The Politician (1ª temporada) – A juventude de um político
Payton Hobart (Ben Platt) é um jovem que sonha em ser presidente dos EUA e, para isso, ele tem todo um plano traçado na cabeça. O primeiro passo é ganhar a eleição do comando do grêmio estudantil de sua escola. Tudo parece estar a favor de Payton, até que seu adversário River Barkley (David Corenswet) se mata. A então namorada dele, Astrid (Lucy Boynton), decide se candidatar, o que torna a disputa cada vez mais acirrada.
A primeira temporada de The Politician se passa quase que inteiramente em uma escola de classe alta americana. Um universo bem particular, que soa até absurdo para a nossa realidade, sobrevive dentro da escola. O protagonista da série é Payton, filho adotivo de Keaton (Bob Balaban) e Georgina (Gwyneth Paltrow). Ele tem toda a sua vida planejada e um sonho ambicioso: ser presidente dos Estados Unidos.
Enquanto isso não acontece, Payton se contenta em ganhar a eleição da escola. Porém, diferentemente das eleições do grêmio de boa parte das escolas, as eleições aqui são levadas muito a sério. Payton tem a sua própria equipe, composta por Alice Charles (Julia Schlaepfer), sua namorada, McAfee Westbrook (Laura Dreyfuss) e James Sullivan (Theo Germaine), que analisa com minúcia tudo que diz respeito a esse assunto.
The Politician
O outro aluno que também está concorrendo é River Barkley, por quem Payton está apaixonado, e que só está participando da eleição por influência de sua namorada, Astrid. Quando River se mata e Astrid resolve tomar o lugar do namorado na eleição, Payton precisa se esforçar mais ainda para ganhar.
The Politician tem dois problemas referentes a toda a questão escolar. O primeiro é universal e diz respeito ao elenco da série, que não parece nem um pouco com adolescentes do colegial. É normal que em produtos audiovisuais pessoas mais velhas interpretem adolescentes. E é o que acontece aqui, os atores tem entre 25 e 33 anos, e aparentam a idade que tem.
O que não ajuda nem um pouco é o fato de que eles não se vestem como adolescentes, e não se comportam como adolescentes. Tudo isso faz com o espectador tenha a sensação de que está acompanhando uma série que se passa, no mínimo, em uma faculdade e, por isso, fica um pouco difícil de acreditar que aqueles personagens estão no colegial.
O segundo problema diz mais respeito à cultura brasileira e faz com que não só toda a questão da eleição estudantil pareça superdimensionada, assim como boa parte das ações dos personagens, como também a escola por si só, soe surreal demais.
A eleição
O grande tema da série é a aspiração política de Payton, e a primeira temporada é especialmente focada na eleição estudantil. Uma vez que os personagens levam a eleição muito a sério, as técnicas que eles usam para vencê-la são dignas de uma eleição nacional. Depois que River se mata e Payton começa a perder votos, ele decide que precisa arrumar uma vice candidata que cause comoção no público e convida Infinity Jackson (Zoey Deutch), uma estudante pobre que tem câncer e que se comporta como uma criança.
A partir daí, tanto Payton, quanto Astrid se mostram mais do que dispostos a expor qualquer escândalo que possa prejudicar o outro. Certamente tudo piora quando surge um boato de que Infinity está saudável e finge estar doente para conseguir coisas de graça.
De certa maneira, a série fala com a política americana, uma vez que apresenta candidatos extremamente competitivos e uma eleição muito polarizada, mas tudo fica muito na superfície, porque embora o assunto principal de The Politician seja política, a série, em muitos momentos, se perde nas vidas de seus personagens e nas milhares de tramas que vão surgindo ao longo da temporada.
Os personagens
A produção tem muitos personagens e todos eles são construídos mais ou menos da mesma maneira. Eles parecem uma coisa, mas são outras, mais ou menos como acontece com políticos da vida real. A ideia é boa, mas em alguns casos, se perde no caminho.
Payton, por exemplo, é o político ideal. Ele se dá bem com todo mundo, é ambicioso e parece sempre estar feliz, mas na sua vida pessoal ele tem um problema com o pai e com os irmãos (Trevor Mahlon Eason e Trey Eason). Ele também é inseguro e tem alguns problemas de autoestima.
