que quer comprimir uma história grande em um tempo razoável.
Tanto por seus cenários, quanto por sua montagem, este musical lembra um pouco Moulin Rouge – Amor em Vermelho, outro musical feito direto para o cinema. O Rei do Show também mostra bastante cuidado com os figurinos, que além de muito bonitos, fazem referência à época em que o filme se passa e são historicamente acurados.
A trilha sonora é composta de músicas feitas especialmente para o filme, e entre elas estão A Million Dreams, From Now On, Rewrite The Stars, The Greatest Show, The Other Side e a linda, This is Me. O filme também tem uma série de números de danças, inclusive um protagonizado por Zendaya e Zac Efron, em um trapézio, que é muito interessante.
Nem tudo é perfeito
No entanto, o filme tem alguns problemas. Embora seja uma grande produção, com um elenco de peso, que já esteve, em sua maioria, envolvido com produções musicais, parece que falta emoção ao filme. Talvez porque sua história seja baseada em uma história real, que por mais inspiradora que seja, tem restrições; talvez porque ele não tenha como base um roteiro forte como os musicais provindos da Broadway e da Off-Broadway. A impressão que se tem é que o filme é só uma casca, mas sem muito recheio.
As músicas que fazem parte da trilha sonora também não são tão cativantes ou memoráveis, com exceção de This is Me, que é a música mais emocionante do longa e que resume a premissa do filme. Os números de dança, embora mirabolantes, parecem, em muitos momentos, feitos no computador, como a cena entre Jackman e Efron.
Não existe dúvida sobre o talento dos dois atores e muitos menos sobre suas habilidades de dança. Jackman começou sua carreira no musical Oklahoma e fez muito sucesso em The Boy From Oz, ambos no teatro. Mais recentemente estrelou Os Miseráveis. Já Efron começou a carreira em High School Musical e já esteve envolvido em outras produções do gênero, como Hairspray – Em Busca da Fama, mas os passos de dança que os dois exibem parecem coreografados demais e nem um pouco realistas.
O legado de O Rei do Show
Sendo um musical pensado para o cinema, não existem montagens de O Rei do Show no teatro ainda, mas existe um boato de que ele logo deve chegar aos palcos da Broadway, e mais tarde ao West End, e que o próprio Jackman pode reprisar o papel principal.
O Brasil no entanto, saiu na frente e já tem uma versão para o teatro programada, ainda sem data de estreia. Murilo Rosa terá o papel de P.T. Barnum.
Certamente O Rei do Show retrata uma história interessante e que combina com o gênero musical. O filme tem uma ótima produção e aspectos técnicos impecáveis, mas falta o coração da trama, a chama que faz a plateia querer cantar e dançar junto, que é tão essencial em um filme musical.