Peça teatral: Billy Elliot – O Musical
Uma história sobre dança, sonhos e preconceito
Durante a greve dos mineiros britânicos, em 1984, Billy Elliot (Richard Marques/Pedro Sousa/Tiago Fernandes), um garoto de 11 anos, faz aulas de boxes para agradar seu pai Jack (Carmo Dalla Vecchia). Um dia, ele fica até mais tarde no ginásio e participa da aula de ballet de Mrs. Wilkinson (Vanessa Costa).
Billy então descobre que, na verdade, ele gosta mesmo de dançar. Assim, começa a frequentar as aulas, mas escondido de seu pai e de seu irmão Tony (Beto Sargentelli).
A origem de Billy Elliot – O Musical
Billy Elliot é, originalmente um filme dirigido por Stephen Daldry que, embora narre exatamente a mesma história da peça, não é um musical. Em 2005, Billy Elliot virou um musical, com texto e letras de Lee Hall, que também foi roteirista do filme, e músicas de Elton John. Billy Elliot estreou em West End no mesmo ano.
Billy Elliot – O Musical foi um sucesso enorme em Londres e em 2008 chegou a Broadway, onde também teve êxito. O musical ganhou 10 Tonys e teve montagens na Austrália, na Coreia do Sul, na Noruega, na Holanda, na Dinamarca e na Islândia.
A peça também foi onde Tom Holland, o atual Homem Aranha começou sua carreira. Ele entrou para a produção em 2008, no papel de Michael Caffrey, o melhor amigo de Billy. Já no mesmo ano estreou no papel de Billy.
Boxe x Ballet
Este é um musical de contrastes. Acompanhamos Billy, este menino de 11 anos que é órfão de mãe (Sara Sarres), que vive com o pai, o irmão mais velho e a avó (Inah de Carvalho). Tanto Jack, o pai de Billy, quanto Tony, seu irmão, trabalham como mineiros. Justamente por levarem uma vida de trabalho pesado, e também devido aos costumes da época e do local (uma cidadezinha pequena na Inglaterra) se tornaram homens duros, que não demonstram muitos sentimentos ou qualquer delicadeza.
É natural que o pai de Billy queira que o menino lute boxe, embora fique claro desde o começo que Billy detesta lutar. Mas a peça deixa muito claro o contraste que existe entre Jack, Tony e os outros mineiros e Billy e o seu melhor amigo Michael (Paulo Gomes/Felipe Costa/Tavinho Canalle). Não que os meninos sejam representados de maneira mais delicada, eles só são representados como personagens mais sensíveis.
Dançar é vida!
Quando Billy descobre o ballet e que ele não só gosta de dançar como também tem uma grande facilidade para isso, ele também descobre que pode externar seus sentimentos e suas paixões, diferentemente de seu pai e seu irmão. É através da dança que Billy, um menino crescendo em uma cidadezinha pobre da Inglaterra, criado por homens extremamente masculinizados e preconceituosos, cujo futuro seria ter o mesmo trabalho que todos os homens da sua família, tem a chance de se tornar um homem muito melhor e muito mais evoluído que os seus pares.
O contraste não aparece só na relação de Billy com os homens da sua família, mas também em cenas em que assistimos à polícia, que tenta conter a greve dos mineiros, e os mineiros entrarem em confronto. Tudo isso ao mesmo tempo em que acompanhamos a delicadeza das pequenas bailarinas que fazem aula com Billy.
Seja você mesmo
Billy Elliot – O Musical também fala da importância de ser fiel a você mesmo. Billy começa a fazer aulas de ballet meio a contragosto, porque ele também acredita que ballet é coisa de menina ou no máximo de “bichas”, como ele mesmo diz. Mas conforme o tempo vai passando, ele vai percebendo que não é nada disso. Ele também se dá conta que a única coisa que quer para sua vida é ser bailarino. Independentemente do que as outras pessoas possam pensar ou da proibição de sua família.
As letras das músicas e o texto da peça defendem veementemente a ideia de que devemos seguir os nossos sonhos e fazer o que queremos, sem se importar com o que os outros possam pensar.
Conforme Billy toma coragem e deixa às claras o que ele deseja, seu pai e seu irmão vão se amolecendo. E uma coisa que a princípio parecia absurda, vai se tornando mais palpável. Billy Elliot – O Musical fala sobre ter a coragem para se tornar você mesmo.
Preconceito
O preconceito também é um assunto forte na peça. É quase natural que um bando de mineiros, nos anos 80, acreditem que ballet é uma atividade apenas para mulheres ou para homens gays. Mas isso não quer dizer que a opinião deles é aceitável ou razoável. Billy, no entanto, está lá para provar que nada disso é verdade.
