Sandman – A Série!

A obra-prima dos quadrinhos e de Neil Gaiman ganha uma adaptação apaixonada, que consegue se manter fiel às suas bases, para o alívio dos fãs, enquanto arrebata novos sonhadores.

Ainda que a série da Netflix tenha a mesma cara de qualquer outra da plataforma (vide Umbrella Academy, Locke & Key, Sombra e Ossos, The Witcher, note como todas tem a mesma fotografia genérica), é na essência que essa produção acerta, pois mantém tudo o que as HQs originais trouxeram e estabeleceram, sem tirar nem pôr, e mesmo quando acrescenta, ainda é com respaldo de seu autor (que está por trás do piloto e envolvido nos bastidores), o que confere a autenticidade da obra.

Por isso, uma maior participação do Coríntio, meio que coligando todos os eventos da primeira temporada, não incomoda e faz mais sentido como um produto audiovisual, já que os quadrinhos sempre funcionaram de maneira mais episódica, quase como se algumas edições ocorressem de maneira individual.

Sandman – A Série!

As representações desse pesadelo, assim como de Sonho, Morte, Lucienne, Desejo, John Dee, Gilbert, Roderick Burgess, Barbie e Rose Walker, além do corvo Matthew, é claro, estão excelentes e com atuações marcantes, à medida que Lúcifer e Constantine, por exemplo, não funcionam jamais, mas também não atrapalham o andamento.

Nesse sentido, deixo meus aplausos para Tom Sturridge (que convence e expande a figura de Morpheus com seu vozeirão e sua interpretação que denota evolução, de uma figura sombria e soturna, e que pouco a pouco vai “ganhando humanidade”); Vivienne Acheampong e Boyd Holbrook são de longe as melhores adesões do elenco; Kirby Howell-Baptiste e Mason Alexander Park são basicamente os personagens dos gibis em tela; David Thewlis assombra; e Vanesu Samunyai nos conquista com sua atuação naturalista e simpática.

A produção de Gaiman, David Goyer e Allan Heinberg (outros dois caras super acostumados com adaptações de quadrinhos) ainda entrega 10 episódios bem dosados, que englobam certinho os dois primeiros encadernados de Sandman: “Prelúdios e Noturnos” e “Casa de Bonecas“, oferecendo grandes momentos do streaming, como os episódios 5 e 6 em especial, mas também o duelo no Inferno, materializando o que é dito, uma escolha brilhante e de bom uso para o audiovisual. Muitos enquadramentos também são lindos de se ver e quase dá para se comparar com as páginas dos gibis, provando que a fidelidade ao material de origem vai muito além do roteiro e também na arte.

Sandman poderia dar passos mais ousados nas questões estéticas (como elementos góticos, new wave e pós punk, como lembraram meus colegas) e sonoras (mesmo contando com uma envolvente trilha sonora de David Buckley, ela ainda caminha por um trajeto seguro), mas sua narrativa ainda funciona como dramaturgia por um público não só oriundo das HQs, mas também sedendo por boa fantasia. E vamos sonhar, porque isso ainda não nos custa nada.

https://www.youtube.com/watch?v=fUg4xE-7LyM&ab_channel=NetflixBrasil