Oliver! – Inspirado na obra de Charles Dickens
Oliver! acompanha o jovem Oliver Twist (Mark Lester), um órfão que após pedir mais comida aos supervisores do orfanato é vendido para o Sr. Sowerberry (Leonard Rossiter), dono de uma funerária. O Sr. Sowerberry quer que Oliver trabalhe como seguidor de féretro em enterros de crianças, mas o garoto consegue escapar e nas ruas conhece Jack Dawkins (Jack Wild), conhecido como Artful Dodger que o apresenta a Fagin (Ron Moody), um ladrão que abriga uma série de crianças, mas que as obriga a roubarem para ele.
A história de Oliver Twist já é conhecida por boa parte das pessoas, mas a origem do musical já não é tão conhecida. A obra original é, naturalmente, o livro de Charles Dickens, mas o filme por sua vez, é inspirado no musical da Broadway de mesmo nome, que também é inspirado em Twist.
Oliver! estreou em West End em 1960, estrelado por Ron Moody, Georgia Brown e Barry Humphries. Keith Hamshere interpretou o primeiro Oliver, mas o papel passou na mão de outros garotos ao longo dos anos, incluindo Phil Collins. Já Martin Horsey foi o primeiro Artful Dodger, mas até Davy Jones, dos Monkees chegou a interpretá-lo. Steve Marriott, que depois ficou famoso nas bandas Small Faces and Humble Pie, também atuou no musical. Oliver! chegou à Broadway em 1963, também com Davy Jones no elenco e foi indicado a dez Tonys. O musical ganhou revivals no West End em 1977, 1983, 1994 e 2009. Na Broadway, ele teve um revival em 1983. Em 2011, a peça fez um tour pelo Reino Unido. Além disso, Oliver! já ganhou montagens na Alemanha, no Japão, na Austrália, na Estônia, em Israel, na Bélgica, na Síria e nos Emirados Árabes.
Oliver Twist
O personagem principal de Oliver Twist é justamente Oliver. Ele é um órfão que é vendido para um agente funerário e depois foge, se encontrando nas ruas, até que precisa recorrer a pequenos furtos para sobreviver. O musical dá uma simplificada na história de Dickens, porque seria difícil desenvolver uma trama muito complexa em meio a músicas e números musicais.
O personagem de Fagin, por exemplo, que no livro é o vilão e é de fato, terrível, no musical ganha uma persona muito mais cômica do que vilanesca. Essa escolha faz muito sentido quando se pensa em musical. Os vilões de musicais tendem a ser mais divertidos e cantarem músicas que possam fazer a plateia rir, mas nem tanto quando se pensa em todas as questões que Oliver Twist aborda.
Mesmo para um musical, que geralmente trabalha em uma atmosfera fantasiosa e muitas vezes fantástica, Oliver! apresenta aspectos bem realistas e que falam sobre aspectos sociais da sua época.
Questões sociais
Toda a obra de Charles Dickens é conhecida por tratar de questões sociais da Inglaterra no século XIX e essa não é exceção.
A obra denuncia a situação dos órfãos e dos orfanatos, que são assuntos bem comuns nos livros de Dickens e aparecem em David Cooperfield e Grandes Esperanças. As condições em que o menino vive no orfanato são quase, ou até mais precárias do que as que ele vive nas ruas.
Dickens segue falando sobre a situação das crianças que vivem na rua, e dos trabalhos que elas são obrigadas a fazer para sobreviverem. Em Oliver Twist, as crianças servem basicamente às necessidades dos adultos, tanto que Oliver é vendido pelos donos do orfanato, trabalha para o agente funerário, e rouba para Fagin.
O livro e, consequentemente, o musical retratam um período da história onde as crianças eram tratadas como adultos pequenos e onde nem se pensava em direitos ou proteção para elas. É um mundo surreal para quem vive nos dias de hoje e através de obras como Oliver Twister e Oliver! podemos ter acesso a isso. Oliver! pode dar uma amenizada no conteúdo do livro, porque é divertido, alegre e cheio de cantoria, mas ainda apresenta a realidade nua e crua de uma criança órfã que rouba para sobreviver.
Aspectos técnicos
Esta é uma grande produção e é possível ver isso pelos figurinos e cenários. O filme reconstrói o século XIX e as suas roupas. Os figurinos são escuros e opacos, afinal, refletem uma parcela pobre da população que vive na tragédia. As roupas mais coloridas são as de Nancy (Shani Wallis).
Existe uma polêmica que circunda a obra de Dickens e se transfere para Oliver!. Fagin, o vilão, é geralmente associado ao povo judeu. No roteiro não existe nenhuma alusão clara a isso, mas os atores que interpretaram Fagin no musical depois de Ron Moody são em sua maioria judeus. A descrição do personagem também pode dar a entender isso. O ator que representa Fagin deve usar uma prótese de nariz grande, uma barba que lembra a de um rabino e falar com sotaque iídiche. Para completar, o Fagin do filme tem uma representação um tanto cômica, que tira do filme questionamentos importantes, como se um homem que se aproveita de crianças deveria ser retratado como um palhaço.
O musical também não faz muito para mudar a ideia preconceituosa sobre os judeus que está presente no livro, e reforça alguns estereótipos absurdos. Mesmo assim, Oliver! ainda é uma crítica ao trabalho e ao abuso infantil, só que faz isso através de números musicais.
As músicas
As músicas que fazem parte da trilha sonora são as mesmas do musical. O filme, no entanto, omite as músicas I Shall Scream, That’s Your Funeral, My Name e boa parte das reprises que estão presentes na peça. As músicas Boy for Sale e Where Is Love foram ligeiramente modificadas. Entre as músicas que tocam no filme estão Oliver, Oliver!, Where Is Love?, Consider Yourself, I’d Do Anything, Be Back Soon e As Long as He Needs Me. Os números musicais são grandiosos e repletos de dança, e levam a história para frente. Oliver! é um musical com muitas músicas.
A trilha sonora da primeira parte é animada e divertida, mesmo que o tema do filme seja o exata oposto disso. Já a da segunda parte é um pouco mais melancólica e mais próxima do assunto sobre o qual o filme trata. Oliver! é uma adaptação mais moderna do clássico de Charles Dickens, que ainda faz as mesmas denúncias que a obra original.
https://www.youtube.com/watch?v=4EEyGTgEtZQ