Payton está claramente apaixonado por River, seu adversário, mas ele mantém um relacionamento que, aparentemente, é de fachada, com Alice. A questão é que durante a série a gente não tem muita certeza do que exatamente Payton quer em relação a sua vida romântica. No começo, ele parece nem se importar muito com a namorada, e a impressão que se tem é que ele quer uma “primeira dama” ideal, mas ao longo da série, de repente, ele fica completamente apaixonado por Alice.
E o que mais?
Claro que Payton pode ser um personagem bissexual e amar River e Alice ao mesmo tempo – o que seria bem interessante -, no entanto, a série se esforça tanto para estabelecer a relação de Payton e River e tão pouco a de Payton e Alice, que quando a segunda ganha mais foco, soa bem artificial.
Astrid, por sua vez, é uma garota rica, mimada e que tem tudo que quer. Ela é a imagem perfeita da típica patricinha de filme americano, mas logo notamos que embora ela seja maldosa e cruel, ela é triste e solitária. Infinity, a garota doente, se comporta como uma criança mas, quando pode, se encontra com seu namorado secreto, Ricardo (Benjamin Barrett) e grava sex tapes.
E o próprio River, que é bonito, simpático e carismático, quase um Kennedy do ensino médio, também guarda os seus segredos, como uma possível depressão que o leva ao suicídio, a dificuldade de ser ele mesmo e, claro, o que ele sente por Payton.
Aspectos técnicos de The Politician
A primeira temporada começa bem, e os primeiros episódios prendem o telespectador. Payton é um político linha dura, mas ele ainda tem carisma e, em muitos momentos, parece disposto a melhorar a vida dos alunos da escola. Entretanto, ao longo do caminho, a série vai se perdendo um pouco. Não desenvolvem completamente os vários lados dos personagens. Além disso, muitas vezes o roteiro se contradiz.
A série também tem aspectos muito claros de outras séries de Ryan Murphy, como os cortes rápidos, as situações absurdas e os números musicais que soam quase aleatórios. Glee, outra série de Murphy, era repleta de momentos absurdos que, dentro da trama, faziam algum sentido e que a audiência normalmente passava por cima porque se interessava em outros aspectos da série.
The Politician é uma série com a qual é um pouco mais difícil se identificar pois o universo onde ela se passa já é surreal. Nos apresentam situações que não parecem nem um pouco reais, então ficamos sem entender e não compramos a história.
The Politician e suas bizarrices
Os números musicais não fazem o menor sentido aqui. Embora se passem única e exclusivamente no palco e sejam poucos, eles são colocados no contexto de uma série que não é musical e que nem fala de música – nenhum personagem de The Politician demonstra qualquer interesse além de política. Eles soam como uma forma um tanto estranha de mostrar o incrível talento de Ben Platt, que começou sua carreira na Broadway. Os números são impecáveis, e Platt é, de fato, muito talentoso, assim como a cena em que ele canta Vienna, de Billy Joel é uma das melhores da série, mas tudo parece muito deslocado.
A parte técnica da série é bem cuidadosa. Os figurinos são bem pensados e conseguem demonstrar a personalidade dos personagens. Lembrando que a trama se passa em uma escola de classe alta e que por isso, tem algum sentido que os alunos frequentem as aulas usando grifes e com roupas que soam quase adultas, embora isso não ajude a plateia a acreditar na idade desses personagens.
O elenco
As atuações são boas também. Lucy Boynton é a perfeita garota malvada e Zoey Deutch se sai muito bem nos dois extremos de sua personagem. Até as atuações que parecem mais apáticas, como as de Laura Dreyfuss e Julia Schlaepfer fazem sentido dentro da trama e dão mais complexidade às suas personalidades.
O grande destaque, no entanto, é Ben Platt, que é o protagonista e que consegue aproximar a plateia quando está em momentos íntimos e baixa a guarda, e irritar a plateia quando está sendo o político nato que é.
Embora tenha uma premissa interessante e se segure por um tempo, The Politician vai perdendo um pouco do ritmo ao longo da temporada e se confunde nas suas tramas no meio do caminho. A série não é ruim, mas dá uma decepcionada no espectador que vem acompanhando com interesse.
A primeira temporada de The Politician está disponível na Netflix.
https://www.youtube.com/watch?v=z7eeYNB5bio&ab_channel=NickelFilmes