É interessante que, embora esse estigma da homossexualidade paire sobre a cabeça de Billy durante boa parte da história, esta não é uma peça de conteúdo LGBT. O próprio Billy, no começo, tem preconceito em relação a ballet e fica claro durante a peça (e no filme, mais claro ainda) que Billy não é gay, já que ele se interessa por Debbie (Helô Aquino/Luisa Bresser), filha de Mrs. Wilkinson, passando a mensagem de que não é porque ele se interessa por uma atividade que é tradicionalmente considerada feminina, que isso tem qualquer relação com a sua sexualidade.
No entanto, a peça toca nesse assunto através de Michael, o melhor amigo de Billy, que, assim como ele, não gosta de boxe. Em determinado momento, Michael aparece usando as roupas da irmã e até demonstra um interesse amoroso por Billy. Curiosamente, o garoto, que se assume como gay para Billy, não tem qualquer interesse por ballet.
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Billy, o menino que gosta de meninas, mas também gosta de ballet. E Michael, o menino que usa roupas tradicionalmente femininas e se identifica como gay, mas não gosta de ballet. Essas são duas ótimas maneiras de se quebrar estereótipos. Também é ótimo que a peça retrate um garoto de 11 anos que já se identifica como gay. Embora ele saiba que isso pode ser considerado um problema em sua comunidade, ele também sabe que na verdade, não existe nenhum problema com ele. Tanto que em sua música solo, Michael canta sobre ser ele mesmo e incentiva Billy a fazer o mesmo.
Aspectos técnicos de Billy Elliot – O Musical
O musical chega ao Brasil de maneira bem fiel à sua montagem original. As versões em português das músicas foram feitas por Mariana Elisabetsky e Victor Mühlethaler (responsáveis também pela música de Wicked, A Pequena Sereia e Cantando na Chuva). A cenografia é concebida por Michael Carnahan e ganhou uma releitura especial para os palcos brasileiros.
Muitas coisas chamam atenção na peça e nem poderia ser diferente, já que o espetáculo é uma grande produção. Por não ser um musical clássico da Broadway, onde as músicas são quase tão famosas quanto a trama, Billy Elliot – O Musical poderia facilmente cair em um limbo de musicais com músicas ruins, mas não é o que acontece. As letras combinam muito bem com a história e foram muito bem adaptadas. As músicas pendem mais para o jazz, assim como as coreografias.
As coreografias são um aspecto à parte da peça. Nada mais natural, uma vez que a produção quer falar sobre um jovem bailarino. Elas misturam jazz, sapateado e ballet e são realmente de cair o queixo. A cena mais famosa da peça, a que Billy voa, também está reproduzida na versão brasileira e é linda. O espectador também acompanha cenas muito bem produzidas em que as pequenas bailarinas dividem o palco com os mineiros e os policiais.
O que se espera de um musical
O cenário é composto por escadas que se locomovem pelo palco. Ou seja, é duro, frio e escuro, assim como alguns dos personagens da peça. E, tudo isso, mais uma vez, faz um enorme contraste com as aulas de ballet e os sonhos de Billy de se tornar bailarino.
Um musical é sempre uma experiência extremamente envolvente. É exigido um enorme talento de qualquer pessoa que faça parte do elenco ou da produção. Para os atores, os papéis, em sua maioria, exigem além da atuação, canto e dança. Então é sempre impressionante acompanhar um espetáculo como esse. No entanto, sempre que assistimos a uma peça desse tamanho com crianças no elenco, essa sensação é ainda maior.
O elenco adulto está ótimo, mas é impossível ofuscar o elenco infantil. Desde as jovens bailarinas que fazem figuração, mas que também cantam, dançam e representam, até os atores que interpretam Michael e Billy, que tem números e falas maiores na peça.
Tanto Michael, com extensas cenas de atuação, sapateado e canto, quanto Billy, com cenas de atuação, sapateado, ballet, canto e até acrobacias, demonstram um incrível domínio de cena e de seus papéis. O talento das crianças é enorme e é impossível não sair do teatro boquiaberto.
Billy Elliot – O Musical fala sobre a importância de ser você mesmo e de lutar pelos seus sonhos. Ele é, ainda hoje, extremamente relevante e cada vez mais importante. O fato da peça ser extremamente bem produzida e um grande entretenimento só torna tudo melhor ainda. A peça está em cartaz no Teatro Alfa, com sessões de sextas, sábados e domingos, até o dia 30 de junho. Para mais informações, consulte: http://www.teatroalfa.com.br/espetaculo/billy-elliot-o-musical/