Tempo – filme de M. Night Shyamalan inspirado em HQ
O visionário cineasta M. Night Shyamalan nos traz com Tempo um novo filme de suspense arrepiante sobre uma família em férias que descobre que a praia isolada onde eles estão relaxando está, de alguma forma, os fazendo envelhecer rapidamente… e isso pode reduzir suas vidas inteiras em um único dia.
Se você gosta de filmes com histórias malucas, este é uma boa pedida. A trama de Tempo traz momentos divertidos em família, o comportamento inocente das crianças, discussões dramáticas de relacionamentos, estereótipos de vários tipos, críticas à sociedade e à burocracia, tudo sempre com uma aura bem presente de um suspense que te faz roer as unhas.
Tempo é dirigido e produzido por M. Night Shyamalan, o famoso diretor de O Sexto Sentido, A Vila, Sinais, Corpo Fechado, Fragmentado e Vidro, entre outras obras amadas e odiadas. Eu tenho a tendência a gostar de seus filmes, e confesso que pouca coisa que ele tenha feito me desagradou. Aqui ele escreveu seu roteiro se baseando na história em quadrinhos “Castelo de Areia” de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters.
Castelo de Areia
Pierre teve a ideia para “Castelo de Areia” guardada na gaveta por mais de 20 anos. Uma história que nasceu de sua vivência na praia de Gulpiyuri, perto do distrito de Naves, no município de Llanes, uma região peculiar da província de Oviedo, nas Astúrias, Espanha. Para ele, essa praia era um lugar incrível, mágico, como uma grande jaula de zoológico moderna, bem organizada e arejada. Uma espécie de armadilha fantástica para turistas.
Sendo assim, um dia ele pensou em escrever uma narrativa sobre veranistas encurralados em uma praia, perdidos em uma dimensão do espaço onde o tempo teria mudado de escala. Influenciado também pela história de O Anjo Exterminador, filme de 1962 do surrealista Luis Buñuel, Pierre decidiu que a melhor forma de trazer essa trama à tona seria em formato de quadrinhos.
Na história em quadrinhos, Frederik Peeters dá atenção a dois aspectos no desenho: corpos e cenários, afinal, na trama, os corpos mudam – crescem, envelhecem, definham – e o cenário natural, não. Ele declarou em entrevista que essa não é só uma questão da trama em si, é uma das ideias centrais, até mesmo a essência de “Castelo de Areia”: a natureza fica, nós não.
Tempo
O filme segue essa linha e vai ainda mais além. Os personagens representam vertentes da humanidade, polos ideológicos, com algumas variações étnicas. Temos o médico rico e arrogante de Rufus Sewell, o pai com preocupações ecológicas e estatísticas de Gael García Bernal, o rapper negro perseguido de Aaron Pierre, a esposa troféu que só pensa em aparência de Abbey Lee, entre outros.
Claro que existem clichês, mas que filme que consegue ser totalmente inovador, não é mesmo? Dizem também que Shyamalan queria esconder que estava trabalhando em uma adaptação de um quadrinho até começar a divulgar o filme, que ele nem usou o mesmo nome. O que eu acho compreensível, pois ler a HQ antes de ver o filme pode estragar vários momentos. Então, neste caso, ele imitou sua maior referência, Alfred Hitchcock, quando do lançamento de Psicose.
Temos, então, algumas famílias e uma porção de estranhos selecionados pelo gerente do resort onde estão hospedados, para passar um dia nessa praia isolada, com suprimentos oferecidos pelo hotel. As crianças brincam, todos tomam sol e se divertem, até o aparecimento misterioso de um cadáver. Depois disso, muitas outras ocorrências igualmente misteriosas virão, inclusive o descobrimento do combo “envelhecimento precoce + cura acelerada”.
O elenco
Além dos já citados, temos Vicky Krieps (de Trama Fantasma), Ken Leung (de Lost), Nikki Amuka-Bird de (O Destino de Júpiter), Alex Wolff (de Hereditário), Embeth Davidtz (de The Morning Show), Eliza Scanlen (de Adoráveis Mulheres), Emun Elliott (de Prometheus), e Thomasin McKenzie (de Jojo Rabbit). E a participação do diretor, claro, como ele gosta de fazer sempre.
No posfácio da HQ, o jornalista Érico Assis faz algumas perguntas, entre elas a que mais abrange a filosofia que a trama traz: por que uma história que não segue lógica realista nem nos dá explicações consegue nos deixar pensando na vida, na morte, nos amores, nos amigos e no que nos resta da existência?
O que acabou dando mais ênfase ainda a todas essas questões, foi a equipe se pegar pensando na pandemia do Novo Coronavírus e no medo da contaminação, da morte, mesmo sem ter nada a ver com a trama. Acabou existindo ali essa relação com a realidade que vivemos. Isolados, com medo, sem certeza de nada.
Tempo estreia hoje, dia 29 de julho, nos cinemas e é uma ótima pedida para os amantes do suspense, do trabalho de Shyamalan, de trilhas sonoras tensas, tramas intensas e um pouco de filosofia.