Tsé, a incrível história de Tsecha Szpigel
No documentário Tsé, Fábio Kow conta a história de sua avó, Tsecha Szpigel, imigrante polonesa que sobreviveu ao holocausto sendo empurrada para fora do trem que a levava para o campo de extermínio pela própria mãe.
Uma história extraordinária
O Brasil é um país formado por imigrantes, portanto é natural que existam diversas histórias de imigrantes por aqui e muitas delas, existem apenas na memória de netos e bisnetos desses imigrantes, mas o que torna a história de Tsé tão interessante?
A história de Tsecha Szpigel (apelidada de Tsé) é de fato extraordinária e impressionante e o documentário surge da vontade de seu neto, Fábio Kow, de falar sobre essa pessoa incrível que foi sua avó.
Nascida na Polônia nos anos 20, em uma família judia, Tsé foi batizada com outro nome, e foi alvo de perseguição nazista durante a segunda guerra. A história dela começa quando ainda é uma adolescente, separada do pai e mandada com a mãe para um campo de extermínio. Mas Tsé não chega ao campo, pois é empurrada pela mãe, em uma tentativa de salvar a vida da filha. É dessa maneira que ela se torna a única da sua família a sobreviver ao holocausto.
Relação com a avó
No entanto, existem outras forças por trás da vontade de Fábio de contar essa história. A vontade de conhecer mais sobre a sua origem também é algo que aparece de maneira bem clara no filme e é uma característica comum a todos que são descendentes de imigrantes. Fábio chega até a ir à Polônia para pesquisar mais sobre a história da avó e, automaticamente, de si mesmo.
Outro ponto, e que talvez seja o mais forte e mais emocionante, é a relação de Fábio com sua avó. Logo que o documentário começa, o diretor, em narração off, nos explica que durante a sua infância ele passava muito tempo na casa da avó, ouvindo suas histórias e comendo da sua comida. Isso soa como a experiência da maioria das pessoas com suas avós e também é dessa maneira que histórias tão terríveis sobre a crueldade humana como a de Tsé se tornaram histórias queridas para Fábio.
Não que a história não seja emocionante, ela é, e é muito impressionante também, e merece ser contada, mas a relação de Fábio e Tsé e conseqüentemente de todos os netos com suas avós também merece, porque o sentimento de reconhecimento da plateia é quase imediato.É impossível sair da sessão sem lembrar da sua própria avó e é nesse momento que o filme fala com toda a audiência.
Aspectos técnicos de Tsé
Fica claro que esta não é uma grande produção e parece que a intenção na realidade era focar na história da biografada mais do que em questões técnicas. Portanto, o filme é apresentado de três maneiras diferentes: com a própria Tsé, filmada pelo neto, contando a sua história; com imagens de arquivo de filmes, reportagens e de vídeos caseiros da família de Fábio; e com desenhos que representam a história. As três maneiras fazem um certo contraste entre si.
Os desenhos, por exemplo, são extremamente profissionais e bem feitos, enquanto as entrevistas e os vídeos são amadores. Naturalmente que os vídeos caseiros da família, mesmo que filmados pelo próprio diretor quando mais novo, teriam essa aparência. Por outro lado, as entrevistas com a avó, feitas mais recentemente, poderiam ser um pouco mais cuidadosas.
O documentário entrevista vários familiares de Tsé, desde filhos, até os bisnetos e dá ao espectador uma visão de como ela era vista e admirada entre os seus familiares.
Afinal, este não é um filme sobre o holocausto, embora ele seja a razão de todos os entrevistados nesse filme existirem, é um filme sobre luta, sobrevivência e amor.
Tsé entra em cartaz no dia 12 de setembro.