O Som do Silêncio – Um filme original da Amazon
Drama isola homem moderno através das ironias
O primeiro filme escrito e dirigido por Darius Marder conta a história do baterista Ruben, que tem uma banda de heavy metal com sua namorada. Os dois estão prestes a começar uma turnê pelo país, quando então ele começa a perder a audição.
Riz Ahmed (que você viu em ”Rogue One” e ”Venom”) está ótimo no papel do protagonista que vai perdendo um dos seus sentidos vitais – principalmente para a carreira e como sua negação afeta toda sua trajetória do começo ao fim.
O ator carrega um olhar ao mesmo tempo irado e pesaroso, o tempo inteiro inconformado. Sendo também seu personagem um ex-viciado, vemos indícios de tal comportamento voltando à tona aqui e ali, de uma figura que parece não ter aprendido nada com as experiências que teve durante a jornada.
Olivia Cooke e Paul Raci estão ótimos no elenco de apoio, ainda que seus papeis não surtam qualquer efeito sobre um homem que não pretende mudar.
O Som do Silêncio
Marder é um nome para se ficar de olho. O diretor estreante tem uma câmera sutil, que sabe trabalhar o drama. Os zumbidos aqui e ali e a falta plena de som em dados momentos, realmente perturbam – positivamente – na experiência cinematográfica. Um recurso, aliás, que se tivesse sido usado durante toda a sessão, teria reforçado mais o lado sensorial da obra; faltou coragem, afinal, poderia espantar boa parte do público, que aqui já é bem nichado.
Mesmo assim, o cineasta elabora outras situações auditivas tecnicamente interessantes, como quando mostra o ponto de vista do protagonista em silêncio, mas quando afasta a câmera em um plano aberto, retorna ao som, do qual seu personagem não é mais capaz de ouvir. Em outras, ouvimos por dentro da cabeça de Ruben, com ecos opacos e incompletos ou repleto de chiados, o que aproxima o público comum de compreender minimamente o outro lado.
Mais considerações
Mesmo o filme sendo de curta duração, ainda parece ser mais longo do que realmente é, dado a grande barriga que se forma no segundo ato. É compreensível o tom documental que o diretor adota aqui, na intenção de mostrar a rotina dos surdos, mas ela, da maneira como foi apresentada, não deixa de ser enfadonha.
De qualquer maneira, o fôlego é retomado próximo ao fim, inclusive no final inevitável, quando o protagonista compreende que para aceitar a condição, não existe cura, mas é necessário abrir mão da vida anterior e se entregar para a que está por vir.
Assim, o drama proposto em O Som do Silêncio é um interessante exercício criativo sobre as experiências da comunidade surda.