The Old Guard – Charlize Theron com um machado
E isso é tudo que você precisava e não sabia
Baseado nos quadrinhos de mesmo nome do famoso roteirista Greg Rucka (um título que nem de longe é sua obra mais conhecida), The Old Guard, o novo filme da Netflix, chega de uma forma semelhante a “Resgate” e “Esquadrão 6”, intencionando então criar uma nova franquia, com produções que são a cara da plataforma, que agora não tem, nem depende mais de Marvel ou DC.
Assim, a trama segue Andy, uma mulher imortal que lidera um grupo de outros como ela em missões pelo mundo através dos séculos. Dessa forma, o enredo se divide em dois temas: a descoberta de um novo imortal e o confronto contra a empresa que quer capturar os protagonistas em busca de seu DNA.
The Old Guard
Reparou? Não existe absolutamente nada de inovador na história, que segue batidas infestadas de clichês espalhadas durante toda a rodagem. A saber, você pode ticar cada item: uma supercorporação maligna mal intencionada; um grupo pequeno de desajustados que sobrevive como pode, com contatos e grandes habilidades; um novo integrante que serve como os olhos do público e contribui para a compreensão do que é apresentado; o traidor; a badass etc.
Mas uma coisa que sempre digo e continuarei falando para sempre, é: o clichê não é um problema, é uma ferramenta. Se o autor souber usá-lo a favor da narrativa, a trama só tem a ganhar. Pois então, Gina Prince-Bythewood (diretora de longeva carreira, com “A Vida Secreta das Abelhas”, “Nos Bastidores da Fama”, “Antes Que eu Vá” e de alguns episódios da série “Manto & Adaga” etc) conduz com mão firme as impressionantes sequências de luta e ação (que misturam pistolas, espadas e machados) com boas doses de drama espalhados aqui e ali (focados nos dramas passados de seus personagens).
A direção de uma mulher
Não existe uma identidade visual ou algum estilo marcante no DNA de Prince-Bythewood, que replica John Wick e Matrix em suas sequências e estruturas, fazendo a personagem da carismática Kiki Layne seguir didaticamente a Jornada do Herói, enquanto que o patético vilão de Harry Melling (o primo Duda de “Harry Potter”, que cada vez vem escolhendo melhor seus papeis, ainda que não seja o ponto forte por aqui) emula o mesmo adversário já visto uma centena de vezes em outros filmes do gênero.
Matthias Schoenaerts, Marwan Kenzari e Luca Marinelli estão bem; Chiwetel Ejiofor consegue oferecer uma figura complexa de intenções nada simples, mas este longa é de Theron. À vontade no papel de uma mulher durona, à maneira de Furiosa em “Mad Max” ou Lorraine em “Atômica“, a estrela consegue se entregar física e emocionalmente nessa história, que tem entre seus trunfos a rica mitologia.
Apesar dos fatores históricos não serem tão bem abordados como poderiam (deixando um enorme gostinho de “quero mais”), eles servem para sustentar o enredo e seguir adiante na missão do dia. Já a imortalidade (que traz efeitos semelhantes à cura rápida de Wolverine) é voltada mais para ação. Ainda assim permite pequenos ganchos para o futuro e para um mínimo senso de gravidade, quando um dos protagonistas “gasta” toda sua infinitude.
Vale a pena?
No mais, a diretora segue a toada de outras produções de sucesso do streaming. Ou seja, usa e abusa de mortes horrendas e muita violência gráfica, que dado o tom da obra, não chega a ser gratuito, entrando em contexto com as ocorrências; além de uma boa representatividade (feminina, de orientação sexual e de raça) bastante orgânica e nada panfletária, dando voz e espaço para figuras riquíssimas em tela.
Sem qualquer inovação e reaproveitando elementos de outros longas do tipo, The Old Guard ganha em diversão e com seu alto valor de entretenimento, reafirmando Charlize Theron como uma mulher fantástica, que nunca vai morrer para o público.