The End of the F***ing World – 2ª temporada
Rebeldia juvenil é substituída por processo de amadurecimento, em uma continuação dispensável, mas ainda agradável
Enquanto a primeira temporada de The End of the F***ing World colocava os jovens James (Alex Lawther) e Alyssa (Jessica Barden) em uma road em busca de propósitos enquanto se gerava o caos pelo caminho (culminando com um desfecho poderoso), sua continuação completamente inédita (pois toda a HQ de Charles Forsman já foi adaptada no ano anterior) abre mão da tragédia em troca de continuar vivendo, para superar traumas e lidar com o que a realidade tem a oferecer, em um retrato visceral sobre a psique humana.
Portanto, a dicotomia sobre as duas temporadas é evidente. Enquanto na primeira tínhamos algo meio “Bonnie e Clyde encontram Tarantino” (portanto um Amor à Queima-Roupa adolescente), esta nova desacelera o ritmo, enxuga seu elenco e dá voltas em si mesma para permitir que seus protagonistas cresçam.
Embalado por uma trilha sonora gostosinha e um trabalho de fotografia e direção de arte preciso em seu contexto surreal (com tomadas lentas e quase contemplativas), essa parte 2 tem entre as boas adesões a moça Bonnie (não a do Clyde), interpretada pela ótima Naomi Ackie, que assim como a dupla protagonista, é estranha e cheia de expressões pausadas (e fruto do abusador do ano anterior, deixando sua solidão como terreno fértil para o desespero).
The End of the F***ing World 2
Praticamente todo o primeiro capítulo se preocupa em apresentar a antagonista antes de voltar a atenção para o jovem casal (que também guarda lá suas surpresas). De qualquer maneira, fica evidente que ela é mais um recurso narrativo da jornada de James e Alyssa. Ou seja, não é parte essencial da trama, o que não diminui o impacto de sua presença, ora curiosa, ora intimidante. No mais, agora os 8 episódios, mesmo com 18 ou 24 minutos, pesaram mais, pois não se tem tanta história para contar. Então fica a impressão de certa enrolação no roteiro.
Mesmo sendo uma continuação desnecessária, a segunda temporada de The End of the F***ing World não desperdiça o talento de seus personagens, todos quebrados (James literalmente, enquanto Alyssa consegue ser cativante mesmo por trás de sua fachada combalida), tornando relevante suas jornadas, bastante humanizadas e, espero, dando a eles um desfecho digno e otimista. Comum, mas fofo. Não precisa mais do que isso.