The Last Days of American Crime, na Netflix

História confusa se arrasta por mais de duas horas sem saber onde quer chegar, com ação pobre e narrativa ultrapassada

Dirigido por Oliver Megaton (que fez mais da metade dos filmes genéricos de ação das últimas duas décadas, com qualidade variada), The Last Days of American Crime é uma adaptação dos quadrinhos de Rick Remender (texto) e do brasileiro Greg Tocchini (arte). A trama é ambientada em um futuro próximo.

Como resposta final ao crime, o governo norte-americano resolve transmitir um sinal cerebral que impossibilita a prática de atos ilegais. Um ladrão de bancos, Graham Bricke, se junta ao famoso descendente de gângster Kevin Cash, e à hacker do mercado negro Shelby Dupree, para cometer o assalto do século e o último crime na história americana antes que o sinal seja disparado e acabe com todas as atividades criminosas.

Apesar da sinopse vender uma ideia interessante, o roteiro jamais consegue explicar direito como funciona essa tecnologia de bloqueio cerebral. Mas ainda mais confuso é o tal “plano de assalto do século”, do número excessivo de personagens que aparecem e da grana envolvida. Eu fui completamente incapaz de compreender tal vaivém e também o que a impressão de dinheiro tem a ver com o assalto e vice-versa.

The Last Days of American Crime

The Last Days of American Crime

O enredo não se esforça em me explicar essa bagunça e eu, enquanto espectador, também não me esforcei em compreendê-lo. Outro ponto que jamais se justifica é a longuíssima duração, de quase duas horas e meia; não existe história para tanto e todo o melodrama proposto pelo casal principal não tem força para tanto. E por fim, as cenas de ação não são nada inspiradas nem empolgantes (em uma década marcada por “Velozes e Furiosos” e “John Wick”, espera-se no mínimo algo próximo de tais). Megaton já fez melhor com bem menos.

O que é bem estranho, por sinal, já que no clímax, de repente tudo fica ultraviolento, em uma violência gratuita injustificável. Até então, o protagonista mal havia pego numa arma e, quando muito, dado um tiro (por aqui, só os vilões ou anti-heróis estavam fazendo isso). É quase como se a trama tivesse virado do avesso ou trocado de diretor, a dicotomia é perceptível e forçada. Uma pena, já que o primeiro ato e o começo do segundo ato até estavam seguindo por um rumo interessante e instigante, que depois é completamente abandonado do meio para o final.

The Last Days of American Crime
Não falei?

Clichêzão

Os personagens seguem o pior tipo de clichê possível, daqueles descarados mesmo. Édgar Ramírez faz o típico mocinho durão que nunca sorri e é de poucas palavras; Michael Pitt é o loucão pouco confiável que não tem nada a perder (e que possui uma reviravolta que até agora eu não entendi); e Anna Brewster, usada e abusada como uma mulher era usada e abusada nos anos 1990: hiperssexualizada, servindo como objeto para todos (todos mesmo) os homens em tela em algum nível, sempre destacada na câmera nas curvas ou semi nudez da atriz (o que é compreensível em um produto oriundo de seu tempo, soa inacreditável em um material de 2020).

Com dezenas de personagens soltos e perdidos em tela (para que diabos serve aquele policial de cavanhaque que ganha até subtrama, afinal, minha nossa?), clichês e estereótipos com sabor datado e uma ação mal acabada, The Last Days of American Crime (que poderia muitíssimo bem receber a tradução literal no título de “Os Últimos Dias de Crime na América”, né Netflix?) é um escapismo de última categoria, que entretém no começo e desaponta dali em diante, provando que o crime não compensa, nem mesmo para seus pobres personagens.

The Last Days of American Crime

Nome Original: The Last Days of American Crime
Direção: Olivier Megaton
Elenco: Neels Clasen, Edgar Ramírez, Tony Caprari
Gênero: Ação, Crime, Thriller
Produtora: Radical Studios, Mandalay Pictures, Radical Pictures
Distribuidora: Netflix
Ano de Lançamento: 2020
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