Pacificador – 1ª temporada
A mistura de piadas de quinta-série com ação gore deu super certo nessa proposta de James Gunn para um personagem obscuro da DC. Mas o Pacificador da série lembra pouco o do filme mais recente do Esquadrão Suicida, já que o diretor busca fundamentar o “matar pela paz” do personagem (que era uma piada que não precisava de explicação, se considerar a base proto-fascista da figura) e passar um pano danado, com ele seguindo em uma jornada de desconstrução.
Só que ao contrário de Johnny Lawrence de Cobra Kai, que é um conservador escroto e que vai se empatizando ao longo do tempo e de maneira naturalizada (sem qualquer didatismo pedante), Christopher Smith sai da figura de vilão (reforçada ainda mais no longa onde foi apresentado) para herói (sem o anti-), de uma maneira forçada, mas que funciona no final das contas, muito em conta pelo carisma bobão de John Cena e seu elenco divertido de coadjuvantes (em especial o Vigilante — que apesar de um genérico do Deadpool, é muito melhor do que o próprio — e a atrapalhada e fofa Adebayo).
Pacificador – 1ª temporada
A série também sabe lidar com seus temas, a começar expondo os discursos de ódio através do abominável neonazi Auggie Smith/Dragão Branco do grande Robert Patrick (que podia render muito mais, a bem da verdade), da conscientização ambiental e de sobrevivência através das borboletas-aliens (que ainda que evoquem sagazmente um lance à lá “invasores de corpos”, também ecoam fracamente as mesmas criaturas de Starro do filme de origem), e a abordagem sobre criação (paternalista, através do protagonista, ou maternalista, entre Adebayo e Amanda Waller) — que reforça que muitos dos traumas que levamos para a vida adulta e carregamos em vida, se originam em nossa infância.
Com sequências de ação de primeira, piadas imbecis que divertem, um glam rock assumidamente engajador na trilha e efeitos acima da média, Pacificador se consolida como uma série que não inova o gênero, mas injeta gás a ele — funcionando, em grande medida, tal qual foi também com O Mandaloriano da Disney, justamente por vir em pílulas semanais, o que comprova que o formato antigo de se apresentar séries, ainda é mais efetivo do que a maratonagem.
Mas claro, nada nesse mundo, nem antes nem depois, vai superar a abertura dessa produção. Mais envolvente e viciante do que qualquer dancinha do tiktok. Recomendo.